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For my friend(s)

Amir e Hassan são amigos de infância como tantos outros pelo mundo e através dos tempos, no caso são personagens do livro O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, e das suas histórias guardei a frase que Hassan dizia para Amir, quando este abusava da sua boa fé mandando que fizesse sempre as tarefas mais difíceis: “por você eu faria isso mil vezes”. Considero meu seleto grupo de amigos, aqueles que meu coração escolheu, como um dos mais valiosos patrimônios que a vida me permitiu ter. Amigos de verdade, recíprocos e sinceros, se contam em um dígito. São raros e especiais. Tenho amigos que ficaram na minha cidade natal, outros que fiz nas andanças da juventude e se evaporaram com os ventos do tempo, mas nenhum deles perdeu seu lugar na minha memória. Tem aqueles que nos acompanham muito de perto durante anos e até décadas. Assim é a história da minha amizade com André Benicio,meu sócio e amigo de tempo integral. O trabalho foi a porta que deu acesso à nossa apresentação ...

Panzer e eu

Esse é o espaço onde posso falar sobre o meu cão sem que ele tenha acesso. Vai saber, cada vez eles entendem mais palavras, daí para aprender a ler é um pulinho. O Panzer, meu pastor-alemão, está se aproximando do oitavo aniversário e eu do meu quinquagésimo sexto.  Isso que significa que estamos nos encontrando em um momento cronológico significativo de nossas vidas, somos os coroas que, com um pouco de cuidado e sorte, conquistarão o status de velhos em horizontes nem tão distantes. Enquanto isso, seguimos curtindo as nossas três ou quatro longas caminhadas semanais. Devo admitir que o Panzer está melhor conservado do que eu. Acho que o envelhecimento dos cães bem cuidados é menos visível que o processo no ser humano, por outro lado eles batem a cola com 13 ou 14 anos e a gente emplaca uns 75 aniversários, a não ser que o imponderável das infinitas fatalidades resolva nos escolher. Somos uma boa simbiose, eu e o Panzer, nos comunicamos no silêncio e temos um a...

Em frente

Seguir o fluxo da vida tem sido o destino natural da espécie humana. Tão natural como enfrentar as pestes, a fome, as guerras, os cataclismos e os atuais parâmetros de competitividade e de individualidade radical. Vivemos tempos de ansiedade, de grandes promessas e de poucas certezas. Tudo ao mesmo tempo agora. Somos pessoas digitais, instantâneas e descoladas. Ou jurássicas. Chegar à maturidade dos anos é ter que lidar com estas e outras transformações. Alguns se retiram da paisagem e buscam o doce ostracismo do lar, mas isto ainda é um luxo exclusivo dos previdentes financeiros, das mentes brilhantes e daqueles que receberam algum quinhão dos seus ascendentes, ainda com saúde para aproveitar. No mais a vida é uma planície onde todos disputam espaço e buscam sobreviver. Os mais velhos precisam necessariamente ser mais espertos para compensar a força e a velocidade que o tempo lhes vai consumindo paulatinamente. Mais do que isto, precisam superar um modelo d...

A vida como ela é

A escritora Pamela Druckerman é uma norte americana de meia-idade, charmosa em seu estilo contemporâneo e que, por conta do seu sucesso profissional, decidiu viver em Paris. Jornalista consagrada ela trabalhou para alguns dos ícones da imprensa mundial, entre eles o Wall Street Journal, Washington Post, New York Times e Marie Claire. Seus textos e pesquisas convergem para as venturas e desventuras da vida em família, a criação dos filhos e as questões que permeiam a infidelidade conjugal. Em seu livro Na Ponta da Língua , de 2009, que eu ainda não li, Pamela revelou como a infidelidade casual pode ser vista sob diferentes prismas, dependendo da cultura de cada país. Ela estudou cerca de 24 países com base na observação e entrevistas com pessoas casadas, obtendo um ranking da infidelidade. O Brasil ocupa uma discreta posição intermediária entre os países pesquisados. Sem entrar no mérito da confiabilidade de sua pesquisa, me parece que o melhor das análises de Druckerm...

Lucidez na partida

A morte do ator Walmor Chagas em sua casa de campo, sentado na cozinha com o revólver no colo depois de atirar contra a própria cabeça, me faz retornar àquela sempre áspera questão: quanto vale o seguir vivendo a partir de certos limites? Em outubro de 2011, Walmor foi o primeiro entrevistado da jornalista Bianca Ramoneda, do programa Starte, para a série Grandes Atores, como parte das matérias especiais preparadas para comemorar em alto estilo os 15 anos do canal de notícias Globo News. Quem rever a entrevista vai sentir arrepios ao ouvir o ator revelar que “ama tanto a vida que chega a desejar a morte”, fazendo referência a um poema de Carlos Drummond de Andrade. Walmor praticamente antecipou o seu bilhete de despedida quando disse que a morte não o assusta, ao contrário, ele a deseja. “A morte é a libertação do vale de lágrimas que é a vida por melhor que ela seja”. Medo ele tem da doença, da perda das funcionalidades essenciais como andar, comer e ir ao banheiro sozinho...

Razão e sensibilidade

A tal da empatia é aquela capacidade de sentir e compreender a experiência da outra pessoa pelo ponto de vista dela. Diria que é irmã da intuição e, ambas, filhas da sensibilidade. Ao longo da história humana, essas forças hereges sofreram severas restrições de parte da sua grande e bem sucedida avó, a magnificente senhora razão. Desde os mais remotos tempos até os dias de hoje, a razão tem sido o farol primordial na condução do desenvolvimento do homo sapiens, mas, e é aí que o tempero dá liga, nos melhores momentos da civilização e dos indivíduos em particular, a razão agiu em íntima colaboração com a sensibilidade.  E nos mais preciosos deles, reunidas às jovens intuição e empatia. A cena europeia dos ‘bem nascidos’ de Paris, Londres, Viena e São Petersburgo lá pelos últimos vinte e cinco anos do século dezenove foi a própria decadence avec elegance , porque não faltaram tramas alucinantes em busca de poder e privilégios nem de sofisticados jogos amorosos entre o...

Idade média

Comparo a juventude da minha geração, cinquentões e cinquentinhas, a uma espécie de Idade Média Contemporânea, especialmente entre os de origem mais ‘pelada’ por assim dizer. Morei por um bom tempo em casa sem energia elétrica e sanitário separado da residência, chamávamos patente, um termo estranho para a finalidade do imóvel. Mais tarde acabou rebatizado mais adequadamente como casinha. Com o tempo chegou a luz, o rádio e, quando eu já estava com treze anos, assisti pela primeira vez televisão na minha própria casa. Estreei bem, Copa do Mundo de 1970, tevê marca Admiral e a antena cravada no pátio, no alto de um poste de eucalipto, onde seguidamente alguém tinha encostar a escada e mover a antena de recepção de um lado para o outro. O medievalismo vem daqueles hábitos toscos, mas sofisticados em sua proposta. Por exemplo, naquela época sempre havia um parente que aplicava as injeções de tratamentos médicos em toda família. Tínhamos a Rose e o tio Zeca. Era um status...