Estou lendo um magnífico ensaio sobre as origens da melancolia ocidental e da sua chegada ao Brasil, desembarcada das caravelas portuguesas e espanholas.
O livro é Saturno nos Trópicos e o autor, o nosso imortal das letras, Moacyr Scliar.
Tenho este exemplar desde o lançamento da obra, mas somente nestes dias me senti chamado a desvendar seu conteúdo. Sou assim, vivo cercado dos muitos livros que minha esposa me presenteia depois de suas incursões pelas livrarias de Porto Alegre, de outros que os amigos me trazem e uns poucos que eu próprio me dou de presente.
Gosto de saber que tenho várias preciosidades à espera do meu desejo e, de vez em quando, vago pela casa a procura de um livro que capture minha alma e me leve por “mares nunca dantes navegados”.
E o tema da melancolia me fisgou naturalmente.
Estou apreciando especialmente as diferenciações, estabelecidas pela mente sagaz do Scliar, entre depressão, tristeza, tédio e melancolia. Que para mim sempre foram coisas distintas, mas nunca tão claramente explicadas como no seu texto.
Um escritor competente pode ser mais útil do que um psicanalista quando se busca o esclarecimento existencial, até porque o primeiro não tem obrigações terapêuticas em relação ao seu público. Até ao contrário, os bons escritores gostam de nos confundir.
Sempre fui melancólico sem descambar para a tristeza.
Aprecio o convívio com pessoas e as trivialidades que me mantém em contato com o mundo externo, especialmente contatos rotineiros como o trabalho, o supermercado, a academia, o boteco, os jantares de sábado e as domingueiras familiares.
Por outro lado, detesto eventos obrigatórios, mas enfrento-os com neutralidade.
Minha melancolia é prima-irmã da minha preguiça, ambas provém da intuição de que tudo remete a um profundo vazio, que o bom é o prazer extraído da simplicidade.
Não tenho a menor dúvida de que o melhor da vida tem uma origem despretenciosa.
Ninguém precisa se orgulhar por adormecer em uma cama aconchegante enquanto mira a lua cheia através da veneziana aberta, nem competir com quem quer que seja para ouvir uma canção redentora enquanto dirige seu carro por alguma estrada vazia sob uma chuva mansa.
O sorriso de alguém que nos acena ao início de um dia qualquer ou as lambidas dos nossos cães a cada vez que retornamos ao lar, são riquezas de acesso relativamente simples e nos fortalecem para enfrentar situações desagradáveis no dia-a-dia.
Portanto minha melancolia se recusa a virar depressão.
Mas ela permanece ali, me acompanhando como se fosse uma paisagem de fundo, um admirável meio tom da vida. E eu a cultivo, regando-a e protegendo-a da luz do sol, porque ela não suporta a exposição excessiva.
Como nos versos de Cecília Meireles “não sou alegre nem sou triste sou poeta”.
O livro é Saturno nos Trópicos e o autor, o nosso imortal das letras, Moacyr Scliar.
Tenho este exemplar desde o lançamento da obra, mas somente nestes dias me senti chamado a desvendar seu conteúdo. Sou assim, vivo cercado dos muitos livros que minha esposa me presenteia depois de suas incursões pelas livrarias de Porto Alegre, de outros que os amigos me trazem e uns poucos que eu próprio me dou de presente.
Gosto de saber que tenho várias preciosidades à espera do meu desejo e, de vez em quando, vago pela casa a procura de um livro que capture minha alma e me leve por “mares nunca dantes navegados”.
E o tema da melancolia me fisgou naturalmente.
Estou apreciando especialmente as diferenciações, estabelecidas pela mente sagaz do Scliar, entre depressão, tristeza, tédio e melancolia. Que para mim sempre foram coisas distintas, mas nunca tão claramente explicadas como no seu texto.
Um escritor competente pode ser mais útil do que um psicanalista quando se busca o esclarecimento existencial, até porque o primeiro não tem obrigações terapêuticas em relação ao seu público. Até ao contrário, os bons escritores gostam de nos confundir.
Sempre fui melancólico sem descambar para a tristeza.
Aprecio o convívio com pessoas e as trivialidades que me mantém em contato com o mundo externo, especialmente contatos rotineiros como o trabalho, o supermercado, a academia, o boteco, os jantares de sábado e as domingueiras familiares.
Por outro lado, detesto eventos obrigatórios, mas enfrento-os com neutralidade.
Minha melancolia é prima-irmã da minha preguiça, ambas provém da intuição de que tudo remete a um profundo vazio, que o bom é o prazer extraído da simplicidade.
Não tenho a menor dúvida de que o melhor da vida tem uma origem despretenciosa.
Ninguém precisa se orgulhar por adormecer em uma cama aconchegante enquanto mira a lua cheia através da veneziana aberta, nem competir com quem quer que seja para ouvir uma canção redentora enquanto dirige seu carro por alguma estrada vazia sob uma chuva mansa.
O sorriso de alguém que nos acena ao início de um dia qualquer ou as lambidas dos nossos cães a cada vez que retornamos ao lar, são riquezas de acesso relativamente simples e nos fortalecem para enfrentar situações desagradáveis no dia-a-dia.
Portanto minha melancolia se recusa a virar depressão.
Mas ela permanece ali, me acompanhando como se fosse uma paisagem de fundo, um admirável meio tom da vida. E eu a cultivo, regando-a e protegendo-a da luz do sol, porque ela não suporta a exposição excessiva.
Como nos versos de Cecília Meireles “não sou alegre nem sou triste sou poeta”.
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