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Eu, Papa Francisco e Albert Camus.

Neca e eu passávamos uma semana em Buenos Aires quando Jorge Bergólio foi eleito Papa Francisco uns dias antes. Era o assunto na cidade inteira. No restaurante, na feira de rua, nos cafés e até nos cemitérios.
E o taxista folgado que nos levava até a Feira de San Telmo:
- Cómo usted se siente depués que Dieguito superó a Pelé, ahora habrá que rezarle a un Papa Argentino?
- Menos mal que sou agnóstico e nunca gostei de futebol.
Risadas gerais, afinal como debater com um portenho possuído por tanta emoção.

Doze anos se passaram, nunca mais estive na encantadora Buenos Aires e o Papa Francisco luta para seguir sua missão, mas vê São Pedro abrindo aquela porta famosa e o convidando a entrar.
Aprendi a gostar e admirar este jesuíta carismático, inteligente, bem humorado e líder reformador do pontificado.
Neste meio tempo realmente me tornei agnóstico, ou seja acho difícil crer em Deus mas não nego a possibilidade de que exista. Passei para o time dos existencialistas quando descobri o almofadinha do Sarte e depois à equipe do Camus quando ele me convenceu que, além de estarmos sozinhos no universo, a vida não tem sentido nenhum, é o absurdo total. Só nos resta inventar um propósito para a própria existência e curtir o roteiro.

Mas enfim.
Lá no fundo da consciência sobreviveu um guri apegado à oração e à esperança do melhor.
Assim rezo para Francisco ficar bem, para minha minúscula família seguir protegida e sigo minha rotina absurda.

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