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Revendo conceitos

O ano vai terminando e eu começo a exercitar uma retrospectiva das coisas que, de alguma forma, me surpreenderam nesta maratona de doze meses. Embora nada mais me espante em se tratando de civilização humana, ainda sinto uma certa perplexidade diante dos meus próprios erros de avaliação sobre alguns grupos de pessoas ou de indivíduos, em particular. Minha lista de 2008 inclui os americanos que elegeram Obama, o técnico Celso Roth, do imortal tricolor, e, a Natália, minha ex-colega na comunicação social da prefeitura de Esteio. Nunca imaginei que Barak Obama chegasse à presidência dos Estados Unidos. Não pela falta de carisma deste jovem político, pois esta é a sua mais evidente qualidade, mas por conta do conservadorismo cultural do povo americano. Um país que viveu os enfrentamentos étnicos de forma radicalmente explícita em tempos nem tão distantes dos dias atuais. Além do que, o Obama tem nome e sobrenome de muçulmano, outra barreira diante do pânico da nação americana pela iminênci...

Crises

A quantas crises você já sobreviveu até hoje? Não estou referindo às crises existenciais ou familiares, mas sim ao fator externo dos abalos político-econômicos nacionais e internacionais que, vez por outra, surgem para nos avisar do fim dos tempos. A mais remota de que tenho lembrança foi a Crise do Petróleo de 1973. Deflagrada por uma guerra entre árabes e israelenses. Resultado, o petróleo sumiu e encareceu absurdamente da noite para o dia. O mundo, é claro, entrou em pânico. Nos anos oitenta grassou a hiperinflação no Brasil, produzindo remarcações diárias nos preços dos supermercados e bancos abarrotados de gerentes de conta, pessoas que cuidavam das aplicações diárias dos clientes no famoso over. Aí apareceu o ministro Dílson Funaro e o seu Plano Cruzado. A vaca foi pro brejo, literalmente. O gado sumiu do pasto e as prateleiras dos mercados ficaram vazias. Preços congelados e nada para se comprar. Lembro que estava na praia, em Santa Catarina, e todo dia encarava a fila do frango...

Plano B

A vida é incerta em quase todos os sentidos. Então o jeito é ter um Plano B para encarar a realidade quando o nosso Plano A sair do controle. A profissão, por exemplo, às vezes a carreira não decola, aquele emprego estável e bem-remunerado nunca chega, a posição de destaque alcançada a duras penas dentro da empresa desaparece em um programa de demissões ou o empreendimento próprio despenca numa espiral vertiginosa. Enfim, tudo pode acontecer. Melhorar de vida é coisa fácil de se acostumar, mas perder o status conquistado e ver minguar as perspectivas pessoais é um desafio extremo que pode levar à depressão, ou, em casos extremos, até acabar com a vida das pessoas. Um bom Plano B precisa contemplar o ajuste rápido ao rompimento de uma, ou mais, das bases que estruturam nossas vidas. Na teoria parece simples. É preciso considerar ainda que sucesso financeiro e profissional, embora importantes, são apenas parte da estrutura que dá suporte às nossas existências. Outros aspectos são fundame...

Meia idade

Envelhecer é um fato inexorável. Exceto para os que morrem antes. Outro dia, um amigo de infância projetava o tempo que nos resta para realizar novos projetos utilizando a expressão “a gente que está na meia idade”. Aí resolvi questionar o conceito de meia idade. Ora, estou com 51 e só conheço uma única pessoa com mais de cem anos. Esta definição de meia idade é muito otimista. Pois bem, se a expectativa média de vida para os gaúchos, conforme foi divulgado em uma pesquisa recente, está na ordem de 75 anos, eu já adentrei pela terceira e última parte desta louca aventura que é a vida de um ser humano. Ainda há que se considerar que, salvo os acidentes de percurso, ninguém morre por estar cheio de saúde. Ou seja, via de regra, surge uma doença que ao final de seu curso desemboca na morte do indivíduo. Este processo costuma variar de caso para caso, mas vamos especular que na velhice seja razoável passar uns cinco anos sob um calvário de remédios, exames médicos e eventuais baixas em hos...

Gorbi

Ele viveu exatos quatorze anos, seis meses e dezesseis dias. Gorbi era um pastor-alemão de pelagem muito negra e os olhos amarelados de lobo. Seu pelo não era propriamente preto, se aproximava mais do grafite, sendo quase preto, com fios grossos e espetados na garupa e macios nas laterais do tronco. Muito grande, belo e assustador, mas absolutamente tranqüilo. Certa vez interrompi nossa corrida dominical pelo parque, sim o Gorbi também era meu companheiro de malhação, para assistir um grupo de patinadores que iniciava uma apresentação ao ar livre. Mantive-o preso à guia, imediatamente às minhas costas, quando de repente ouvi o grito desesperado de uma mulher. Seu bebê com pouco mais de um aninho havia se afastado da mãe e caíra sobre o Gorbi, agarrando-se ao focinho do cão. Naturalmente a mãe previu o pior. Mas o Gorbi apenas grunhiu baixinho e tascou uma lambida molhada na cara da criança. Virou o herói do parque, reunindo mais público para ver o “lobo bom” do que o show de patinação....

Tolerância zero

O assunto que domina as rodas de conversa neste Inverno de 2008 não é a baixa da temperatura nem as Olimpíadas da China, mas uma polêmica Lei Seca do Trânsito. Nem poderia ser diferente. De um dia para o outro, os motoristas brasileiros acordaram com uma Lei que penaliza qualquer consumo de bebida alcoólica detectável por aparelho de uso fiscalizador. É a Tolerância Zero. A Lei nasceu a partir de um verdadeiro clamor público por medidas mais severas para coibir a avalanche de acidentes com mortos e feridos em nossas estradas e cidades, sobretudo nos feriadões e nos finais de semana. Desde sua promulgação, a imprensa vem divulgando pesquisas em que se revela um apoio significativo dos motoristas entrevistados ao endurecimento da norma legal. A mim surpreendeu negativamente este rigor da tolerância zero. O ato de beber com moderação, tido como natural por gerações após gerações de pessoas que dirigem automóveis, passou a representar uma infração criminosa. A diferença entre o motorista q...

Modismos

Cada parcela da civilização é um reflexo da sua cultura e das idéias que predominam em determinado período e local da história. Assim mudam os tempos, surgem novos hábitos e, com eles, os modismos. Não me refiro apenas ao jeito de se vestir, as manias de consumo, as preferências por isto ou aquilo como na decoração dos ambientes, mas sim a determinados estilos pessoais e algumas habilidades que ganham ênfase em épocas específicas. Dentre as modas de hoje, tem uma que me chama atenção pelo peculiar sucesso que faz entre os jovens casais emergentes. É tal onda do homem que “sabe cozinhar”. Não me refiro ao domínio herdado de ancestrais em reproduzir receitas antigas da família ou da sua região de origem. A moda que me refiro é a do homem metido a chef, o gourmet sofisticado que entende de vinhos e de temperos exóticos. Um personagem comum em nossa era. Este tipo de cozinheiro não prepara refeições, na verdade ele executa uma arte cheia de segredos na elaboração de pratos, que refere como...