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José Saramago

Na paz de seu exílio voluntário se esfumaçou a vida de José Saramago.

Fiquei vendo pela tevê a imagem do caixão negro levando os restos mortais do grande escritor para ser velado em sua cidade natal. A partir de agora poderemos avaliar a verdadeira importância deste pensador erudito e mordaz em sua prosa, um artífice da palavra que causa perplexidade e emoção constante através do seu texto sinuoso e quase sem as necessárias paradas para se recuperar o fôlego.
Saramago tinha o humor dos amargos, um comunista cínico com verve de aristocrata. Era um ateu a procurar por Deus através da metódica demolição das hipocrisias seculares e, com sua morte, certamente se transformará em um mito de muitas lendas.

Nos últimos anos, dois romancistas contemporâneos realmente me empolgaram com o caráter instigante de suas obras. Pelo aspecto mais mundano, o escritor cubano Pedro Juan Gutierrez, e nas trilhas da angustiante existência humana, José Saramago.
Um privilegiado pela vida este cidadão português, pois viveu em plena atividade por 87 anos e ainda ganhou um prêmio Nobel de Literatura com saúde e tempo suficiente para desfrutar das homenagens de seus contemporâneos e até das novas gerações.

A galeria de grandes escritores da segunda metade do século vinte está perdendo seus últimos exemplares ainda vivos. Gabriel Garcia Marques é um dos raríssimos remanescentes deste magnífico ciclo de alquimistas da expressão humana.

Questiono às vezes o futuro da literatura neste mundo cada vez mais virtual e rápido?

Torço para que a palavra escrita mantenha sua força e fascínio sobre as pessoas, porque o texto tem uma conexão mágica com a imaginação de quem lê.

Uma arte insubstituível, com o perdão das novas tecnologias.

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