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Bom conselho

A polícia dos Estados Unidos cumpre uma formalidade extremamente útil para qualquer indivíduo que seja alvo de prisão, pronunciando em voz alta aquela frase que o cinema tornou conhecida do resto do mundo: “você tem direito a ficar calado, pois tudo o que você disser poderá ser usado contra você”.

Santa advertência Batman!

Tudo, absolutamente tudo, que a gente diz tem um potencial enorme de reverter contra o nosso próprio território. Afinal quem nunca se contradiz, quem não muda de opinião de vez em quanto ou não omite detalhes em nome de preservar recantos sagrados da discrição pessoal?
Paradoxalmente as pessoas nunca foram tão escancaradas e indiscretas nas suas confissões e julgamentos. Já sabemos da delação premiada.
Somando-se a isto esta ânsia coletiva pela celebridade, nada mais do é dito merece tanto crédito.

De qualquer forma, a voz de prisão norte-americana é, também, um bom conselho.

Sigmund Freud que nunca prendeu ninguém mas decerto conhecia alguns meios para amenizar a relação entre a mente humana e a repressão, forjou uma metáfora fantástica para explicar nossa psique, nas palavras dele “o ego é um cavaleiro tentando frear um cavalo selvagem (o inconsciente), seguindo ordens do professor de equitação (superego)”. Veja as limitações do superego.
Acho os textos de Freud (O Futuro de Uma Ilusão e o Mal Estar na Civilização) tão fantásticos quanto a engenharia subliminar da psicanálise.

Tudo sugere que drama de consciência passou a ser uma desvantagem competitiva nos moldes carreiristas da vida contemporânea.
Estamos nas mãos dos vencedores impiedosos, sociopatas graduados que utilizam nossa ingênua moralidade para impor seus interesses nada nobres.
Mais curioso é constatar que não existe um plano diabólico: a perversidade é grátis.

Só nos resta viver como se estivéssemos diante da polícia americana, calar e utilizar o nosso sagrado direito de defesa em convocar um advogado.
Mas acorrer ao serviço de defensoria pública tende a ser menos ágil que o fato.

Nesta linha de pensamento decido incluir o curso de direito entre as alternativas para retornar aos estudos, possivelmente nem venha a exercer a profissão, mas ao menos terei a certeza de que meu advogado está constituído.
Bem mais provável é que eu recupere o juízo a tempo de optar por um curso mais divertido e rápido. Marketing, por exemplo.

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