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O bosque dos imortais.

Há quem goste de explorar cemitérios históricos, eu inclusive.

O Père Lachaise é, provavelmente, o campo santo [sempre gostei desta expressão para designar cemitério] mais famoso do mundo e aquele que concentra a maioria de grandes nomes desde o Século XIX até os dias de hoje.
Fica a leste de Paris, no 20º arrondissement, com várias estações de metrô nas suas imediações, ou aproximadamente 50 minutos de caminhada partindo do marco zero da cidade, na Île de la Cité, em frente da Catedral Notre-Dame.

Bem verdade que ele tem um concorrente importante do outro lado do Rio Sena, o Cemitério de Montparnasse, onde ficam os túmulos de Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Charles Baudelaire, Marguerite Duras e Serge Gainsbourg, entre outros. Mesmo assim, o plantel do Père Lachaise é imbatível.

Caminhando pelas suas alamedas arborizadas e adentrando nos seus caminhos mais íntimos, o visitante vai se deparando com a morada eterna de gente como Chopin, Balzac, Proust, Delacroix, Apollinaire, La Fontaine, Modigliani, Sara Bernhard, Yves Montand, Maria Callas, Jim Morinson, Piaff, Oscar Wilde e Alan Kardec, afora um jazigo que é um mito em sim mesmo, nele repousam restos trazidos de dois antigos mosteiros medievais e que pertenceram à Heloise e Abelard, vítimas de um amor que sua época não permitiu florescer [conferir no filme Em Nome do Amor].
Milhares de outras pessoas que fizeram a história de Paris e do mundo, também muita gente comum, ali estão sepultadas com maior ou menor destaque, e o bosque que cobre a colina abriga a imortalidade destas almas.


Foi um dos passeios mais belos que fiz até hoje, mas fiquei muito angustiado ao deparar com o Mur des Fédérés, onde foram fuzilados os últimos resistentes da Comuna de Paris, mais de 150 pessoas. As marcas de bala ainda estão lá.
Devo dizer que afora isto, o Père Lachaise me transmitiu paz, quietude e uma triste beleza, quase perfeita em sua forma.
Eu voltaria lá outra vez, para andar a esmo contemplando seus infinitos detalhes.

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