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Psicopatas

Segundo estimativa de uma pesquisa psiquiátrica recentemente realizada nos Estados Unidos da América, cerca de 4% da população adulta americana tem o que podemos chamar de personalidade psicopata. Deste universo, uma parte é representada pelo sexo feminino e as outras três partes por marmanjos. É muito psicopata vivendo na terra de Tio Sam. Como seria esta realidade transposta para o Brasil? Talvez as variações estatísticas dependam menos de fatores culturais e mais dos aspetos genéticos da raça humana. Enfim, merecemos uma pesquisa deste tipo. Já está dito que a personalidade psicopata não tem cura e que tampouco significa delírio psicótico ou manifestações maníacas de ordem patológica. Trata-se de indivíduos que não possuem sentimentos de empatia e desconhecem piedade diante dos sofrimentos alheios. O psicopata é inteligente, entende todos os mecanismos da emoção humana e os manipula ardilosamente para retirar tudo o que lhe aprouver de outrem. Nos extremos, esta desordem incurável, ...

Bom conselho

A polícia dos Estados Unidos cumpre uma formalidade extremamente útil para qualquer indivíduo que seja alvo de prisão, pronunciando em voz alta aquela frase que o cinema tornou conhecida do resto do mundo: “você tem direito a ficar calado, pois tudo o que você disser poderá ser usado contra você”. Santa advertência Batman! Tudo, absolutamente tudo, que a gente diz tem um potencial enorme de reverter contra o nosso próprio território. Afinal quem nunca se contradiz, quem não muda de opinião de vez em quanto ou não omite detalhes em nome de preservar recantos sagrados da discrição pessoal? Paradoxalmente as pessoas nunca foram tão escancaradas e indiscretas nas suas confissões e julgamentos. Já sabemos da delação premiada. Somando-se a isto esta ânsia coletiva pela celebridade, nada mais do é dito merece tanto crédito. De qualquer forma, a voz de prisão norte-americana é, também, um bom conselho. Sigmund Freud que nunca prendeu ninguém mas decerto conhecia alguns meios para amenizar a re...

Pet family

O mundo contemporâneo está repleto de tribos novas. Entre elas, as famílias de humanos e animais domésticos, nesta ordem, porque os primeiros pagam as contas e alimentam o clã inteiro. O que mudou na relação entre as pessoas e os seus bichos domésticos? Basicamente o custo de tanto afeto. Animais são caros, não apenas emocionalmente. Cachorros e gatos têm uma imensa rede de indústria, comércio, serviços e inúmeras organizações não-governamentais totalmente dedicadas a eles. Bem verdade que nem todas compartilhando os mesmos objetivos sobre o segmento. A amizade e a parceria entre seres humanos e cães, em particular, é tão antiga quanto os tempos de habitação nas cavernas. Mas já haviam casos de relações extremadas em épocas imemoriais, onde muitos poderosos nutriam verdadeira adoração por um animal de sua propriedade, especialmente cavalos e cães, bem como um desprezo equivalente pela sociedade humana. Quem não ouviu a célebre sentença “quanto mais conheço os homens mais aprecio os ani...

Melancolia

Estou lendo um magnífico ensaio sobre as origens da melancolia ocidental e da sua chegada ao Brasil, desembarcada das caravelas portuguesas e espanholas. O livro é Saturno nos Trópicos e o autor, o nosso imortal das letras, Moacyr Scliar. Tenho este exemplar desde o lançamento da obra, mas somente nestes dias me senti chamado a desvendar seu conteúdo. Sou assim, vivo cercado dos muitos livros que minha esposa me presenteia depois de suas incursões pelas livrarias de Porto Alegre, de outros que os amigos me trazem e uns poucos que eu próprio me dou de presente. Gosto de saber que tenho várias preciosidades à espera do meu desejo e, de vez em quando, vago pela casa a procura de um livro que capture minha alma e me leve por “mares nunca dantes navegados”. E o tema da melancolia me fisgou naturalmente. Estou apreciando especialmente as diferenciações, estabelecidas pela mente sagaz do Scliar, entre depressão, tristeza, tédio e melancolia. Que para mim sempre foram coisas distintas, mas nun...

Saudade

“O fim do termo saudade como um charme brasileiro de alguém sozinho a cismar”, esta frase é um dos diamantes da poesia de Belchior, o grande compositor nordestino recentemente guindado à mídia por estar desaparecido e logo encontrado no Uruguai, onde concedeu entrevista para imprensa anunciando um novo trabalho a caminho. Independentemente deste sumiço ter sido uma estratégia de marketing ou decorrência do acúmulo de problemas pessoais do autor, a obra de Belchior é muito respeitável. Entre tantas qualidades, ela retrata ângulos preciosos de diferentes faces deste sentimento que denominamos saudade. Em outra canção ele diz que “por força deste destino um tango argentino me vai bem melhor que um blues”, ou ainda, naquela letra imortalizada pela voz de Elis Regina “na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói mais”. Sou um saudosista. Tenho saudade das fogueiras gigantescas que minha Escola Marista preparava para a Festa Junina, com a participação dos guris do colégio, que divi...

Malhando

Está fazendo dois meses e duas semanas que frequento uma academia de ginástica. Não reparem, mas pessoas da minha idade falam assim “academia de ginástica”. Três vezes por semana. E o mais inacreditável: estou gostando. É bem verdade que não foi nada alentador nos primeiros dias. Quando cheguei me colocaram em uma esteira eletrônica, acertaram a velocidade recomendada e me deixaram mais desconfiado que cachorro de brigadiano em dia de Grenal. Até então, minha experiência com esteiras se restringia aos três testes ergométricos que realizei em épocas distintas por conta de exames de saúde e, assim mesmo, com as mãos bem agarradas às laterais do trem para não sair dos trilhos. Resultado: desci da geringonça, o mundo continuou a rodar abaixo dos meus pés e cruzei tropeçando por cima do aparelho ao lado. Um mico total. Tive esperanças de que ninguém tivesse visto. A Neca viu. E riu muito. Abstraí e segui em frente. Agora estou mais a vontade, quase um rato de academia. Mas ainda não me acos...

O diabo

Lúcifer, o anjo das trevas. O exilado. Todo católico da minha geração cresceu sob a ameaça implacável de Satã em suas múltiplas manifestações, presente na cátedra da fé desde as primeiras catequeses. Sempre achei a estampa do diabo excessiva e caricata demais para expressar uma persona tão implacável e temida. Por certo merecia uma imagem mais complexa e melhor concebida de embalagem, com perdão da terminologia mercadológica. Porém outros cristãos e alguns poetas agnósticos já haviam abordado este paradigma muito antes de mim, este pessoal antigo é terrível, e dentre eles, o alemão Goethe, construiu lá pelo início do século dezenove, um demônio deveras respeitável. Fausto o protagonista que dá título à sua obra, é o homem que vende a alma para o diabo em troca de recuperar a juventude, obter riqueza e o amor de uma bela mulher. A ironia do autor é que Fausto é um homem de bem, já entrado na velhice, mas que se torna cobaia de uma aposta feita entre Deus e Lúcifer. Afinal, se Lúcifer fo...