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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Lucidez na partida

A morte do ator Walmor Chagas em sua casa de campo, sentado na cozinha com o revólver no colo depois de atirar contra a própria cabeça, me faz retornar àquela sempre áspera questão: quanto vale o seguir vivendo a partir de certos limites? Em outubro de 2011, Walmor foi o primeiro entrevistado da jornalista Bianca Ramoneda, do programa Starte, para a série Grandes Atores, como parte das matérias especiais preparadas para comemorar em alto estilo os 15 anos do canal de notícias Globo News. Quem rever a entrevista vai sentir arrepios ao ouvir o ator revelar que “ama tanto a vida que chega a desejar a morte”, fazendo referência a um poema de Carlos Drummond de Andrade. Walmor praticamente antecipou o seu bilhete de despedida quando disse que a morte não o assusta, ao contrário, ele a deseja. “A morte é a libertação do vale de lágrimas que é a vida por melhor que ela seja”. Medo ele tem da doença, da perda das funcionalidades essenciais como andar, comer e ir ao banheiro sozinho

Razão e sensibilidade

A tal da empatia é aquela capacidade de sentir e compreender a experiência da outra pessoa pelo ponto de vista dela. Diria que é irmã da intuição e, ambas, filhas da sensibilidade. Ao longo da história humana, essas forças hereges sofreram severas restrições de parte da sua grande e bem sucedida avó, a magnificente senhora razão. Desde os mais remotos tempos até os dias de hoje, a razão tem sido o farol primordial na condução do desenvolvimento do homo sapiens, mas, e é aí que o tempero dá liga, nos melhores momentos da civilização e dos indivíduos em particular, a razão agiu em íntima colaboração com a sensibilidade.  E nos mais preciosos deles, reunidas às jovens intuição e empatia. A cena europeia dos ‘bem nascidos’ de Paris, Londres, Viena e São Petersburgo lá pelos últimos vinte e cinco anos do século dezenove foi a própria decadence avec elegance , porque não faltaram tramas alucinantes em busca de poder e privilégios nem de sofisticados jogos amorosos entre os co

Idade média

Comparo a juventude da minha geração, cinquentões e cinquentinhas, a uma espécie de Idade Média Contemporânea, especialmente entre os de origem mais ‘pelada’ por assim dizer. Morei por um bom tempo em casa sem energia elétrica e sanitário separado da residência, chamávamos patente, um termo estranho para a finalidade do imóvel. Mais tarde acabou rebatizado mais adequadamente como casinha. Com o tempo chegou a luz, o rádio e, quando eu já estava com treze anos, assisti pela primeira vez televisão na minha própria casa. Estreei bem, Copa do Mundo de 1970, tevê marca Admiral e a antena cravada no pátio, no alto de um poste de eucalipto, onde seguidamente alguém tinha encostar a escada e mover a antena de recepção de um lado para o outro. O medievalismo vem daqueles hábitos toscos, mas sofisticados em sua proposta. Por exemplo, naquela época sempre havia um parente que aplicava as injeções de tratamentos médicos em toda família. Tínhamos a Rose e o tio Zeca. Era um status