Hoje aproveitei a chuva e o tempo gris para remexer nos velhos arquivos fotográficos que a Neca, minha namorada desde as Diretas Já, guarda com todo zelo e carinho.
Minha busca, os amigos e os encontros com eles. E lá estavam, uma profusão de conexões, quase todas em celebrações diversas. É incrível como fazíamos festas, a vida era uma festa. E olha que problemas existiam e nunca foram poucos, mas tínhamos a juventude e o seu apetite insaciável por viver e se reunir.
As fotos ainda conservam, em sua maioria, um colorido vivo impresso no papel fotográfico.
Ninguém portava telefone celular, quando muito uma câmera fotográfica ou uma filmadora.
E a gente dançava, se fantasiava, ia para a praia em bando, comíamos muito, jogávamos qualquer coisa para passar as tardes de chuva enquanto alguém preparava bolinhos, sonhos, bolos e, é claro, pipoca.
Bebíamos, éramos beberrões de cerveja, de batidinhas e boa parte de nós, fumava.
Alguns, eu entre eles, não somente cigarros. E a gente viajava na maionese, via estrelas cadentes, alguns contavam experiências místicas e depois íamos dançar.
A Neca era roqueira, a que mais conhecia bandas e amava o Queen.
A Márcia adorava dançar com as melodias do Sidnei Magal, uma tiração de onda com curtição de fato.
O Giuliano vivia apresentando músicas inéditas de compositores desconhecidos, quase todos ruins.
Eu adorava Raul Seixas, Zé Ramalho e Rolling Stones, também passei a adorar o Queen por conta de todo conhecimento da Neca sobre a banda. Freddy Mercury era surreal de tão magnífico.
Assim fomos vivendo e, aos poucos, vieram os filhos, o trabalho passou a ocupar a maior parte do tempo de todos, contas e mais contas a pagar, mesmo assim resistimos por décadas.
Aí vieram as separações, alguns morreram e deixaram vazios impreenchíveis, outros foram morar longe, uns deixaram de ser amigos e os dias cambiaram o seu ritmo.
Ficamos mais seletivos, mais gregários, menos intensos, mais sozinhos e mais cansados.
Agora estamos cada um no seu quadrado, às vezes alguém manda uma mensagem pelo whatsapp dizendo ter saudade e assim nos revemos, uma vez ao ano. E quando se consegue marcar algo, é a glória!
Eu aceito sem tristeza, afinal a vida é assim mesmo, vamos tocando o barquinho e, de vez em quando,
olhamos as fotos maravilhosas de quando éramos verdadeiros super heróis.
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