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Mostrando postagens de novembro, 2010

O tempo que resta

Recebi a notícia da morte do Fernando por telefone. Aos 48 anos, no auge da carreira e cheio de vida, Fernando parte após um bravo combate de meses contra um câncer fatídico, do tipo que não faz concessões. Encarou estoicamente sua tragédia pessoal e atendeu as mensagens de email dos colegas de trabalho até sua última centelha de consciência e força. Procurou todas as alternativas de cura, médicas e transcendentais, mas jamais lamentou seu destino o que me faz pensar que seu espírito partiu cristalino. Da última vez que falamos ele me fez refletir sobre o tempo que nos resta, dizendo que encarava cada novo dia como um presente supremo da vida. Desde o diagnóstico que alterou suas perspectivas ele passou a valorizar cada naco de vida e se deu conta de quanto tempo gastou com preocupações pobres de significado diante do que realmente importa para a verdadeira existência. O Fernando era um sujeito bem acima da média: inteligente, culto, muito divertido e um conciliador nato. Convivi pouco

Bem-te-vi

Parei para tomar um cafezinho de quase reunião com meu valoroso sócio e amigo André na cafeteria térrea do prédio onde funciona nosso escritório. A mesa da “catrefa” fica à entrada de uma galeria que mede pouco mais de quinze metros de profundidade e tem uns seis metros de altura. Pois lá no alto, pousado no parapeito de uma abertura para entrada de luz, estava um estressado bem-te-vi. Descansava um pouco e em seguida fazia vários voos em busca da saída para o espaço aberto, extenuado pelo exercício voltava a pousar em algum outro ponto nas alturas. Pobre bem-te-vi, não conseguia distinguir a saída para a qual bastaria dar um voo rasante na direção certa para depois arremeter ao sabor da liberdade. Por mistérios que pertencem às mentes peculiares dos bem-te-vis, não conseguia ver o caminho. Fiquei com pena do pássaro. O que para mim era uma questão de simples manobra, para ele parecia impossível. Fiquei pensando na metáfora daquela cena: às vezes se tem asas, mas falta a carta de voo.

Rolling Stones

Pois eu não fui ver o Paul McCartney. Aliás não me fez falta nenhuma apesar de toda admiração que tenho pelas canções dos Beatles, mas sempre me identifiquei mais com o John Lennon. Dos vivos do rock, só sairia de casa para encarar fila de compra de ingressos se fosse para assistir a um show dos Rolling Stones. E tem que ser logo, porque o Mick Jagger já está meio velhinho para dançar e correr pelo palco daquele jeito, mas ainda o faz. E o Keith Richards fumando como um morcego? Meu ídolo. Os Rolling Stones são um fenômeno único e, segundo ouvi dizer, virão a Porto Alegre. Tudo mudou nos últimos quarenta anos - caiu o Muro de Berlim, as Torres Gêmeas, o Fidel Castro, todas as velhas bandas foram desfeitas - apenas os Rolling Stones seguem na estrada. Esta é a Terceira Idade que qualquer mortal pediria a Deus. Quanto ao show do Paul, ninguém diga que estou sendo injusto, pois quem assistiu ficou hipnotizado pela apresentação do eterno Beatle, que permaneceu no palco por três horas canta

Lorita e o Parkinson

Minha mãe é portadora da Doença de Parkinson há cerca de quinze anos. Domingo fui até Canela com minha esposa tomar um café da tarde com ela e voltei satisfeito com a sua aparente boa saúde. Depois de tanto tempo de convívio com este calvário ela ainda se anima a visitar a pé sua irmã Teresa, que mora a cerca de quinhentos metros da sua casa. A motivação é forte, o estado de saúde da minha tia é preocupante. Ela que já acompanhou minha mãe em internação hospitalar em Porto Alegre hoje se encontra em situação muito pior. Quero visitar minha tia o mais breve possível, pois os relatos que ouvi de minha mãe são realmente muito inquietantes. Enfim, a Dona Lorita, mãe desta criatura que aqui escreve é uma mulher guerreira em seus quase setenta e cinco anos de idade. Foi assim a vida inteira. Viúva aos vinte e três com dois filhos pequenos para criar, pois meu pai foi vítima de um tipo de leucemia aos trinta e três anos, precisou superar condições financeiras e emocionais para tocar a vida ad