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Postagens

Mr. Milk

O trabalho em publicidade é feito de raros momentos inspirados, longas horas de transpiração e muita correria para dar conta das expectativas demandadas pelos prazos. Entre as melhores características desta profissão está o seu potencial de promover amizades verdadeiramente genuínas com alguns clientes que, ao longo do tempo, são consolidadas através da empatia e da confiança mútuas.Pois tem um amigo cliente, de inteligência incomum e autêntica generosidade de caráter, ao qual refiro aqui como Mr. Milk, que às vezes, protagoniza momentos divertidíssimos nos contatos rotineiros. Veja a pérola de sua resposta a um e-mail que lhe enviei no último verão, tratando de assuntos de trabalho e sugerindo um encontro de happy-hour. Minha mensagem original continha o texto que segue. Como você sabe estamos trabalhando no desenvolvimento de um novo folder institucional para Sua Empresa e para isto me reuni com pessoas da Sua Direção em contatos individuais, com objetivo de aprofundar a visão da Agê...

The end

Nestas últimas semanas assisti com perplexidade a ocorrência de fatos radicais e opostos se consumarem na vida de amigos muito próximos. Dois eventos envolvendo doenças em certa medida imprevistas, que resultaram em um final feliz e uma perda lastimável. O abençoado pela sorte foi meu amigo General, um gentleman jovial e sorridente de 64 anos de idade. Pois o General acordou indisposto na manhã de uma quarta-feira, com um discreto formigamento no braço direito e uma queimação no peito, semelhante ao sintoma de azia. Neste dia o desjejum lhe desceu indigesto, mas a sua verve não alarmista o fez dar algum tempo para seu organismo se refazer, afinal após seis décadas vividas em variados tipos de condição, o corpo deu provas de ser capaz de suportar alguns sacolejos do metabolismo e certas marés do funcionamento digestivo. A manhã se arrastou incômoda para o General. Compareceu ao cafezinho social diário, mas seus companheiros não apareceram. Ainda assim tomou um expresso e fumou um ou doi...

Quórum

Um amigo hi-tech veio informar que meu blog tem uma boa estatística de leitura.Fiquei animado, afinal não tenho a mínima idéia de como verificar as tais estatísticas de acesso ao meu próprio espaço de divulgação na web. Sou um “analfabyte” como outro dia ouvi de um ator vetereno, falando da sua falta de habilidades com as ferramentas eletrônicas de conexão com o mundo virtual. Meus conhecimentos se limitam a transferir o texto original redigido no word para o conteúdo do blog e, às vezes, ousadia suprema, troco o layout básico por alguma das opções prontas que o cardápio do blogspot me oferece. Tudo isto para dizer que fiquei satisfeito ao saber que o meu humilde depósito de postagens é visitado por mais leitores do que estimei em meu projeto original. Outro dia comemorei o comentário do Iuri, um cara que conheci através de um amigo em comum, o Tiago. Tivemos um único e breve contato, onde ele me falou que estava acompanhando meu blog. Achei muito bacana saber que meu texto pudesse est...

Fobias

Nunca fiz análise, mas estou certo de que demandariam longos anos de conversa para alinhavar os meandros labirínticos da minha alvorotada psique. Não o fiz por razões financeiras, porque o tratamento psicanalítico com um analista qualificado é coisa cara. Diria até que se trata de um consumo restrito à pessoas de um pedigree econômico acima da minha condição. Sendo assim, fui elucidando as charadas do meu inconsciente a trancos e barrancos. Pior de tudo foi lidar com a minha coleção particular de fobias, algo que hoje consigo olhar de uma forma natural e, às vezes, até divertida. Felizmente superei quase todas. Do medo de altura restou o receio precavido que me leva a evitar exposições desnecessárias em sacadas muito altas e aqueles esportes radicais onde o excitante é provar a emoção do perigo. Da minha velha claustrofobia fiquei vacinado e, nas raras oportunidades em que tenho uma inevitável viagem aérea programada, me comporto tão dignamente dentro do avião que nem as mais treinadas...

Madonna barangou

Lembro do Léo Jaime cantando “quando eu crescer a minha vida não vai ser bundona, mamãe quando eu crescer, eu vou comer a Madonna”. Mas o tempo é inexorável com todos os seres humanos, daquela menina pela qual a gente morria de tesão no tempo do colégio e, normalmente, não tinha coragem nem de chegar perto até a Madonna, que prometia jamais envelhecer. Na última turnê em que passou pelo Brasil, a diva do pop vestiu uma espécie de maiô preto bem cavado na bunda que já destruiu minhas fantasias sobre aquele corpo feminino malhado e sexy, não consegui esquecer daquela silhueta achatada e tive a nítida impressão de que, afora a excelência da musculatura, o frescor da pele jovem com aquela gordurinha firme que dá suporte ao revestimento da mulher em seus dourados vinte e poucos anos, definitivamente pertencia ao passado. Mais recentemente abro um jornal e lá está Madonna ao lado do governador de São Paulo, bem vestida e de acordo com um encontro marcado pela oficialidade. Também lá está a m...

Bola pra frente

Talvez a diferença mais óbvia entre o estado depressivo e a vigília natural que garante nossa sobrevivência, seja uma coisa chamada “capacidade de reação”. Quem está vivo reage às pressões da vida, sejam elas quais forem. O deprimido de certa forma não está bem vivo, sua mórbida indiferença o arrasta ao sabor da corrente. Na depressão existe o torpor de se deixar morrer. Aí começa uma conversa capaz de reunir psicanalistas e filósofos por semanas a fio. Mas não estou particularmente interessado neste debate, apenas utilizo a metáfora para expressar a minha abençoada reatividade diante das ameaças que rondam meu modesto modo de vida. Abençoada porque me acorda quando os ventos sopram fortes e preciso fechar as janelas e retirar as cadeiras do alpendre, ou quando me avisa para ter calma e fé na hora de tomar decisões e me posicionar diante de situações e pessoas. Minha forma de reagir não costuma ser ostensiva, ao contrário, vem lentamente se aquecendo em banho-maria até ficar no ponto ...

Brasileiros

A consternação geral diante da tragédia do Haiti tem o cruel agravo da miséria quase absoluta que acomete a vida dos nossos simpáticos irmãos caribenhos. Se parecia impossível imaginar que algo pudesse piorar a situação daquele povo, o terremoto deste início do ano provou que a gente não tem muita imaginação. Até onde vai a resistência emocional de uma nação que, há muito, se vê privada das mínimas perspectivas de um futuro melhor, quando ainda é tragada pelo terror da destruição e da morte em escala de extrema irracionalidade. A fome e o desespero dos sobreviventes, muitos feridos privados de socorro médico e pessoas catatônicas com a terrível sina de peregrinar entre entulhos impregnados com o cheiro da morte, somente perdendo em grau de horror para as inúmeras vítimas que agonizaram por dias e dias sob montanhas de caliça e vigas de concreto. E lá estão brasileiros com a missão de minorar o drama humano desta gente. O exército da ONU sob comando tupiniquim trabalha com abnegação par...