Pular para o conteúdo principal

Postagens

Voltando pra casa

Foram quase duas semanas vividas intensamente pelas ruas de Paris. Mais do que passar o meu aniversário aqui, esta viagem foi o presente que Neca e eu nos oferecemos para celebrar os nossos trinta anos de casamento, foi exatamente neste dia de maio que, em 1984, nos conhecemos, justamente em uma festa de aniversário. Quando vi a moça linda com jeito tímido entrar pela porta o meu coração disparou de imediato e, sem o menor constrangimento, passei a frente de todos, inclusive da aniversariante, para recebê-la e lhe oferecer uma taça de vinho. Nunca mais desgrudamos. Em três décadas a gente viveu de tudo e qualquer casal com mais de dez anos de vida conjugal entende bem o que estou dizendo, também testemunhamos o mundo ao nosso redor se transformar radicalmente, até fomos trabalhar juntos para tornar ainda mais compartilhadas as nossas vidas e, enfim, sobrevivemos. De Paris já postei muito, todos os dias, agora quero falar da volta pra casa. Hoje a meia-noite a gente parte para o...

Morrer vivo

Falem o que quiserem do Paulo Coelho, mas ninguém pode negar que ele tem um talento especialíssimo para sintetizar boas ideias com originalidade. Digo isto pensando em uma frase que li outro dia em uma entrevista do nosso controvertido escritor, quando perguntado sobre o que pensava da morte. - Quero morrer vivo. Esta foi a resposta do mago das palavras, tido como escritor medíocre por muitos mas para matar a todos de inveja, um sucesso mundial. Morrer vivo é uma ideia fantástica. Significa, como ele mesmo explicou, estar ativo e funcional até o último dia. Algo assim como as recentes mortes do ator José Wilker e do narrador Luciano do Vale. Quem morre vivo, frita o seu ovo, seu bife e faz o seu cocô sem ajuda alheia até o fim, paga suas contas e cuida da grama do jardim, diretamente ou por delegação direta. Ontem passei o dia no hospital com minha mãe, um exemplo de obstinada dedicação à individualidade familiar e à liberdade pessoal em vida, agora literalmente presa ao leit...

Tribos

Apesar das dissonâncias da vida e da inevitável necessidade de cuidar da sobrevivência, própria e do clã que escolhemos para integrar, eu não gosto de me queixar da sorte. Ao contrário, agradeço à Divina Providência por estar na companhia de quem elegi e pelos repetidos sinais de que estas escolhas, muito mais do que os fatos em si, sempre foram o traço mais assertivo da minha intuição sobre as pessoas em geral. Assim aprendi a valorizar a intuição como a forma mais sutil da inteligência. De resto é ralação e aquela parte que eu imagino ser o retorno metafísico. Pois bem, esta reflexão toda é para dizer que chegaram com 2014 alguns novos vizinhos no condomínio onde eu moro, coincidentemente bem próximos da minha casa. A Monique, o Gustavo e a Carol, na casa ao lado e, quase em frente, a Sol e a Jadhe. Espontaneamente nos tornamos amigos. Sim, tudo muito rápido e natural. Fazer amigos nunca foi uma dificuldade especial para Neca e eu, mas com o tempo a gente vai ficando mais se...

Pra não dizer que não falei de flores.

A vida anda tão difícil, é tanta violência e superficialidade que a gente quase esquece de que ainda existe o espírito de solidariedade entre boa parte das pessoas. Na noite da última quarta-feira, cerca de 23 horas, eu e minha mulher vínhamos trafegando na Avenida Beira-Rio, já próximo ao novo estádio do internacional, quando dois rapazes de moto nos alcançaram e buzinaram para me chamar a atenção. O carona apontou para o chão, abaixo do meu carro e o piloto gritou "está saindo faísca debaixo do teu carro!". A Neca me pediu que estacionasse mas falei pra ela que poderia ser um assalto e segui apesar dos avisos. Em seguida um automóvel me alcançou, baixou o vidro e o motorista gritou me alertando de fogo e fumaça.  Aí não tive dúvida, liguei o sinal de alerta e busquei a lateral da pista. Tão logo desliguei meu automóvel e um carro encostou atrás com as luzes piscantes também ligadas, reparei que se tratava de um casal. Saí do carro e fui abrir a frente para conferir o...

Geração Y

Eles são contratados como estagiários mas vão te impressionar de imediato com o uso pessoal que fazem das novas tecnologias de comunicação, aliás todos possuem o último modelo de iPhone. Quando o assunto de uma reunião for sobre as redes sociais você verá que todos utilizam uma nova rede ainda não popularizada, mas ainda assim utilizam o Twitter e o Facebook, sendo natural que possam estruturar e administrar fanpages de qualquer tipo de operação de negócios ou entidades, afinal eles encaram o uso das tecnologias com naturalidade e te fazem acreditar que já nasceram conhecendo tudo que precisa saber sobre marca. Você ficará estupefacto com tamanha desenvoltura e perceberá que pode dispensar todos os seus assessores analógicos, caros e ultrapassados, afinal a garotada o convenceu que você está fazendo tudo errado e que sua companhia está condenada ao extermínio. Então você toma a sua grande decisão depois do churrasco de domingo. Na segunda-feira pela manhã avisa a secretária para ...

Ser pobre é cool

Época estranha, para dizer o mínimo, esta em que estamos vivendo. A busca pelo condomínio residencial mais bacana, pelo carro dos sonhos, pela carreira bem paga e respeitada, pelo cônjuge de catálogo, pelos filhos perfeitos, pela silhueta da hora, pelas roupas de grife e pelas viagens mais desejadas – um estilo classe média com aspiração de rico que está ficando cada vez mais difícil de bancar e pouco divertido de usar, até para quem pode, pelo preço que se paga. O jeito então é andar na contramão como quem foge de feriados longos e das praias apinhadas de gente. Ser simples e low profile é a grande sacada. Não é preciso morar na favela nem virar contraventor, mas se aproximar do povo simples e fazer parte dele para ganhar autenticidade. Ter uma casinha confortável com um jardim e uma horta cuidados com carinho, comprar o pão naquele armazém da rua e conversar com os vizinhos, passear com o cachorro e fazer amizades com as pessoas nas ruas e praças, trocar receitas com os...

O fator Benicio

Sem nenhum preâmbulo, tia Zaíra me diz em meio à muvuca que tomara conta do galpão crioulo no Rancho da Condessa, “a minha família é mesmo incomum”. Falou tudo e falou bem. Os Benicios são descendentes de um tronco comum que mantém o hábito de se visitar e de se curtir como família há quatro gerações, no mínimo. E não é pouca gente. Na conjunção Benicio da Fonseca entram famílias de vários estados brasileiros, principalmente na conexão Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Todos se acompanharam crescer, casar, ter filhos, separar, casar de novo, agregar novos filhos, e depois os netos chegando, crescendo e a tribo aumentando e se espraiando. E o fenômeno é autêntico, todos os primos veneram seus tios e tias que, por sua vez adoram receber e retribuir este carinho, assim vai se transmitindo o costume aos quem vêm depois. Neca e eu nos tornamos agregados desta família, um privilégio que muito apreciamos. A convivência está fechando vinte anos e se torna ca...