Talvez a diferença mais óbvia entre o estado depressivo e a vigília natural que garante nossa sobrevivência, seja uma coisa chamada “capacidade de reação”.
Quem está vivo reage às pressões da vida, sejam elas quais forem.
O deprimido de certa forma não está bem vivo, sua mórbida indiferença o arrasta ao sabor da corrente. Na depressão existe o torpor de se deixar morrer.
Aí começa uma conversa capaz de reunir psicanalistas e filósofos por semanas a fio.
Mas não estou particularmente interessado neste debate, apenas utilizo a metáfora para expressar a minha abençoada reatividade diante das ameaças que rondam meu modesto modo de vida.
Abençoada porque me acorda quando os ventos sopram fortes e preciso fechar as janelas e retirar as cadeiras do alpendre, ou quando me avisa para ter calma e fé na hora de tomar decisões e me posicionar diante de situações e pessoas. Minha forma de reagir não costuma ser ostensiva, ao contrário, vem lentamente se aquecendo em banho-maria até ficar no ponto de ser servida aos meus instintos e à minha razão, quando enfim surge a calma silenciosa que me disciplina para agir.
É exatamente este o meu estado de espírito neste alvorecer da década de 2010.
Já não sinto saudade das coisas que perdi, mas preservo a ancestralidade de tudo que sempre valorizei na vida, coisas simples e prazeres prosaicos. Sou um silvícola de espírito, quero apenas um lugar de paz para viver, natureza viva por perto e alguns bons amigos para compartilhar idéias e vivências.
Abro as portas da frente e vejo meus cães pastores absolutamente estirados na grama no mais profundo dos sonos, ao longe um revoar de pássaros me avisa que a vida se movimenta em todos os foros da existência e o aroma do café recém passado me traz a sensação quase prazerosa de iniciar a nova jornada.
Feito um samurai urbano dou partida no meu carro, sintonizo o meu dial da informação e, com as primeiras brisas do ar condicionado tocando meu rosto, sigo para a batalha. Bola pra frente!
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