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Aquela mulher

Para quem acha que Lady Di foi a personalidade mais incômoda na vida da corte inglesa, precisa conhecer a história de uma moça chamada Wallis Simpson. Ela já surgiu incendiando os tablóides ingleses quando apareceu namorando Edward VIII, sucessor do Rei George V, da Casa de Windsor, ou seja, da Família Real Inglesa. A má fama de Wallis provém da sua condição de mulher fatal, com relações políticas perigosas para sua época, a década de 1930 e o seu profuso contato com o undergroung londrino. Quando conheceu Edward, Wallis ainda era casada e carregava o sobrenome do maridão Ernest Simpson , na verdade ex, já privado daquele corpo esguio de longas pernas torneadas. Ela andava à solta pela noite da capital britânica, uma tribo de endinheirados devassos, nobres levados da breca, artistas, escritores e outros amantes do rendez-vouz sofisticado. O impacto da sua imagem ameaçadora sobre a classe alta inglesa, que amava o herdeiro do trono pela sua jovialidade, elegância e espor...

O clube do inferno.

O século XVIII, auge do iluminismo, foi também a era em que o cinismo intelectual das elites se alçou às formas organizadas de diversão amoral para seletos convivas. O estilo rococó dominava todas as artes, da arquitetura de Versalhes à pintura de Goya. Na França Fragonard, Boucher e Watteau, cada um a seu tempo, pintavam o hedonismo da corte e da nobreza em geral. Tempos de Casanova e Marquês de Sade. Tanta exuberância e vaidade foi se impregnando do escárnio às sacralidades, especialmente às de fundamentação católica romana e anglicana, da Grã-Bretanha, consequentemente desprezando seus dogmas. Entre as expressões mais desafiadoras aos poderes constituídos daquele século, surgiram na Inglaterra clubes formados por gente acima de qualquer suspeita - nobres hedonistas, ricos burgueses, artistas renomados e até mesmo clérigos poderosos - onde se praticavam orgias com prostitutas vestidas de freiras, todos se tratavam pelo rito de "irmão" e tinham como lema, em francês anti...

O nariz do outro

Dia destes fiz um tour cirúrgico em um hospital de Porto Alegre. Literalmente baixei para uma cirurgia ambulatorial e, no dia seguinte, recebi alta pesando um pouco menos por conta dos cálculos biliares que deixei lá, junto com minha vesícula. Mas não tenho muito o que falar da minha própria estada, exceto de que tudo andou bem e, depois de um retorno um tanto confuso desde a anestesia geral, foi um contar minuto a minuto até rever o médico no dia seguinte e ouvi-lo dizer que eu poderia ir para casa. Que alegria. O tema desta publicação me surgiu observando que, na sala de recuperação onde fiquei por longas horas, um expressivo número de pessoas, maioria muito jovens, cerca de dois terços de toda lotação da ala, haviam realizado cirurgia plástica no nariz. Nunca imaginei que tanta gente pudesse gostar tão pouco da sua aparência ao ponto de se submeter a uma anestesia geral e a uma cirurgia para redesenhar seu focinho. Eu nada tenho a ver com o nariz dos outros mas uma quantidad...

Anjos

Não sou exatamente um homem religioso. De alguma forma mantive os princípios éticos da formação católica, mas há muito não me enquadro em religião nenhuma. Acredito em Deus, ao estilo agnóstico de Einstein e até da forma reversa de Saramago. Ou seja, nada de reencarnação ou ressurreição. Tudo aqui e agora. Entretanto acredito no espírito que habita os seres vivos e que existem conexões de apoio, fraternidade e ajuda, entre pessoas e animais. Amor e ódio. Anjos e demônios. Também acredito no poder das escolhas e que as certas, mantidas com fé e disciplina, nos trazem a maravilhosa aproximação com os anjos. Nos ambientes dos espíritos mais elevados, nos lugares onde amor é visível, os anjos andam muito próximo das pessoas, eles são as próprias pessoas que são protegidas e que protegem, no mais pleno sentido que a palavra empatia pode ter. Às vezes é bom prestar mais atenção em quem é aquela pessoa que está ouvindo as nossas angústias ou os nossos planos. Como é seu o...

Voltando pra casa

Foram quase duas semanas vividas intensamente pelas ruas de Paris. Mais do que passar o meu aniversário aqui, esta viagem foi o presente que Neca e eu nos oferecemos para celebrar os nossos trinta anos de casamento, foi exatamente neste dia de maio que, em 1984, nos conhecemos, justamente em uma festa de aniversário. Quando vi a moça linda com jeito tímido entrar pela porta o meu coração disparou de imediato e, sem o menor constrangimento, passei a frente de todos, inclusive da aniversariante, para recebê-la e lhe oferecer uma taça de vinho. Nunca mais desgrudamos. Em três décadas a gente viveu de tudo e qualquer casal com mais de dez anos de vida conjugal entende bem o que estou dizendo, também testemunhamos o mundo ao nosso redor se transformar radicalmente, até fomos trabalhar juntos para tornar ainda mais compartilhadas as nossas vidas e, enfim, sobrevivemos. De Paris já postei muito, todos os dias, agora quero falar da volta pra casa. Hoje a meia-noite a gente parte para o...

Morrer vivo

Falem o que quiserem do Paulo Coelho, mas ninguém pode negar que ele tem um talento especialíssimo para sintetizar boas ideias com originalidade. Digo isto pensando em uma frase que li outro dia em uma entrevista do nosso controvertido escritor, quando perguntado sobre o que pensava da morte. - Quero morrer vivo. Esta foi a resposta do mago das palavras, tido como escritor medíocre por muitos mas para matar a todos de inveja, um sucesso mundial. Morrer vivo é uma ideia fantástica. Significa, como ele mesmo explicou, estar ativo e funcional até o último dia. Algo assim como as recentes mortes do ator José Wilker e do narrador Luciano do Vale. Quem morre vivo, frita o seu ovo, seu bife e faz o seu cocô sem ajuda alheia até o fim, paga suas contas e cuida da grama do jardim, diretamente ou por delegação direta. Ontem passei o dia no hospital com minha mãe, um exemplo de obstinada dedicação à individualidade familiar e à liberdade pessoal em vida, agora literalmente presa ao leit...

Tribos

Apesar das dissonâncias da vida e da inevitável necessidade de cuidar da sobrevivência, própria e do clã que escolhemos para integrar, eu não gosto de me queixar da sorte. Ao contrário, agradeço à Divina Providência por estar na companhia de quem elegi e pelos repetidos sinais de que estas escolhas, muito mais do que os fatos em si, sempre foram o traço mais assertivo da minha intuição sobre as pessoas em geral. Assim aprendi a valorizar a intuição como a forma mais sutil da inteligência. De resto é ralação e aquela parte que eu imagino ser o retorno metafísico. Pois bem, esta reflexão toda é para dizer que chegaram com 2014 alguns novos vizinhos no condomínio onde eu moro, coincidentemente bem próximos da minha casa. A Monique, o Gustavo e a Carol, na casa ao lado e, quase em frente, a Sol e a Jadhe. Espontaneamente nos tornamos amigos. Sim, tudo muito rápido e natural. Fazer amigos nunca foi uma dificuldade especial para Neca e eu, mas com o tempo a gente vai ficando mais se...