O ano era 1977. Envergando o uniforme de passeio de praças da Aeronáutica, no esplendor dos meus vinte anos eu curtia exibir minha primeira divisa recém conquistada, afinal eu podia me apresentar como um soldado de primeira classe da Força Aérea Brasileira. Havia embarcado no ônibus em Canela e seguia para o quartel após um fim de semana sem escala de serviço. Aquela manhã de segunda estava gelada e coberta por densa neblina, nas poucas poltronas ocupadas as pessoas já dormiam antes mesmo da primeira parada prevista em nossa breve viagem. Quando a porta se abriu para receber os passageiros que embarcavam em Gramado, eis que emergiu a figura de uma mulher madura, bonita e vestida com uma casualidade altiva. Mirou seu olhar em meus olhos e me pediu licença para ocupar a poltrona vaga com um sutil acento germânico sem prejuízo do seu português correto. Após me analisar com alguma discrição a coroa puxou assunto. Devia ter uns cinquenta anos pensei, era bonita, mas muito velh
Escrever é uma forma de fotografar a própria alma e ao ler a si próprio, depois, é possível que o autor nos cause grande estranheza.