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Mostrando postagens de março, 2018

Flanando

Paris a pé. Nada mais natural do que andar a pé na capital francesa, tanto que eles criaram uma palavra para o praticante desta modalidade de deslocamento, o flâneur. A cidade histórica tem um diâmetro aproximado de 11 quilômetros, sendo um pouco mais longa no sentido leste/oeste e um pouco mais curta na direção sul/norte. Para quem chega pela primeira vez o que tira o fôlego não são as distâncias, mas a beleza que está em qualquer ponto para onde se dirija o olhar. Caminhar em Paris é como estar dentro de uma obra de arte arquitetônica sem similares, pois não se trata de um bairro que preserva as características de 200 anos ou mais, é uma cidade inteira. O traçado principal do fluxo de automóveis e dos quarteirões habitacionais ainda é o mesmo legado por Napoleão III e o Barão Hausmann no tempo das carruagens, afora isso existem vias ainda mais antigas, medievais. Tudo com um suporte poderoso de tecnologias que tratam esgotos e canalizam redes elétricas, telefônicas e gás.

O bosque dos imortais.

Há quem goste de explorar cemitérios históricos, eu inclusive. O Père Lachaise é, provavelmente, o campo santo [sempre gostei desta expressão para designar cemitério] mais famoso do mundo e aquele que concentra a maioria de grandes nomes desde o Século XIX até os dias de hoje. Fica a leste de Paris, no 20º arrondissement, com várias estações de metrô nas suas imediações, ou aproximadamente 50 minutos de caminhada partindo do marco zero da cidade, na Île de la Cité, em frente da Catedral Notre-Dame. Bem verdade que ele tem um concorrente importante do outro lado do Rio Sena, o Cemitério de Montparnasse, onde ficam os túmulos de Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Charles Baudelaire, Marguerite Duras e Serge Gainsbourg, entre outros. Mesmo assim, o plantel do Père Lachaise é imbatível. Caminhando pelas suas alamedas arborizadas e adentrando nos seus caminhos mais íntimos, o visitante vai se deparando com a morada eterna de gente como Chopin, Balzac, Proust, Delacroix, Apo

República do Marais

Passei minha vida administrando muito pouco dinheiro, quando não à beira da mais pura dureza, portanto nunca projetei muitas viagens que não fossem terrestres. Conheço pessoas que amam viajar, quanto mais melhor, e para lugares bem diversos dentro do país ou ao redor do planeta. São descolados, aventureiros e até esportistas, gente que habita aeroportos e hotéis nos quatro cantos do mundo. Muitos viajam por razões profissionais, de forma mais ou menos frequente, enfim é um povo acostumado às viagens, aos diversos climas e fuso-horários. No meu caso, toda viagem é uma tortura que inicia à medida que sua data aproxima. Sou entocado, gosto de ficar em casa e sair de automóvel por perto para voltar logo.  Detesto voar. Sem falar nas esperas em aeroportos. Mas se o destino for Paris, gasto meu último tostão e suporto tudo com resignação. Nos últimos cinco anos, por 17 dias anuais, o bairro do Marais é meu lar em Paris. Isto é simplesmente mágico, o velho casario da Rue Charlot,

Ensaiando a ruptura

Maio de 1997. Hoje eu deveria estar comemorando meu quadragésimo segundo aniversário. Sei que meus amigos esperaram aquela chamada avisando do churrasco que deveria se iniciar lá pelas oito e meia da noite, também de que não deveriam levar presentes e sim alguma bebida para garantir a alegria etílica do encontro. Costumavam ser assim minhas comemorações nos últimos anos, nem lembro   quantos com essa turma. Mas desta vez, uma angústia difusa me fez sumir, já com alguns dias de antecedência. Rodei sem um destino definido, apontei o carro na direção das montanhas e depois de uns trezentos quilômetros, já exausto, parei na primeira pousada que avistei da estrada. Cravada em uma pequena elevação, a casa de madeira com alpendre simpático e três araucárias bem ao lado da porta principal, me pareceu adequada e silenciosa. Manobrei para o pequeno estacionamento com piso forrado de pedrinhas de basalto e escolhi uma vaga no abrigo simples tipo meia água, onde haviam dois carro