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Ato de fé

Lembro com alguma nostalgia da minha religiosidade de infância, quando estudava em um Colégio Marista e assistia às missas dominicais na Catedral de Pedra, lá pelo final da década de 1960, na pacata cidadezinha de Canela. Com o passar dos anos fui me desobrigando da prática religiosa, porque já não era possível depositar tanta fé na Igreja Católica Apostólica Romana diante da evolução do meu conhecimento sobre a história política da Europa e das Américas, sem falar dos aspectos mais mundanos desta poderosa instituição que se outorgou a legítima porta-voz do Cristo. O amadurecimento me tornou “um católico de recenseamento” segundo o adágio popular, aquele sujeito que não lembra mais da última vez que assistiu a uma missa, mas diante da visita do pesquisador do IBGE marca no quesito religião: católico. O mais significativo no meu afastamento da igreja é que não perdi a crença em Deus. Virou uma fé mais ao estilo Frei Leonardo Boff, que um dia vi sendo entrevistado pela Marília Gabriela e...

Ainda as Torres Gêmeas

Nove anos se passaram e a sensação angustiante de que foi a poucos meses me acompanha, sempre que revejo cenas do dia do ataque e destruição do WTC em Nova York. Nunca estive na Big Apple, mas é uma cidade que aprendi a gostar sem conhecer, como uma paixão platônica que se mantém viva apesar da distância e, tendo a crer, duradoura justamente pela distância que me impede de banalizar sua realidade. Sem nunca ter andado por suas ruas e avenidas, testemunhei a construção da Ponte do Brooklyn nas últimas décadas do Século XIX, me empolguei e sofri com as obras radicais de Robert Moses abrindo as railways e demolindo bairros inteiros, aprendi a esperar a árvore de natal do Rockefeller Center e a neve no Central Park, vi o Empire State ser erguido em plena Depressão e contemplei múltiplas tonalidades de cores tingirem a cúpula do Prédio da Chrysler ao longo das estações, enquanto a Estátua da Liberdade vigiava os italianos recém-chegados à triagem da Ilha de Ellis. Nova York deve ser a cidad...

Saúde

Estou encerrando o meu mais que protelado check up médico. Ao que sugerem os exames na leitura da dupla de médicos consultados, não tenho motivos para maiores preocupações, porém, e sempre há um porém, existem vários pequenos indícios de que preciso tomar certos cuidados com meus hábitos alimentares e outras pequenas extravagâncias inadmissíveis para uma pessoa da minha faixa etária. Significa dizer: velho imaturo. Além de algum possível tratamento não descartado, segue a recomendação de consulta a uma nutricionista, só conheço mulheres nesta especialidade, e eventualmente, um contato de terceiro grau com o cardiologista. Bem, de qualquer modo me sinto um tanto aliviado por ter passado o brete dos exames. Agora é ouvir a voz da coerência e adotar certas medidas. Um amigo que se dedica a pesquisar, ensinar e aplicar a nova ciência do Pensamento Sistêmico, me falou que reduziu suas consultas médicas a um clínico geral que é verdadeiramente ninja. O tal médico é um cara de meia idade, pr...

Se eu ganhar na Megasena

Quem aprecia o gênero comédia de erros vai se interessar por este artigo. Há um mês reduzi a minha aposta básica na Megasena de seis para três jogos, apenas um jeito de continuar sonhando com os bafejos da fortuna em um investimento mais modesto. Também decidi fazer a aposta automática para duas extrações seguidas, evitando passar na agência lotérica mais de uma vez por semana. Até aí tudo bem, pois continuei muito longe de acertar as seis dezenas. Vai que amanhã, dia 04 de setembro de 2010, haverá o sorteio de um prêmio na faixa de 80 milhões de reais, bem mais do que preciso para realizar meus sonhos mais extravagantes. Como este valor é resultante de vários prêmios acumulados, fiz minha teimosinha (duas extrações seguidas) antes do sorteio da última quarta-feira. Na manhã de quinta, abri o jornal na página das extrações lotéricas e conferi meu comprovante mais os jogos da minha mulher. Automaticamente joguei os papéis no lixo do escritório e segui nas lidas do dia. No intervalo do a...

O mundo de Clara

Já escrevi duas vezes sobre a Clara neste blog. A primeira quando ela era recém-nascida com o título de Clara e, depois outra, quando ela já andava toda pimpona lá pelos dois aninhos. Agora a Clarinha está bem próxima de fechar três primaveras, frequenta escolinha e já é a popular da galerinha e das profes. Pois a Mariana, mãe da moça, lançou um diário virtual com as visões e respostas da Clara diante dos desafios que o mundo adulto propõe a ela nas coisas mais prosaicas. É pra lá de divertido. A Clara é uma figuraça com seu estilo cool e que transita desde a mais absoluta indiferença pelo seu entorno até uma tagarelice inesperada, sem jamais perder a pose instrospectiva. Outro dia estava lá, relatado em O Mundo de Clara, que junto com os pais almoçando no restaurante em que é conhecidíssima, protagonizou um típico momento clariano . A garçonete que sempre bate aquele papo com ela, pergunta: - Querida! Quanto tempo! Então tu está na escolinha? E a Clara, super solícita: - Não, tô no r...

O psicólogo

A grande vantagem de não ser crítico autorizado de nada é a liberdade de expressar a própria opinião sem ter que cumprir os cânones da erudição. Um bom exemplo disto é um filme que achei fantástico e, ao comentar com uma amiga que é minha referência para compreender cinema e literatura, obtive a singela explicação de que se tratava de um roteiro dos mais óbvios, característico drama que os estúdios cinematográficos americanos costumam produzir em suas esteiras. Eita Ana Rita, baixinha desgramada, que sempre diz tudo de um jeito que me deixa abestado. Pior, ela está certa, mas continuei gostando do filme. A tal película, com o título de O Psicólogo, tem um protagonista à beira de um surto depressivo, casualmente o referido psicólogo. Mas assim mesmo o pobre diabo atende seus clientes todos os dias. Ocorre que o homem está com um remorso terrível pelo suicídio da esposa, sofrendo tanto a perda que não consegue nem entrar no quarto do casal. Dorme nas cadeiras da sua piscina com a mesma r...

Nikita

O obituário da família Gonçalves ganha um novo capítulo com a partida da Nikita, dia19 de julho, aos 13 anos e 07 meses, tempo que para uma Colie Tricolor representa viver muito além da expectativa média da sua raça. Mas de pouco e quase nada serve esta constatação, a Niki merecia viver muito mais. Se pudesse enviar um e-mail para a Ouvidoria do Céu, gostaria de pedir uma revisão nos prazos de expectativa de vida dos cães e dos gatos, pois comparativamente aos seres humanos eles vivem muito pouco. Paradoxalmente, os cães em nada demonstram inquietude com esta questão, eles simplesmente vivem. Intensamente. A rotina de suas vidas é feita de intensidade em tudo que fazem. Mesmo que repitam os mesmos rituais na sua relação com a gente, milhões de vezes, sempre o fazem com o prazer de uma novidade. Se a morte da Niki teve atenuante dela ter vivido uma longa jornada com todo carinho e proteção que seus donos dedicaram a ela, foi profundamente doída pelo fato de ter sido encerrada em uma per...