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Tolerância e fé

Por que tão poucas pessoas são capazes de compreender as coisas além do campo ideológico em que estão inseridas? É uma insensatez achar que tudo precisa caber em convicções que foram criadas por pessoas tão erráticas quanto eu e você. Na maioria das vezes, posições exageradas pela vaidade e ou pela loucura dos seus autores. Eu valorizo a fé e não frequento nenhum culto religioso, tanto admiro o Papa Francisco quanto o Dalai Lama, vejo qualidades nos Estados Unidos que faltam ao Brasil, mas nem por isto acho que o nosso país deva copiar os americanos, porque somos diferentes. E também vejo virtudes na cultura alemã e até em nossos vizinhos argentinos, entretanto creio que nossa mistura de etnias e dimensões continentais agregam algumas de nossas apreciadas vantagens, reconhecidas por outros povos. Não posso conceber que os limites ideológicos ceguem nossa capacidade de convívio e que tenhamos que portar bandeiras para tudo que signifique “nossas opiniões”. Opiniões mudam,...

O julgamento

Qualquer pai mais ou menos responsável e amoroso em algum momento da vida deveria refletir sobre qual vai ser a imagem que irá deixar para os seus filhos. Se esta imagem será uma grata recordação ou um travo de amargura. Não é o tipo de coisa que se vá pensar a toda hora, até porque a vida nos impõe dezenas de ocupações diárias e necessárias ao mais básico dos projetos, a sobrevivência da família. Mas é justamente neste ponto que principia a questão do que ficará de lembrança. Um filho precisa de vivências compartilhadas com o seu pai, só assim ele terá memórias. Dificilmente um pai conectado com seus filhos, protetor e amigo, educador e generoso, não será lembrado como um porto seguro para onde eles se dirigem nas suas tormentas. O pai é o farol da vida. A mãe, me parece, representa a compreensão da vida, aquela fonte da qual fomos paridos e de onde ninguém deveria ser rejeitado. Este já é outro capítulo. Mas ao pai cabe o direcionamento, mesmo às vezes sem ter a convicção...

Doce desgraça

Nosso etílico poetinha Vinícius de Moraes é quem se referia à vida como “uma doce desgraça”. Assino embaixo. Ninguém é tão miserável que não tenha algumas boas lembranças de momentos compartilhados em família, ou com amigos, quem sabe no romance e até mesmo no trabalho. Tampouco é impossível passar impune por esta experiência terrena, onde quem viver, sofrerá. Se não for por si mesmo, será pelos outros e, quase sempre, pelo conjunto da obra. Até porque nossas noções das coisas são construídas sobre os contrapontos. Os nossos primeiros desenhos costumam definir o alegre e o triste com uma simples curva para cima e para baixo. Tudo já está posto. Mas alguns modelos culturais e certas épocas chegam às raias do absurdo em seu esforço manipulador de negação do sofrimento e das frustrações. Na minha adolescência o slogan do governo brasileiro era Nunca Fomos Tão Felizes. Hoje, os nossos governantes juram que o Brasil é Um País de Todos. Claro que a vida de verdade, individual e...

Pobreza Educativa II

Pobreza Educativa era uma brincadeira particular que, eu e meu filho, criamos para emprestar um sentido mais otimista à nossa escassez de dinheiro. Funcionava mais ou menos assim, se ele me pedisse um par de tênis como presente de aniversário e eu comprasse uma marca diferente da sua preferida, ao invés de um sorriso amarelo, a gente se divertia com a situação. Afinal nem sempre o orçamento familiar permitia comprar um Nike de última geração, mas com um pouco de criatividade era possível adquirir um Asics, bem maneiro e projetado especialmente para a prática do vôlei, o esporte preferido dele. Com a diferença de investimento ainda era possível sairmos para jogar sinuca. No fim das contas era possível economizar sem abrir mão do churrasco e dos passeios. Claro que isto funcionava com o Pablo, um menino que já nasceu atento às realidades da vida e nunca fez muito drama com as coisas. Nossa ideia era viver de acordo com aquilo que as circunstâncias permitiam sem choraminga...

Gênios

Conta-se que Pablo Picasso em seus verdes anos, pintava muito, ganhava pouco e gastava por conta do futuro. Mesmo na penúria mantinha uma cozinheira a seus serviços e a fazia encarar o açougueiro do vilarejo com suas compras generosas e as promessas de pagamento para dali a poucos dias. Tanto foi que o homem deixou de achar divertido o engodo do seu devedor e a mandou cobrar Picasso, caso ele quisesse manter o seu crédito. Pablo juntou uma dúzia de esboços e os entregou a cozinheira com o recado de que este era o seu pagamento por ora. A moça, que imagino fosse matreira e jeitosa ou a perfeita idiota, cumpre seu mando e entrega um envelope bem caprichado para o boquiaberto comerciante. Ele examina o material e, magnânimo, ainda a deixa levar as compras do dia, mas quando ela se virava para sair, ele a detém mansamente, “ei moça, por favor, leva isto para o mestre e diga a ele que é o troco”. E alcança à mulher três pedaços de embrulho com algumas garatujas feitas por ele. ...

For my friend(s)

Amir e Hassan são amigos de infância como tantos outros pelo mundo e através dos tempos, no caso são personagens do livro O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, e das suas histórias guardei a frase que Hassan dizia para Amir, quando este abusava da sua boa fé mandando que fizesse sempre as tarefas mais difíceis: “por você eu faria isso mil vezes”. Considero meu seleto grupo de amigos, aqueles que meu coração escolheu, como um dos mais valiosos patrimônios que a vida me permitiu ter. Amigos de verdade, recíprocos e sinceros, se contam em um dígito. São raros e especiais. Tenho amigos que ficaram na minha cidade natal, outros que fiz nas andanças da juventude e se evaporaram com os ventos do tempo, mas nenhum deles perdeu seu lugar na minha memória. Tem aqueles que nos acompanham muito de perto durante anos e até décadas. Assim é a história da minha amizade com André Benicio,meu sócio e amigo de tempo integral. O trabalho foi a porta que deu acesso à nossa apresentação ...

Panzer e eu

Esse é o espaço onde posso falar sobre o meu cão sem que ele tenha acesso. Vai saber, cada vez eles entendem mais palavras, daí para aprender a ler é um pulinho. O Panzer, meu pastor-alemão, está se aproximando do oitavo aniversário e eu do meu quinquagésimo sexto.  Isso que significa que estamos nos encontrando em um momento cronológico significativo de nossas vidas, somos os coroas que, com um pouco de cuidado e sorte, conquistarão o status de velhos em horizontes nem tão distantes. Enquanto isso, seguimos curtindo as nossas três ou quatro longas caminhadas semanais. Devo admitir que o Panzer está melhor conservado do que eu. Acho que o envelhecimento dos cães bem cuidados é menos visível que o processo no ser humano, por outro lado eles batem a cola com 13 ou 14 anos e a gente emplaca uns 75 aniversários, a não ser que o imponderável das infinitas fatalidades resolva nos escolher. Somos uma boa simbiose, eu e o Panzer, nos comunicamos no silêncio e temos um a...