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Conexões

São muito interessantes algumas conexões emocionais que se estabelecem entre as pessoas. Para o bem e para o mal. Tem aquele tipo de vivente que nunca te fez nada, mas que é capaz de botar em alerta os gansos da tua alma só de passar por perto. Meu avô parou de falar com um cunhado porque cada vez que encontrava o Dorvalino alguém da família caía doente. A partir do dia que se deu conta, passou longos e saudáveis anos sem ver o amigo. As conexões mais interessantes são as positivas. Trazem sorte. Tenho uma amiga assim, a Gisela, o nome deve ser lido ao modo alemão Guísela, com o "e" fechado. Pois a Duda, como a chamam seus mais íntimos, surgiu na minha vida como uma nova cliente e assim nos relacionamos por um bom período. Nesta época ficamos amigos. Nossas reuniões eram sessões intermináveis de boa conversa e muitas risadas. Um típico fenômeno de absoluta afinidade pessoal. Quando partiu para novos desafios, foi morar em Brasília. Na sua festa de despedida eu convidei vários...

Inverno 73

A noite estava úmida. Sempre quis iniciar um texto com esta frase. É em torno dela que se desenvolve um diálogo impagável entre Billy Cristal e Danny De Vito, no filme Joguem a Mamãe do Trem. O personagem de Cristal é um escritor em crise que tenta começar uma nova obra e está empacado na frase de abertura... Enfim, um filme que merece registro. Pois a noite estava úmida e gelada, passava longe da meia-noite e eu seguia com meu capote preto, chapéu e botas, levando um exemplar de O Exorcista debaixo do braço. Seguia a pé, naquele distante ano de 1973, a caminho de casa. Estava em Gramado e minha casa ficava em Canela, portanto tinha uns bons nove quilômetros de chão pela frente. Naquele tempo dos meus saudosos dezesseis anos, era costume pegar carona de uma cidade à outra, sendo bastante fácil, haviam muitos conhecidos trafegando por ali e até alguns turistas que conheciam o hábito, mas após uma certa hora, os carros desapareciam por completo. Balada de pobre no meu tempo era mais ou m...

Neca e Eu

Meu casamento desafia a projeção de durabilidade dos matrimônios nacionais, dez anos e meio segundo estudo do IBGE, pois eu e a Neca estamos juntos há vinte e cinco anos. Mais do que isto, a gente trabalha na mesma empresa há quinze, um relacionamento full time. Quem nos conhece separadamente, sem saber que somos casados, dificilmente iria imaginar uma relação entre duas pessoas tão diversas. Quanto menos tão duradoura como a nossa. Entretanto, quem convive com o casal não chega a estranhar esta combinação que, este ano, conquista suas Bodas de Prata. Pela primeira vez exercito e registro de forma mais pública uma reflexão sobre nossa aparente incompatibilidade de estilos e o porquê de tanta diferença sobreviver em harmonia. A Neca é obstinadamente disciplinada na busca dos seus objetivos, intolerante com a perda de tempo na resoluções cotidianas, do conserto da torneira do banheiro até quaisquer demandas que envolvam nossa empresa ou a vida familiar. Mas também é uma manteiga derretid...

Subliminar

Houve época em que as pessoas temiam os efeitos macabros que as mensagens subliminares na propaganda ou no cinema poderiam causar na mente das massas. Contava-se o caso de um filme do pós-guerra que repetia centenas de vezes de forma imperceptível a frase “beba Coca-Cola” e, no final, as pessoas saiam hipnotizadas do cinema, loucas para beber uma Coca-Cola. Mito ou realidade? Nunca soube. Eram os tempos aterrorizantes da Guerra Fria e das muitas formas de lavagem cerebral. A qualquer momento poderia eclodir a terceira e definitiva guerra mundial e com ela toda vida humana iria perecer sob efeito do holocausto atômico. Boatos de que uma bomba nova, mais letal que todas as outras, estivesse sendo preparada nos EUA ou na Rússia, eram debatidos nos bares e nos encontros domingueiros com a família. Meus tios e primos avistaram mais discos voadores do que a NASA inteira. Eu nunca me impressionei muito com estas grandes aflições globais. O que me amofinava era ver a estupidez carola e hipócri...

Sinais

O fato é inusitado mas aconteceu comigo a poucos dias. Entrei no consultório, a jovem médica me acomodou em uma poltrona e indagou com sua voz tranquila: - Então seu Juarez... Me fale sobre o motivo da sua consulta? - São os sinais. Gostaria de uma avaliação médica sobre eles. - Sinais? O senhor vê estes sinais? - Algumas vezes, mas não ligou muito não. O que me preocupa é saber se eles oferecem algum perigo. - Mas os sinais lhe indicam alguma coisa neste sentido? Com são estes sinais? - Não são todos iguais, alguns parecem apenas manchas, outros têm volume e... este aqui por exemplo... Desculpa, mas a senhora é dermatologista? - Não, eu sou psiquiatra, acho que tivemos um ruído na comunicação, o senhor me aguarde que vou verificar com a recepcionista, com licença. Em menos de dois minutos a médica retornou meio constrangida e se desculpou pelo equívoco na agenda da clínica, a dermatologista tem o mesmo nome da psiquiatra e a moça da marcação de consultas assinalou na especialidade err...

Fantasmas particulares

Quem instigou as narrativas relatadas nesta crônica foi minha amiga Michele Philomena, uma jovem artista plástica com uma certa vocação para a investigação dos mistérios espirituais. Pois a Michele gosta de por à prova o ceticismo dos seus amigos e, às vezes, quer saber se porventura alguém já vivenciou uma experiência definível como sobrenatural. Algumas são contadas a seguir. Lembrei do dia em que me despedi do Edson, amigo que estava de partida para o Rio de Janeiro e faria o trajeto de motocicleta. Saí do escritório e fomos conversar à beira do Guaíba. A maior parte do tempo ele falou da sua rotina como mergulhador em águas profundas, na Bacia de Campos, um serviço radical de manutenção nas bases das plataformas de petróleo. Mencionou a escuridão, seus dias de confinamento nas câmaras de descompressão e algumas visões, estranhas experiências de quando se encontrava trabalhando dentro do escafandro, em mar profundo. Algo que ia além de peixes estranhos e luminosos. Passara a estudar...

Poder e sexo

Recentemente deparei com um estudo realizado na Universidade de Newcastle, na Inglaterra, através do qual dois cientistas britânicos chegaram à conclusão de que as mulheres têm mais prazer sexual com homens ricos. Eles se basearam em pesquisa feita na China, citada como o mais completo levantamento sobre estilo de vida familiar e sexo, realizado até hoje. O argumento dos britânicos tem um revestimento evolucionista para justificar a preferência feminina por homens poderosos, acima de fatores consagrados como a simetria corporal e a atratividade. Em síntese, com homens ricos os orgasmos femininos ocorrem com mais frequência. Ou seja, o sarcasmo popular acaba de obter um verniz científico. Nas conversas mais irreverentes sempre surge a cínica afirmação de que mulher não gosta de homem, quem gosta de homem é homossexual, porque mulher gosta mesmo é de cartão de crédito, viagens de férias, bolsa nova, casa bonita e bem decorada. Pois é, não bastassem tantos desafios para sobreviver neste m...