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Postagens

José Saramago

Na paz de seu exílio voluntário se esfumaçou a vida de José Saramago. Fiquei vendo pela tevê a imagem do caixão negro levando os restos mortais do grande escritor para ser velado em sua cidade natal. A partir de agora poderemos avaliar a verdadeira importância deste pensador erudito e mordaz em sua prosa, um artífice da palavra que causa perplexidade e emoção constante através do seu texto sinuoso e quase sem as necessárias paradas para se recuperar o fôlego. Saramago tinha o humor dos amargos, um comunista cínico com verve de aristocrata. Era um ateu a procurar por Deus através da metódica demolição das hipocrisias seculares e, com sua morte, certamente se transformará em um mito de muitas lendas. Nos últimos anos, dois romancistas contemporâneos realmente me empolgaram com o caráter instigante de suas obras. Pelo aspecto mais mundano, o escritor cubano Pedro Juan Gutierrez, e nas trilhas da angustiante existência humana, José Saramago. Um privilegiado pela vida este cidadão português...

Vá procurar sua turma

Tem coisas que a gente faz por necessidade e outras para satisfazer aquela parte da nossa existência que Freud denominou como Ego. O cotidiano e as circunstâncias que determinam parte importante dos nossos esforços, incluindo medos e inseguranças, produzem uma cegueira significativa em nossa percepção. Não conseguimos enxergar o quanto de nós mesmos está atrelado a programas obrigatórios, enfadonhos e frustrantes, bem além do que precisaríamos. Por que perdemos tanto tempo com pessoas e atividades que nos deprimem? Seguindo a doutrina freudiana, o prazer alimenta nosso desejo de viver, alegra e nos faz aproveitar melhor as boas coisas da vida. Estar em casa. Conviver com amigos. Jogar futebol. Passear. Ler um livro. Preparar um jantar. E por aí vai. Do outro lado da moeda estão aquelas atividades que nos aborrecem, mas que precisamos dar conta, afinal nem todo mundo é filho de pai rico. Eventos chatos, pessoas enfadonhas ou metidas a besta, parentes malas, festas onde não se conhece ni...

Mr. Milk

O trabalho em publicidade é feito de raros momentos inspirados, longas horas de transpiração e muita correria para dar conta das expectativas demandadas pelos prazos. Entre as melhores características desta profissão está o seu potencial de promover amizades verdadeiramente genuínas com alguns clientes que, ao longo do tempo, são consolidadas através da empatia e da confiança mútuas.Pois tem um amigo cliente, de inteligência incomum e autêntica generosidade de caráter, ao qual refiro aqui como Mr. Milk, que às vezes, protagoniza momentos divertidíssimos nos contatos rotineiros. Veja a pérola de sua resposta a um e-mail que lhe enviei no último verão, tratando de assuntos de trabalho e sugerindo um encontro de happy-hour. Minha mensagem original continha o texto que segue. Como você sabe estamos trabalhando no desenvolvimento de um novo folder institucional para Sua Empresa e para isto me reuni com pessoas da Sua Direção em contatos individuais, com objetivo de aprofundar a visão da Agê...

The end

Nestas últimas semanas assisti com perplexidade a ocorrência de fatos radicais e opostos se consumarem na vida de amigos muito próximos. Dois eventos envolvendo doenças em certa medida imprevistas, que resultaram em um final feliz e uma perda lastimável. O abençoado pela sorte foi meu amigo General, um gentleman jovial e sorridente de 64 anos de idade. Pois o General acordou indisposto na manhã de uma quarta-feira, com um discreto formigamento no braço direito e uma queimação no peito, semelhante ao sintoma de azia. Neste dia o desjejum lhe desceu indigesto, mas a sua verve não alarmista o fez dar algum tempo para seu organismo se refazer, afinal após seis décadas vividas em variados tipos de condição, o corpo deu provas de ser capaz de suportar alguns sacolejos do metabolismo e certas marés do funcionamento digestivo. A manhã se arrastou incômoda para o General. Compareceu ao cafezinho social diário, mas seus companheiros não apareceram. Ainda assim tomou um expresso e fumou um ou doi...

Quórum

Um amigo hi-tech veio informar que meu blog tem uma boa estatística de leitura.Fiquei animado, afinal não tenho a mínima idéia de como verificar as tais estatísticas de acesso ao meu próprio espaço de divulgação na web. Sou um “analfabyte” como outro dia ouvi de um ator vetereno, falando da sua falta de habilidades com as ferramentas eletrônicas de conexão com o mundo virtual. Meus conhecimentos se limitam a transferir o texto original redigido no word para o conteúdo do blog e, às vezes, ousadia suprema, troco o layout básico por alguma das opções prontas que o cardápio do blogspot me oferece. Tudo isto para dizer que fiquei satisfeito ao saber que o meu humilde depósito de postagens é visitado por mais leitores do que estimei em meu projeto original. Outro dia comemorei o comentário do Iuri, um cara que conheci através de um amigo em comum, o Tiago. Tivemos um único e breve contato, onde ele me falou que estava acompanhando meu blog. Achei muito bacana saber que meu texto pudesse est...

Fobias

Nunca fiz análise, mas estou certo de que demandariam longos anos de conversa para alinhavar os meandros labirínticos da minha alvorotada psique. Não o fiz por razões financeiras, porque o tratamento psicanalítico com um analista qualificado é coisa cara. Diria até que se trata de um consumo restrito à pessoas de um pedigree econômico acima da minha condição. Sendo assim, fui elucidando as charadas do meu inconsciente a trancos e barrancos. Pior de tudo foi lidar com a minha coleção particular de fobias, algo que hoje consigo olhar de uma forma natural e, às vezes, até divertida. Felizmente superei quase todas. Do medo de altura restou o receio precavido que me leva a evitar exposições desnecessárias em sacadas muito altas e aqueles esportes radicais onde o excitante é provar a emoção do perigo. Da minha velha claustrofobia fiquei vacinado e, nas raras oportunidades em que tenho uma inevitável viagem aérea programada, me comporto tão dignamente dentro do avião que nem as mais treinadas...

Madonna barangou

Lembro do Léo Jaime cantando “quando eu crescer a minha vida não vai ser bundona, mamãe quando eu crescer, eu vou comer a Madonna”. Mas o tempo é inexorável com todos os seres humanos, daquela menina pela qual a gente morria de tesão no tempo do colégio e, normalmente, não tinha coragem nem de chegar perto até a Madonna, que prometia jamais envelhecer. Na última turnê em que passou pelo Brasil, a diva do pop vestiu uma espécie de maiô preto bem cavado na bunda que já destruiu minhas fantasias sobre aquele corpo feminino malhado e sexy, não consegui esquecer daquela silhueta achatada e tive a nítida impressão de que, afora a excelência da musculatura, o frescor da pele jovem com aquela gordurinha firme que dá suporte ao revestimento da mulher em seus dourados vinte e poucos anos, definitivamente pertencia ao passado. Mais recentemente abro um jornal e lá está Madonna ao lado do governador de São Paulo, bem vestida e de acordo com um encontro marcado pela oficialidade. Também lá está a m...