Nós, as criaturas humanas, somos a mais fantástica combinação entre inteligência, estupidez e comportamento delirante que a natureza foi capaz de produzir.
Multiplicamos nossa espécie por todo o planeta, dominando o reino animal e imensa parte das forças naturais, transformando rios e ventos em energia capaz de produzir luz e movimentar toda parafernália que sustenta a civilização contemporânea.
Vivemos na era do laptop, da internet e do telefone celular. Assistimos centenas de canais de tevê em telas finas de grande formato e alta definição, nossos automóveis usam vários tipos de combustível, vêm com ar condicionado, bancos reguláveis, direção hidráulica e até monitoramento de localização por satélite.
A medicina é capaz de substituir quase todos os órgãos vitais falidos por outros que se retiram de cadáveres “sadios” e, em breve, produziremos os próprios sobressalentes à base do cultivo de nossas próprias células-tronco. É o faz-de-conta da vida atual.
Faz de conta que funciona fácil assim este “admirável mundo novo”. Na prática a coisa é bem mais macabra. Em todo canto da cidade tem crianças cheirando cola, pessoas são assassinadas por usarem um tênis de grife, depressivos se matando às centenas, prisões que dariam inveja aos carrascos medievais de tão sórdidas, hospitais com equipamentos que não funcionam, lotados de enfermos até nos corredores, serviços públicos e particulares que não funcionam, estradas esgotadas em que morre gente feito mosca, fora os inválidos e os seqüelados. Tudo isso, perto da nossa casa.
Se pensarmos além das fronteiras o quadro é ainda pior, a África foi abandonada ao seu atraso e às atrocidades regionais, oriente e ocidente se odeiam em nome da religião, os ricos estão cada vez mais inacessíveis e os pobres mantidos à distância.
Para piorar, os efeitos da destruição do ambiente e do clima já estão em toda parte.
Faz de conta que estamos fazendo o possível para resolver essas mazelas, porque a vida continua e o botox está aí para manter as aparências mais jovens, sem falar que um par de seios firmes e perfeitos ajudam muito na auto-estima de qualquer mulher e de quem estiver com ela. São as maravilhas pragmáticas que a medicina e o silicone oferecem para deleite de quem pode pagar.
Um MBA ou um doutorado é tudo que um ser humano normal pode desejar, depois é só fazer exercícios regularmente, tomar muitas vitaminas e viver cem anos.
Faz de conta que vale a pena viver um século neste mundo louco, escondido atrás de grades e à mercê de gente que só valoriza juventude, beleza e poder.
Faz de conta que somos diferentes dos outros, que olhamos para alguma coisa a mais do que nossos próprios interesses. Faz de conta que somos pessoas bem resolvidas.
Afinal o sofrimento está fora de moda. Se você ficar doente não conte a ninguém, pois quem está disposto a lidar com a dor alheia? Nem o seu médico está, porque também ele vive sob uma rotina de trabalho excessivo, ansiedade e incertezas.
Faz de conta que o mundo sempre foi assim e que a diferença é só a informação mais rápida e fácil dos tempos atuais. Mas desconfio que conseguimos piorar a vida.
E a nova palavra de ordem é “cada um com seus problemas”.
Multiplicamos nossa espécie por todo o planeta, dominando o reino animal e imensa parte das forças naturais, transformando rios e ventos em energia capaz de produzir luz e movimentar toda parafernália que sustenta a civilização contemporânea.
Vivemos na era do laptop, da internet e do telefone celular. Assistimos centenas de canais de tevê em telas finas de grande formato e alta definição, nossos automóveis usam vários tipos de combustível, vêm com ar condicionado, bancos reguláveis, direção hidráulica e até monitoramento de localização por satélite.
A medicina é capaz de substituir quase todos os órgãos vitais falidos por outros que se retiram de cadáveres “sadios” e, em breve, produziremos os próprios sobressalentes à base do cultivo de nossas próprias células-tronco. É o faz-de-conta da vida atual.
Faz de conta que funciona fácil assim este “admirável mundo novo”. Na prática a coisa é bem mais macabra. Em todo canto da cidade tem crianças cheirando cola, pessoas são assassinadas por usarem um tênis de grife, depressivos se matando às centenas, prisões que dariam inveja aos carrascos medievais de tão sórdidas, hospitais com equipamentos que não funcionam, lotados de enfermos até nos corredores, serviços públicos e particulares que não funcionam, estradas esgotadas em que morre gente feito mosca, fora os inválidos e os seqüelados. Tudo isso, perto da nossa casa.
Se pensarmos além das fronteiras o quadro é ainda pior, a África foi abandonada ao seu atraso e às atrocidades regionais, oriente e ocidente se odeiam em nome da religião, os ricos estão cada vez mais inacessíveis e os pobres mantidos à distância.
Para piorar, os efeitos da destruição do ambiente e do clima já estão em toda parte.
Faz de conta que estamos fazendo o possível para resolver essas mazelas, porque a vida continua e o botox está aí para manter as aparências mais jovens, sem falar que um par de seios firmes e perfeitos ajudam muito na auto-estima de qualquer mulher e de quem estiver com ela. São as maravilhas pragmáticas que a medicina e o silicone oferecem para deleite de quem pode pagar.
Um MBA ou um doutorado é tudo que um ser humano normal pode desejar, depois é só fazer exercícios regularmente, tomar muitas vitaminas e viver cem anos.
Faz de conta que vale a pena viver um século neste mundo louco, escondido atrás de grades e à mercê de gente que só valoriza juventude, beleza e poder.
Faz de conta que somos diferentes dos outros, que olhamos para alguma coisa a mais do que nossos próprios interesses. Faz de conta que somos pessoas bem resolvidas.
Afinal o sofrimento está fora de moda. Se você ficar doente não conte a ninguém, pois quem está disposto a lidar com a dor alheia? Nem o seu médico está, porque também ele vive sob uma rotina de trabalho excessivo, ansiedade e incertezas.
Faz de conta que o mundo sempre foi assim e que a diferença é só a informação mais rápida e fácil dos tempos atuais. Mas desconfio que conseguimos piorar a vida.
E a nova palavra de ordem é “cada um com seus problemas”.
Comentários
Porisso não esqueça, sempre dá pra piorar.