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Ser pobre é cool

Época estranha, para dizer o mínimo, esta em que estamos vivendo.

A busca pelo condomínio residencial mais bacana, pelo carro dos sonhos, pela carreira bem paga e respeitada, pelo cônjuge de catálogo, pelos filhos perfeitos, pela silhueta da hora, pelas roupas de grife e pelas viagens mais desejadas – um estilo classe média com aspiração de rico que está ficando cada vez mais difícil de bancar e pouco divertido de usar, até para quem pode, pelo preço que se paga.

O jeito então é andar na contramão como quem foge de feriados longos e das praias apinhadas de gente. Ser simples e low profile é a grande sacada.

Não é preciso morar na favela nem virar contraventor, mas se aproximar do povo simples e fazer parte dele para ganhar autenticidade. Ter uma casinha confortável com um jardim e uma horta cuidados com carinho, comprar o pão naquele armazém da rua e conversar com os vizinhos, passear com o cachorro e fazer amizades com as pessoas nas ruas e praças, trocar receitas com os amigos e gostar de ficar em casa, tudo isto combina com o estilo pobre descolado de ser.
 É aquela vidinha de confortos prosaicos como tomar chimarrão na varanda, ler um livro e ver alguma coisa interessante na tevê, coisas que sempre terão sabor e significado, igual a preparar uma comidinha caseira e depois sentar em qualquer lugar da casa ou do pátio para comer em paz.
Ainda passar um cafezinho e sorvê-lo ouvindo o programa de rádio preferido.

A proposta é ser um pobre com valor agregado e blindado ao olho gordo.
Trabalhar somente para manter as contas em dia, não fazer contas demais e nem se deixar levar pela compulsividade consumista dos outros.
Se dar conta de que a propaganda foi inventada para vender e não para virar religião nem filosofia de vida.

É cool ser pobre, com bom gosto ou pelo menos gosto próprio.
É possível manter interesses culturais e não precisar se exibir, apreciar uma boa gastronomia sem muitas firulas e, se possível, utilizando louça barata.
Também é recomendável, de vez em quando, frequentar festas populares para ver o povoeiro reunido e comer um pastel de carne com ovo, ou uma cuca com linguiça.
Tentar passar mínimo tempo com gente que está sempre comprando ou vendendo o que quer que seja, preferindo passear no mato, tomar banho de cachoeira, comer fruta ao pé da árvore e, nas noites quentes, dormir ao ar livre (mosquiteiro).


Tudo isto cabe em uma economia modesta, sem a necessidade de receber altos salários, um projeto que combina com realidades de aposentadoria da maioria dos mortais. E, calmamente, seguir trabalhando para manter a mente viva.

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