Outro dia acordei com um mau humor que não me é característico.
Via de regra acordo bem, nada demais, mas feliz pelos ovos mexidos que vou comer com pão quentinho e aquela manteiga quase derretendo, enquanto irei sorvendo meu café com leite, na temperatura e sabor perfeitos, tudo isto diante da tevê onde verei repetidas coisas malucas acontecendo no mundo.
Meu ritual do café da manhã é um casulo blindado ao caos, me protege e me diverte.
Mas naquela manhã saí da rotina. Uma agenda aborrecida me esperava, simples, mas uma coleção de pequenas e irritantes providências, para variar inadiáveis.
Liguei a tevê e lá estava: um buraco profundo e circular se abriu no meio da Cidade da Guatemala, repentinamente. O fenômeno ocorre em vários lugares do planeta e, ali na região, já aconteceu outras vezes.
Uma imagem macabra.
O diagnóstico referiu ao longo trabalho de erosão da água com agravante de um ciclo recente de muitas chuvas. Explicação provisória, pois geólogos ficaram alerta.
Mudei de canal. Lá estavam as imagens do óleo flutuando no Golfo do México e nada de uma perspectiva de vedar o ponto do vazamento de forma definitiva. Desastre!
A gigante petrolífera que explora as reservas na região costeira simplesmente não tem solução para o problema.
Não costumo acreditar em profecias apocalípticas, mas aquele cenário mexeu até com o azedume do meu humor.
Paradoxalmente, este quadro apocalíptico melhorou meu astral. Lembrei do professor Aurélio, ministrando um Curso de Introdução ao Pensamento Sistêmico, quando ele desenha um gráfico com a curva de expansão demográfica mundial com base nos índices atuais e coloca as perspectivas da vida humana, nos padrões que atualmente conhecemos, num “mato-sem-cachorro” à distância de poucas décadas.
Significa dizer que se agregarmos a lógica do crescimento econômico mundial ao consumo por ele demandado, aos sinais de perda de controle operacional nos campos extratores de energia fóssil, mais as recentes e estranhas manifestações da natureza, vejo aumentar significativamente minhas chances reais de estar presente ao fim dos tempos. Até porque ando me cuidando mais e até entrando em forma.
A capacidade humana para sobreviver aos piores e mais sombrios obstáculos sempre funcionou e assim se fortaleceu a descendência, mas justamente é efeito da conquista este grande monstro que vem devorar nossas perspectivas de sobrevivência.
Estranhamente fui me animando.
Olhei para o queijo, o presunto e a geléia de amora com aquela grata sensação de ainda poder desfrutar de iguarias com tão rara qualidade e procedência.
Às vezes me sinto como o personagem secundário que aparece em algumas cenas do filme Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, tomando seu whisky no ponto mais distante do bar enquanto pessoas chegam esbaforidas, trazendo relatos apavorantes de ataques massivos das aves. De vez em quando ecoa, em alto e bom som, a voz do bêbado:
- É o fim do mundo!
Via de regra acordo bem, nada demais, mas feliz pelos ovos mexidos que vou comer com pão quentinho e aquela manteiga quase derretendo, enquanto irei sorvendo meu café com leite, na temperatura e sabor perfeitos, tudo isto diante da tevê onde verei repetidas coisas malucas acontecendo no mundo.
Meu ritual do café da manhã é um casulo blindado ao caos, me protege e me diverte.
Mas naquela manhã saí da rotina. Uma agenda aborrecida me esperava, simples, mas uma coleção de pequenas e irritantes providências, para variar inadiáveis.
Liguei a tevê e lá estava: um buraco profundo e circular se abriu no meio da Cidade da Guatemala, repentinamente. O fenômeno ocorre em vários lugares do planeta e, ali na região, já aconteceu outras vezes.
Uma imagem macabra.
O diagnóstico referiu ao longo trabalho de erosão da água com agravante de um ciclo recente de muitas chuvas. Explicação provisória, pois geólogos ficaram alerta.
Mudei de canal. Lá estavam as imagens do óleo flutuando no Golfo do México e nada de uma perspectiva de vedar o ponto do vazamento de forma definitiva. Desastre!
A gigante petrolífera que explora as reservas na região costeira simplesmente não tem solução para o problema.
Não costumo acreditar em profecias apocalípticas, mas aquele cenário mexeu até com o azedume do meu humor.
Paradoxalmente, este quadro apocalíptico melhorou meu astral. Lembrei do professor Aurélio, ministrando um Curso de Introdução ao Pensamento Sistêmico, quando ele desenha um gráfico com a curva de expansão demográfica mundial com base nos índices atuais e coloca as perspectivas da vida humana, nos padrões que atualmente conhecemos, num “mato-sem-cachorro” à distância de poucas décadas.
Significa dizer que se agregarmos a lógica do crescimento econômico mundial ao consumo por ele demandado, aos sinais de perda de controle operacional nos campos extratores de energia fóssil, mais as recentes e estranhas manifestações da natureza, vejo aumentar significativamente minhas chances reais de estar presente ao fim dos tempos. Até porque ando me cuidando mais e até entrando em forma.
A capacidade humana para sobreviver aos piores e mais sombrios obstáculos sempre funcionou e assim se fortaleceu a descendência, mas justamente é efeito da conquista este grande monstro que vem devorar nossas perspectivas de sobrevivência.
Estranhamente fui me animando.
Olhei para o queijo, o presunto e a geléia de amora com aquela grata sensação de ainda poder desfrutar de iguarias com tão rara qualidade e procedência.
Às vezes me sinto como o personagem secundário que aparece em algumas cenas do filme Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, tomando seu whisky no ponto mais distante do bar enquanto pessoas chegam esbaforidas, trazendo relatos apavorantes de ataques massivos das aves. De vez em quando ecoa, em alto e bom som, a voz do bêbado:
- É o fim do mundo!
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