Houve época em que as pessoas temiam os efeitos macabros que as mensagens subliminares na propaganda ou no cinema poderiam causar na mente das massas. Contava-se o caso de um filme do pós-guerra que repetia centenas de vezes de forma imperceptível a frase “beba Coca-Cola” e, no final, as pessoas saiam hipnotizadas do cinema, loucas para beber uma Coca-Cola. Mito ou realidade? Nunca soube.
Eram os tempos aterrorizantes da Guerra Fria e das muitas formas de lavagem cerebral.
A qualquer momento poderia eclodir a terceira e definitiva guerra mundial e com ela toda vida humana iria perecer sob efeito do holocausto atômico. Boatos de que uma bomba nova, mais letal que todas as outras, estivesse sendo preparada nos EUA ou na Rússia, eram debatidos nos bares e nos encontros domingueiros com a família.
Meus tios e primos avistaram mais discos voadores do que a NASA inteira.
Eu nunca me impressionei muito com estas grandes aflições globais.
O que me amofinava era ver a estupidez carola e hipócrita com que se desenvolvia a vida na minha pequena cidade, onde quase todo mundo pensava que conquistar uma carreira no serviço público era tudo que se poderia desejar na vida. Um paradoxo, pois enxergavam o apocalipse em tudo mas acreditavam no emprego estável.
Hoje, com a vivência dos meus cinquenta e poucos anos consigo compreender melhor a visão daquela gente mais velha e conservadora.
Eles sabiam diferenciar o mundo das suas vidinhas ordinárias, nada poderiam fazer na questão da bomba atômica nem de uma invasão de marcianos, mas sabiam que passar em um concurso público era uma tarefa humanamente possível. O resto era entretenimento.
Sendo um rebelde de DNA me tornei publicitário, profissão bem ao gosto de almas irreverentes e de individualistas crônicos. Cada vez que eclode uma crise no mercado me ponho a rever esta escolha.
No entanto, acredito que até o equilibrista que desafia cânions sobre um cabo-de-aço de exígua espessura sofra de algum tédio com sua atividade, ou que fique matutando se não é hora de mudar.
Imagino o sujeito sobre o Itaimbezinho, mais de quatrocentos metros de altura, cumprindo sua lenta travessia com aquele mau humor de segunda-feira... Pensando: “está na hora de investir em outra atividade porque este negócio está ficando chato e muito perigoso”.
Quem sabe ele tenha planos de comprar um caminhão e levar cargas pelo país afora, ouvindo seu radinho, conhecendo lugares novos e pessoas novas, só para variar.
Pois às vezes eu também fico entediado com o meu trabalho. Os mercados cada vez mais reticentes e os argumentos de precaução se repetindo como um mantra monótono e previsível.
Nestas horas eu gostaria de estar fazendo outra coisa, quem sabe vivendo na serra e tocando meu próprio restaurante, ou ainda melhor, desfrutando de uma bela fortuna ganha na megasena... vivendo a doce emoção de não ter que fazer nada.
Aí desperto para a realidade e sinto aquela vontade irresistível de beber uma Coca-Cola.
Ai, ai, a gente precisa ter cuidado com as mensagens subliminares.
Eram os tempos aterrorizantes da Guerra Fria e das muitas formas de lavagem cerebral.
A qualquer momento poderia eclodir a terceira e definitiva guerra mundial e com ela toda vida humana iria perecer sob efeito do holocausto atômico. Boatos de que uma bomba nova, mais letal que todas as outras, estivesse sendo preparada nos EUA ou na Rússia, eram debatidos nos bares e nos encontros domingueiros com a família.
Meus tios e primos avistaram mais discos voadores do que a NASA inteira.
Eu nunca me impressionei muito com estas grandes aflições globais.
O que me amofinava era ver a estupidez carola e hipócrita com que se desenvolvia a vida na minha pequena cidade, onde quase todo mundo pensava que conquistar uma carreira no serviço público era tudo que se poderia desejar na vida. Um paradoxo, pois enxergavam o apocalipse em tudo mas acreditavam no emprego estável.
Hoje, com a vivência dos meus cinquenta e poucos anos consigo compreender melhor a visão daquela gente mais velha e conservadora.
Eles sabiam diferenciar o mundo das suas vidinhas ordinárias, nada poderiam fazer na questão da bomba atômica nem de uma invasão de marcianos, mas sabiam que passar em um concurso público era uma tarefa humanamente possível. O resto era entretenimento.
Sendo um rebelde de DNA me tornei publicitário, profissão bem ao gosto de almas irreverentes e de individualistas crônicos. Cada vez que eclode uma crise no mercado me ponho a rever esta escolha.
No entanto, acredito que até o equilibrista que desafia cânions sobre um cabo-de-aço de exígua espessura sofra de algum tédio com sua atividade, ou que fique matutando se não é hora de mudar.
Imagino o sujeito sobre o Itaimbezinho, mais de quatrocentos metros de altura, cumprindo sua lenta travessia com aquele mau humor de segunda-feira... Pensando: “está na hora de investir em outra atividade porque este negócio está ficando chato e muito perigoso”.
Quem sabe ele tenha planos de comprar um caminhão e levar cargas pelo país afora, ouvindo seu radinho, conhecendo lugares novos e pessoas novas, só para variar.
Pois às vezes eu também fico entediado com o meu trabalho. Os mercados cada vez mais reticentes e os argumentos de precaução se repetindo como um mantra monótono e previsível.
Nestas horas eu gostaria de estar fazendo outra coisa, quem sabe vivendo na serra e tocando meu próprio restaurante, ou ainda melhor, desfrutando de uma bela fortuna ganha na megasena... vivendo a doce emoção de não ter que fazer nada.
Aí desperto para a realidade e sinto aquela vontade irresistível de beber uma Coca-Cola.
Ai, ai, a gente precisa ter cuidado com as mensagens subliminares.
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