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A casca que nos protege

É provável que a história oficial da humanidade tenha entrado em uma nova era.
O fim do período histórico anterior poderá ficar datado entre o surgimento da internet e o lançamento dos smartphones, a partir dos quais todas as barreiras da intercomunicação caíram definitivamente.

Se isto de fato se comprovar, nossa geração está vivendo o início de um ciclo desconhecido, no qual tudo é possível, desde a confirmação das nossas melhores perspectivas [como viver mais de 100 anos em média] até o oposto radical [defrontarmos com um caos planetário em menos de um século].
Existem sinais claros que reforçam ambas possibilidades.
Alea jacta est!

Junto com este novo contexto, voltamos às lutas tribais nos países pobres, vivenciamos uma luta mortal entre o mundo civilizado e rico contra o mundo antigo, religioso e pobre.
Aqui nos trópicos sul americanos a praga vem da falsidade perversa com que forjamos a nossas culturas nacionais, onde desejamos ser a Suécia mas praticamos uma política de poder comparável com a dos piores países do planeta.
Vivemos um tipo de individualismo selvagem em nome da sobrevivência, onde muita gente bem intencionada precisa conviver com um ambiente moral devasso e perigoso.
Nosso discurso é humanitário e cheio de boas intenções, mas nossas práticas são um "deus nos acuda". Ninguém sabe para onde seguir ou no que acreditar.

A Europa não sabe o que fazer com seus cidadãos bastardos das antigas colônias, que continuam chegando e buscando um lugar no mundo desenvolvido, mudando a paisagem cultural e criando áreas de segregação nas periferias das grandes cidades.
Os recentes atentados em Paris foram realizados por cidadãos franceses sem perspectivas, conectados com raízes ancestrais, ofendidos pela sua condição social e sedentos de valorização, uma combinação pronta para explodir a todo instante.

Os chineses já estão disputando o topo da hegemonia econômica e ninguém sabe até onde poderão chegar, mas entre uma tsunami, alguns terremotos e outras tragédias provocadas pela própria ação humana, seguimos com uma certa noção de normalidade.
Esta é a casca que nos protege, o ser humano sempre sabe de onde vem os seus riscos mas ele tem que seguir suas rotinas para não se fragilizar emocionalmente.

Tudo mudou, até nossas noções de cardápio, mas as novas regras apenas atualizam nosso atavismo.
Sempre superamos a adversidade, mesmo com o custo de milhões de vidas e não será diferente agora. Talvez o que mudará seja o tamanho da conta e se estaremos entre os "sobreviventes".
Mas nada pode ameaçar nosso capucino nem fazer as crianças perderem o horário da escola!

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