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Ao patrocinador

A quem se interessar em ser o mecenas da minha felicidade. Sou uma pessoa de bem com a vida, mantenho pequenos vícios sem culpa e gosto muito daquelas pessoas que considero essenciais no roteiro da minha existência, sendo capaz de quaisquer sacrifícios para ter a satisfação de vê-las bem e felizes. Considero meus amigos um patrimônio intangível de primeira grandeza e, embora tenha um visceral estilo low profile, gosto da minha profissão. Dito isto, devo dizer que não tenho aquele tipo de sonho "coisas para fazer ou lugares para visitar antes de morrer". Se der eu faço, se puder eu vou, mas se não for possível eu me garanto feliz com o que está ao meu alcance, indo até onde meu carro me levar e aonde minha intuição apontar. Não sou conformado, apenas não gosto de ser programado. Então, após um cálculo bastante heterodoxo, estabeleci que o valor do meu patrocínio para seguir despreocupado, além de feliz que já sou, é de 1 milhão e 400 mil reais, que aceito receber em m...

A última jornada

A morte levou meu pai no auge da sua juventude, tinha 33 anos quando foi vitimado por uma leucemia severa, impedindo que acompanhasse o crescimento dos filhos, eu com dois anos e meio e meu irmão com pouco mais de um ano. Para compensar, a vida me deu duas mães. Lorita, minha mãe biológica, lutadora incansável que sempre superou suas limitações financeiras para dar uma vida decente e um futuro melhor para seus filhos e netos. E Zenóbia, minha sogra, que por quase três décadas morou comigo e minha esposa, uma convivência rica e tumultuada, provando que algumas pessoas têm uma forma rara de afinidade natural, capaz de transformar rusgas em cumplicidade. Em 2013, as matriarcas da minha vida entraram em colapso, sendo internadas em residenciais para idosos quase ao mesmo tempo. Lorita em Gramado e Zenóbia em Porto Alegre. Minha mãe, embora mais jovem, 77 anos, atingiu um estágio avançado e terminal do Mal de Parkinson, aprisionada em uma cadeira de rodas, necessita de cu...

2013

Os maias previram o fim de um ciclo para o final de 2012. Milhares de leituras e interpretações do calendário maia pipocaram através da web, em publicações impressas, documentários e rodas de conversas pelo mundo. Enfim, o sol se pôs na data limite e amanheceu no dia seguinte a despeito de tudo. Mas vamos admitir que 2013 está sendo um ano punk. Aqui no sul começou com a tragédia de Santa Maria e depois foi a vez do Mercado Público de Porto Alegre, duas vezes com o fogo sendo o elemento do terror. Falo com conhecidos e amigos, ouvindo relatos de um ano difícil, a economia emperrada às vésperas da Copa do Mundo, o pessoal da hotelaria desestimulado com o que seria o grande ano da véspera. Manifestações gigantescas com o povo nas ruas desmascarando a imagem do país que se dizia a grande efervescência de prosperidade, liberdade e grandes perspectivas. O milionário símbolo da pujança nacional afundando vertiginosamente na cotação das bolsas, simbolizando a fragilidade do f...

Juno

Os gatos estão na moda. Então é hora da falar da Juno, a gatinha branca com manchas arredondadas de cinza e preto que tomou conta da minha casa. Foi adotada da rua, ainda filhote. Passou pela necessária triagem dos abandonados e afora um desarranjo, já instalado, foi considerada lépida e faceira para conhecer o Fidélis e o Panzer. Conta minha mulher, que Juno a procurou no primeiro contato, se roçou e ronronou para garantir seu greencard na casa dos animais felizes, Lotação completa, Juno preencheu a única vaga em aberto. Já se passam mais de dois anos e ela se transformou na grande diva do pedaço. Com meu pastor-alemão tem uma relação que beira o namoro impossível entre a bela e a fera, mas a considerar o seu domínio sobre o lobo gigantesco, a fera é ela. Com Fidélis, o exótico de 13 anos, construiu uma convivência transformadora. Seu poder de atração fez o velho gatinho, quase autista, voltar a brincar de pega-pega, quando ela dá verdadeiras piruetas em torno d...

A favor de Pedro

Faz pouco tempo que compreendi como foi que São Pedro ficou com as chaves da Santa Igreja, tendo negado conhecer o Cristo por três vezes na noite em que os romanos iniciaram as autuações, da então provavelmente batizada, Operação Crucifixo. Amarelou? Essa foi a imagem que ficou estampada nos textos dos apóstolos que redigiram o Novo Testamento, e eram quatro fontes diferentes, depois vieram os padres e a repetiram infinitamente, mesmo assim o prestígio de Pedro se manteve intacto. É preciso admitir que o guardião do céu é também uma receita perfeita do módulo católico de resgate e perdão: neguei, me arrependi e agora dedico o que resta das minhas forças para construir a Sua glória. Assim, assumindo o lado capitalista da força, se tornou o primeiro ministro eterno do mestre supremo. Mas tornou-se um santo distante das pessoas, é homenageado secularmente ao se batizarem estados geopolíticos, aqui mesmo habitamos a Província de São Pedro, ou para identificar escolas, igre...

Tolerância e fé

Por que tão poucas pessoas são capazes de compreender as coisas além do campo ideológico em que estão inseridas? É uma insensatez achar que tudo precisa caber em convicções que foram criadas por pessoas tão erráticas quanto eu e você. Na maioria das vezes, posições exageradas pela vaidade e ou pela loucura dos seus autores. Eu valorizo a fé e não frequento nenhum culto religioso, tanto admiro o Papa Francisco quanto o Dalai Lama, vejo qualidades nos Estados Unidos que faltam ao Brasil, mas nem por isto acho que o nosso país deva copiar os americanos, porque somos diferentes. E também vejo virtudes na cultura alemã e até em nossos vizinhos argentinos, entretanto creio que nossa mistura de etnias e dimensões continentais agregam algumas de nossas apreciadas vantagens, reconhecidas por outros povos. Não posso conceber que os limites ideológicos ceguem nossa capacidade de convívio e que tenhamos que portar bandeiras para tudo que signifique “nossas opiniões”. Opiniões mudam,...

O julgamento

Qualquer pai mais ou menos responsável e amoroso em algum momento da vida deveria refletir sobre qual vai ser a imagem que irá deixar para os seus filhos. Se esta imagem será uma grata recordação ou um travo de amargura. Não é o tipo de coisa que se vá pensar a toda hora, até porque a vida nos impõe dezenas de ocupações diárias e necessárias ao mais básico dos projetos, a sobrevivência da família. Mas é justamente neste ponto que principia a questão do que ficará de lembrança. Um filho precisa de vivências compartilhadas com o seu pai, só assim ele terá memórias. Dificilmente um pai conectado com seus filhos, protetor e amigo, educador e generoso, não será lembrado como um porto seguro para onde eles se dirigem nas suas tormentas. O pai é o farol da vida. A mãe, me parece, representa a compreensão da vida, aquela fonte da qual fomos paridos e de onde ninguém deveria ser rejeitado. Este já é outro capítulo. Mas ao pai cabe o direcionamento, mesmo às vezes sem ter a convicção...