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Peladeiro

Interrompo minhas férias literárias para comemorar uma revelação.

Aproveitando as reflexões inevitáveis neste intercurso do ano calendário, vi uma chamada do canal Discovery para um documentário chamado Pelada Futebol Puro, que está estreando na tevê a cabo e que, com certeza, vou apreciar muito.
No decurso imediato desta vinheta me veio a descoberta Aristotélica de que eu sempre fui um peladeiro de respeito.

Eureka!
Existe uma passagem dimensional entre o espaço da pelada e as quatro linhas desenhadas na grama ou no parquê, entre sem camisas e com uniformes.
Sempre lidei bem com minha frustração por não jogar bem futebol, nem por isto deixei de gostar nem de praticar o irresistível esporte bretão.

Agora descobri o porquê de nunca ter me incomodado por ser canela-de-pau. Não se tratava de sublimação da incompetência nata, mas apenas a tranquilidade natural de um peladeiro que sempre foi decisivo nos combates que travou. A pelada é uma recreação vibrante.
Desenvolvi portanto uma atitude bonachona típica dos fortes naturais, humildes a ponto de nem reconhecerem seus feitos como algo digno de menção, afinal o importante sempre foi (e ainda é) o prazer da pelada em si, ainda mais quando é seu território nato. Credo, como sou humilde.

Devo dizer a título de informação que meus melhores anos transcorreram entre 1971 e 1989, quando rompi um ligamento lateral interno do joelho direito. Portanto, devido ao vácuo de imagens por conta da minha condição financeira nos anos citados, além da oferta tecnológica mais escassa daquela época, meus leitores terão que se contentar com meu depoimento e avaliação própria.
Certamente haverá quem duvide, mas o importante de uma revelação é seu caldo pessoal de significância.

Assim encerro este arisco ano de 2010 com a alma lavada. Muito boa esta memória recuperada à luz do conhecimento atual: o velho peladeiro ainda vive e sabe que seu mundo, embora menor nas quatro linhas do tempo, se expande no discernimento e na apreciação da beleza das coisas simples.
Então tudo vale a pena, ou nas palavras do meu impagável amigo Pepê: "puxa o ar e volta”.

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