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Paulo Coelho


O sucesso do escritor Paulo Coelho é um verdadeiro mistério.
Não foi apenas aquele conhecido fenômeno de um ou dois livros que vendem febrilmente e depois ninguém mais ouve falar no autor.
Por mais de quinze anos ele ocupou o topo das listas de livros mais vendidos, encantou gente do mundo inteiro e sempre tomou pau dos críticos literários brasileiros.
E sempre sucesso.
Lembro de uma foto do então presidente americano Bill Clinton com um exemplar em inglês do Alquimista, a França o condecorou com um cobiçado título por sua contribuição às artes e as moças instruídas do Irã faziam filas quilométricas para conquistar um autógrafo do escritor em suas visitas ao país. Bem verdade que por lá a sua imagem anda em baixa.

Enfim, Paulo Coelho acabou virando um imortal da Academia Brasileira de Letras.
Como esta suprema entidade literária do país já aceitou talentos duvidosos como José Sarney e preteriu poetas do quilate de Mário Quintana, este não chega a ser um título inatacável.

Recentemente o jornalista e escritor Edney Silvestre entrevistou Paulo Coelho em Genebra, na Suiça, onde o escritor mora com sua esposa Cristina Oiticica em uma residência cercada de um jardim imenso. Entre outras coisas ele mostrou seu talento com arco e flecha, contou que uma isquemia cardíaca quase o levou desta para melhor no final do ano passado e, é claro, falou do seu novo livro Manuscrito Encontrado em Accra.

Vi um Paulo Coelho mais frágil, o evento cardíaco trouxe a marca da idade ao aspecto físico do homem de 65 anos. O andar ficou mais lento e o rosto apresenta um cansaço antes invisível.
Afora isto é o mesmo cidadão de fala mansa e fanhosa, com a convicção de quem conquistou um lugar acima do bem e do mal.
Durante alguns anos eu li Paulo Coelho, gostava das suas histórias e da sagacidade sobre as motivações que definem as pessoas, especialmente as mulheres.
Com o tempo cansei da sua fórmula e da falta de profundidade dos seus textos, mas aprendi a respeitar suas conquistas como escritor.

Na verdade, embora jamais sejam capazes de confessar, nove em cada dez escritores e críticos de literatura invejam o Paulo Coelho. E a razão é muito simples: ele faz sucesso.
Existe um ingrediente mágico que aglutina a obra de quem escreve ao gosto de quem lê, sendo absolutamente intangível o valor desta conexão. A receita não existe.
Imagino que no privado espaço das reflexões pessoais, Paulo Coelho seja consciente das suas evidentes limitações enquanto escritor e trabalhe exaustivamente em cada novo projeto para superar estas deficiências.
Talvez intimamente ele desejasse ser abençoado com o talento narrativo de Dostoievsky.
Mas a conta bancária e as moças na fila de autógrafos compensam esta pequena frustração.

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