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O mundo de Clara

Já escrevi duas vezes sobre a Clara neste blog. A primeira quando ela era recém-nascida com o título de Clara e, depois outra, quando ela já andava toda pimpona lá pelos dois aninhos. Agora a Clarinha está bem próxima de fechar três primaveras, frequenta escolinha e já é a popular da galerinha e das profes. Pois a Mariana, mãe da moça, lançou um diário virtual com as visões e respostas da Clara diante dos desafios que o mundo adulto propõe a ela nas coisas mais prosaicas. É pra lá de divertido. A Clara é uma figuraça com seu estilo cool e que transita desde a mais absoluta indiferença pelo seu entorno até uma tagarelice inesperada, sem jamais perder a pose instrospectiva. Outro dia estava lá, relatado em O Mundo de Clara, que junto com os pais almoçando no restaurante em que é conhecidíssima, protagonizou um típico momento clariano . A garçonete que sempre bate aquele papo com ela, pergunta: - Querida! Quanto tempo! Então tu está na escolinha? E a Clara, super solícita: - Não, tô no r...

O psicólogo

A grande vantagem de não ser crítico autorizado de nada é a liberdade de expressar a própria opinião sem ter que cumprir os cânones da erudição. Um bom exemplo disto é um filme que achei fantástico e, ao comentar com uma amiga que é minha referência para compreender cinema e literatura, obtive a singela explicação de que se tratava de um roteiro dos mais óbvios, característico drama que os estúdios cinematográficos americanos costumam produzir em suas esteiras. Eita Ana Rita, baixinha desgramada, que sempre diz tudo de um jeito que me deixa abestado. Pior, ela está certa, mas continuei gostando do filme. A tal película, com o título de O Psicólogo, tem um protagonista à beira de um surto depressivo, casualmente o referido psicólogo. Mas assim mesmo o pobre diabo atende seus clientes todos os dias. Ocorre que o homem está com um remorso terrível pelo suicídio da esposa, sofrendo tanto a perda que não consegue nem entrar no quarto do casal. Dorme nas cadeiras da sua piscina com a mesma r...

Nikita

O obituário da família Gonçalves ganha um novo capítulo com a partida da Nikita, dia19 de julho, aos 13 anos e 07 meses, tempo que para uma Colie Tricolor representa viver muito além da expectativa média da sua raça. Mas de pouco e quase nada serve esta constatação, a Niki merecia viver muito mais. Se pudesse enviar um e-mail para a Ouvidoria do Céu, gostaria de pedir uma revisão nos prazos de expectativa de vida dos cães e dos gatos, pois comparativamente aos seres humanos eles vivem muito pouco. Paradoxalmente, os cães em nada demonstram inquietude com esta questão, eles simplesmente vivem. Intensamente. A rotina de suas vidas é feita de intensidade em tudo que fazem. Mesmo que repitam os mesmos rituais na sua relação com a gente, milhões de vezes, sempre o fazem com o prazer de uma novidade. Se a morte da Niki teve atenuante dela ter vivido uma longa jornada com todo carinho e proteção que seus donos dedicaram a ela, foi profundamente doída pelo fato de ter sido encerrada em uma per...

Nocaute técnico

Felizmente tenho poucos leitores. Em contrapartida tenho leitores assíduos. Esta assiduidade é um privilégio que me impõe um compromisso mínimo com a sinceridade no que escrevo. Mesmo com as mais descabidas bobagens. Dito isto, confesso. Não consegui parar de fumar. Ainda. Minha enfática decisão publicada neste blog sob o título de Parei de Fumar, durou exatos vinte e um dias. Tomei meu nocaute técnico na altitude de Cambará do Sul, num dia frio e nebuloso, após uma saudável caminhada até uma cachoeira magnífica, justamente na subida através de uma pastagem com uma vista privilegiada da amplitude dos campos de cima da serra. Curiosamente, apesar do esforço cardiorrespiratório, me assaltou uma irresistível vontade de fumar. A beleza da paisagem. O ar puríssimo. Um cigarro. Assim voltei. Sordidamente comprei cigarros e passei a fumar às escondidas. Tento manter os índices de consumo em bases sensatas, mas voltei a fumar. Espero em breve voltar a professar minha definitiva cura deste mórb...

Fim dos Tempos

Outro dia acordei com um mau humor que não me é característico. Via de regra acordo bem, nada demais, mas feliz pelos ovos mexidos que vou comer com pão quentinho e aquela manteiga quase derretendo, enquanto irei sorvendo meu café com leite, na temperatura e sabor perfeitos, tudo isto diante da tevê onde verei repetidas coisas malucas acontecendo no mundo. Meu ritual do café da manhã é um casulo blindado ao caos, me protege e me diverte. Mas naquela manhã saí da rotina. Uma agenda aborrecida me esperava, simples, mas uma coleção de pequenas e irritantes providências, para variar inadiáveis. Liguei a tevê e lá estava: um buraco profundo e circular se abriu no meio da Cidade da Guatemala, repentinamente. O fenômeno ocorre em vários lugares do planeta e, ali na região, já aconteceu outras vezes. Uma imagem macabra. O diagnóstico referiu ao longo trabalho de erosão da água com agravante de um ciclo recente de muitas chuvas. Explicação provisória, pois geólogos ficaram alerta. Mudei de cana...

José Saramago

Na paz de seu exílio voluntário se esfumaçou a vida de José Saramago. Fiquei vendo pela tevê a imagem do caixão negro levando os restos mortais do grande escritor para ser velado em sua cidade natal. A partir de agora poderemos avaliar a verdadeira importância deste pensador erudito e mordaz em sua prosa, um artífice da palavra que causa perplexidade e emoção constante através do seu texto sinuoso e quase sem as necessárias paradas para se recuperar o fôlego. Saramago tinha o humor dos amargos, um comunista cínico com verve de aristocrata. Era um ateu a procurar por Deus através da metódica demolição das hipocrisias seculares e, com sua morte, certamente se transformará em um mito de muitas lendas. Nos últimos anos, dois romancistas contemporâneos realmente me empolgaram com o caráter instigante de suas obras. Pelo aspecto mais mundano, o escritor cubano Pedro Juan Gutierrez, e nas trilhas da angustiante existência humana, José Saramago. Um privilegiado pela vida este cidadão português...

Vá procurar sua turma

Tem coisas que a gente faz por necessidade e outras para satisfazer aquela parte da nossa existência que Freud denominou como Ego. O cotidiano e as circunstâncias que determinam parte importante dos nossos esforços, incluindo medos e inseguranças, produzem uma cegueira significativa em nossa percepção. Não conseguimos enxergar o quanto de nós mesmos está atrelado a programas obrigatórios, enfadonhos e frustrantes, bem além do que precisaríamos. Por que perdemos tanto tempo com pessoas e atividades que nos deprimem? Seguindo a doutrina freudiana, o prazer alimenta nosso desejo de viver, alegra e nos faz aproveitar melhor as boas coisas da vida. Estar em casa. Conviver com amigos. Jogar futebol. Passear. Ler um livro. Preparar um jantar. E por aí vai. Do outro lado da moeda estão aquelas atividades que nos aborrecem, mas que precisamos dar conta, afinal nem todo mundo é filho de pai rico. Eventos chatos, pessoas enfadonhas ou metidas a besta, parentes malas, festas onde não se conhece ni...