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Postagens

Blondie

Eu nunca escrevi sobre a pastora-alemã que incendeia a rotina particular lá de casa: a Blondie. Blondie tem três anos e meio, é a campeã dos apelidos, só para registrar os mais pronunciados: Kika, Muki, Negaloka, Bilé e Mukika. Segundo minha esposa, a Blondie é trelelé, um equivalente aquela cara zonza do Zé Lelé, o primo caipira do Chico Bento. Pois a Blondie é a trelelé com o ouvido mais aguçado do reino canino, também uma incansável guarda da casa com seus latidos de xingamento distribuídos a toda sorte de estrangeiros e passantes barulhentos da minha rua. Na hora do passeio Blondie se transforma em uma dócil princesa da raça. Indiferente a tudo e a todos só tem olhos para sua dona, ou seja, um privilégio exclusivo pois se a caminhada for comigo sofre um déficit imediato de alegria, da ordem de cinquenta por cento. Então meu parceiro de passeios é o Panzer, o super pastor-alemão da família que, além de distribuir habilmente sua atenção aos donos, exige um braço de ferro por pa...

Natureza humana

A despeito da minha aparente calma bonachona (ilusão de ótica provocada pela barriga razoável que aderiu ao meu ego), sou um espírito inquieto. Passo os dias da minha vida buscando transformações de toda ordem, mesmo que bem adaptado aos arreios que a vida, pouco a pouco, foi maneando em meu ser ao longo dos anos. O convívio com a loucura alheia é uma das coisas que menos me apoquenta. Meu foco é mais internalizado e pessoal. Protagonizar minha própria natureza é tema de pródiga suficiência para instigar as fontes de lava da minha ânsia inata por discernimento e prazer. Discernimento e prazer. Quase tudo que um reles ser humano pode desejar e uma combinação difícil de manter em sincronia colaborativa. O discernimento tende a domesticar o prazer, enquanto este tem por hábito evitar o acompanhamento do primeiro. Mas quando se entendem: tudo fica melhor. Neste exato momento estou decidido a promover novas mudanças de hábitos para muito breve, são decisões proteladas por múltiplas contingê...

No espelho

Acabo de retornar do café com os amigos da catrefa, nome com que batizamos nosso heterogêneo grupo de convivas que diariamente comparece à divertida mesa do fumódromo, no térreo do prédio onde trabalho. Hoje discorríamos sobre um fato que é ao mesmo tempo trivial e intrigante, surgido por alguma razão que me foge à memória, que é a questão da imagem que vemos diante do espelho. Sérgio, André e Eu questionávamos se a imagem espelhada é idêntica a imagem vista por quem nos olha e, após inúmeras elocubrações e tantas incertezas, ficou evidente a dúvida que pairava sobre nossas melhores convicções sobre o evento. O esclarecimento começou a surgir após imaginarmos nossa própria imagem colocada diante de nós em duas versões: a imagem refletida no espelho e a imagem capturada em vídeo, exibida em uma tela grande ao lado do espelho. Veríamos a nossa imagem espelhada e outra capturada, ao mesmo tempo. E nos daríamos conta das incríveis diferenças entre as duas projeções. A começar pelo absurdo ...

Voltei

Este é meu primeiro post em 2011. Retorno pelo dever que me impus de manter vivo este Blog. No momento, estou atravessando o deserto do meu desejo de comunicação, um lugar seco e de limites incertos, onde meu espírito se arrasta com passos de robô nestes modorrentos dias do Verão de La Niña. Prossigo trabalhando e adiando minhas quase utópicas férias de uma semana em algum lugar onde a beleza da paisagem combine com mínima presença humana. Não tenho queixas a fazer nem do que me ufanar. Apenas sigo andando. Meus oásis são singelos: a privacidade do lar, a companhia doméstica dos seres amados e um que outro encontro de improviso com os amigos de sempre. O mundo exterior pouco exerce influência sobre o piloto automático do meu estado de espírito, dominado por uma calma asséptica e desinteressada. Agora a pouco surgiram indícios que prometem resgatar aquele pulsar efervescente de entusiasmo e a verve irreverente de que se alimenta minha imaginação. Um livro, uma biografia de mil páginas, ...

Peladeiro

Interrompo minhas férias literárias para comemorar uma revelação. Aproveitando as reflexões inevitáveis neste intercurso do ano calendário, vi uma chamada do canal Discovery para um documentário chamado Pelada Futebol Puro, que está estreando na tevê a cabo e que, com certeza, vou apreciar muito. No decurso imediato desta vinheta me veio a descoberta Aristotélica de que eu sempre fui um peladeiro de respeito. Eureka! Existe uma passagem dimensional entre o espaço da pelada e as quatro linhas desenhadas na grama ou no parquê, entre sem camisas e com uniformes. Sempre lidei bem com minha frustração por não jogar bem futebol, nem por isto deixei de gostar nem de praticar o irresistível esporte bretão. Agora descobri o porquê de nunca ter me incomodado por ser canela-de-pau. Não se tratava de sublimação da incompetência nata, mas apenas a tranquilidade natural de um peladeiro que sempre foi decisivo nos combates que travou. A pelada é uma recreação vibrante. Desenvolvi portanto uma atitude...

Lá vem o chororô

Quem me conhece sabe bem. Sou integrante daquela legião de pessoas que prefeririam saltar do dia 23 de dezembro para 03 de janeiro do ano seguinte. Sei lá, acampar em Bali, ou mais de acordo com minhas possibilidades, em uma curva bem escondida do Lajeado Grande, nos Campos de Cima da Serra. Já conto dois dias de distância do Natal e do Ano Novo, que é para incluir a correria atrás de presentes e a ressaca da virada. Mas estarei estoicamente próximo de todo chororô desta transição, apenas um pouco mais recluso e absorto por tarefas comezinhas. Diante dos encontros que eu não puder evitar estarei sorrindo e refletindo sobre as bênçãos contidas em qualquer copo graúdo com uísque escocês e gelo. Brabo mesmo é aguentar o chororô de sempre, as promessas de transformação e os abraços etílicos da galera que nem gosta de você, mas aproveita cada fim de ano para confessar que te ama. Psiquiatra de plantão deve atender ocorrências de meia em meia hora. Então me despeço dos sete leitores que aind...

Democracia

Outro dia ouvi um líder empresarial sentenciar que democracia não combina com gestão empresarial vencedora. A frase foi pronunciada por um indivíduo que se orgulha de ler sobre tudo que possa interessar para inovação e competitividade do seu negócio neste “admirável mundo novo”. O poder inseguro detesta o ambiente democrático, na primeira oportunidade os tiranos da mediocridade saem do armário e passam a mascarar sua insegurança com autoritarismo. Isto significa, entre outras coisas, utilizar o poder de demitir como uma arma de intimidação sobre colaboradores e prepostos, reduzindo a gestão a um arsenal de ordens a cumprir. O meio democrático é o ambiente mais saudável para se fazer prosperar as estratégias mais importantes em todo tipo de organização. Onde mais lideranças podem expressar opinião e participar das tomadas de decisão, tanto mais pessoas comprometidas são conquistadas para o engajamento nas causas vitais da empresa. Comandar é saber lidar com inúmeras pressões, mas também...