Pular para o conteúdo principal

Coxinha(s)


Meus impagáveis amigos Giuliano e Mariana me falaram de uma expressão magnífica que eu desconhecia por completo.
Trata-se da “pessoa coxinha”.
Coxinhas são aquelas criaturas obsessivamente esforçadas em parecer descoladas e de uma categoria, de gosto e consumo, bem acima da plebe rude.
Um homem coxinha não leva seu carro para revisão, aguarda o funcionário da concessionária que virá buscar o seu Mini Cooper.
Ele não se refere ao uso do tablet e sim ao seu i-Pad. Celular só se for i-Phone.
Quando todos resolvem passar o revellion em Floripa, o coxinha já estará em Punta.
Coxinha não faz poupança, compra ações e acompanha o índice da Nasdaq.

Enfim, coxinha é o cara arrumadinho, isolado, cabelinho cheio de gel especial, sempre preocupado com segurança e que se vê diferente dos outros mortais.
Muito melhor, é claro.

Ao que tudo indica a expressão nasceu em São Paulo e aparece com as conotações atuais por cerca de uma década. É depreciativa desde as origens.
Há suspeitas de que nasceu dos vale-coxinhas, os tickets de alimentação dos policiais militares paulistanos, sempre vistos comendo coxinhas nas padarias da cidade.
Um publicitário famoso andou pesquisando o estilo de vida dos coxinhas e, depois de reunir inúmeras características e vários exemplos das suas atitudes, definiu o perfil como “o típico sujeito que é criado pela avó”.
No meio dos motociclistas, o coxinha é aquele cara que compra uma Harley Davidson e quase nunca a coloca na estrada, somente nos dias ensolarados e em estradas muito perfeitas. Viagens longas nem pensar, o barato do coxinha é exibir os cromados da sua chopper e o seu modelito de couro à moda Marlon Brando em O Selvagem.

O coxinha nem sempre tem grana suficiente para sustentar sua vida fantasiosa, aliás a maioria parece ter bem mais dinheiro do que possui na sua dura realidade, mesmo assim o coxinha despreza as classes emergentes.
As razões são óbvias, o seu restaurante perderá o glamour, sua viagem fantástica se tornará roteiro da Classe C e, pior, todo seu mundo encastelado irá parar no subúrbio.

Coxinhas tanto podem ser homens quanto mulheres. Está cheio de mulheres coxinhas trotando nos melhores shoppings das nossas metrópoles.
São pares perfeitos, os casais coxinhas, uma combinação de que envolve muito leasing, eventuais mandatos de busca e apreensão e cheques especiais estourados.
Mas o vinho é sempre importado, de safra especial e com garrafas numeradas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Rei, o Mago, o Bardo e o Bobo.

Eles se encontraram por um breve tempo às bordas da floresta alta, nas franjas verdes do grande vale. O Rei, sempre magnânimo com todos que mostravam admiração e simpatia por suas ideias e preleções, contratou o Bobo para escrever suas memórias. O Mago que conhecia o Rei de muitas luas procurava descobrir as conexões emocionais com os novos amigos e celebrar as revelações deste encontro. O Bardo só queria levar suas canções e melodias ao coração de todos, especialmente ao do Rei, para o qual compôs uma bela ode. O Bobo amava os encontros e se divertia em pregar peças no Rei e propor charadas aos companheiros, mas também se emocionava e se encantava com os novos amigos e os seus talentos. Tudo andava de forma mágica e envolvente até o dia em que o Rei, olhou severo para o Bobo e sentenciou:  - Você distorce tudo o que eu digo, duvida de tudo que eu sigo e escreve somente a tua versão das coisas que eu lhe relato! Me sinto desrespeitado e quero que você saiba disso. A partir dali os ...

Velhas fotos coloridas

 Hoje aproveitei a chuva e o tempo gris para remexer nos velhos arquivos fotográficos que a Neca, minha namorada desde as Diretas Já, guarda com todo zelo e carinho. Minha busca, os amigos e os encontros com eles. E lá estavam, uma profusão de conexões, quase todas em celebrações diversas. É incrível como fazíamos festas, a vida era uma festa. E olha que problemas existiam e nunca foram poucos, mas tínhamos a juventude e o seu apetite insaciável por viver e se reunir. As fotos ainda conservam, em sua maioria, um colorido vivo impresso no papel fotográfico. Ninguém portava telefone celular, quando muito uma  câmera fotográfica ou uma filmadora. E a gente dançava, se fantasiava, ia para a praia em bando, comíamos muito, jogávamos qualquer coisa para passar as tardes de chuva enquanto alguém preparava bolinhos, sonhos, bolos e, é claro, pipoca. Bebíamos, éramos beberrões de cerveja, de batidinhas e boa parte de nós, fumava. Alguns, eu entre eles, não somente cigarros. E a gente v...

Aniversário

 Todo ano se comemora, ou não, o acréscimo de 365 dias à própria existência. Afinal, o que se festeja? O fato de se estar vivo, acima de tudo. Não à toa, o voto mais recorrente é saúde. As redes sociais permitem que amigos distantes nos saúdem e ressurjam do oco do mundo, assim nos sentimos acolhidos e integrados a uma grande tribo de afetos. Algumas pessoas sempre lembram da data, outras que por certo gostam da gente sempre esquecem e tem aquelas que não nos apreciam e fazem questão de marcar sua ausência. Eu me relaciono com naturalidade sobre estas coisas, já faz tempo que acho natural o fato de que algumas não gostem de mim. Eu próprio tenho minhas restrições acerca da minha pessoalidade. Como disse Groucho Marx: "não faria parte de um clube que me aceitasse como sócio".😉 Enfim o tempo segue célere e vou vivendo com simplicidade e pouco dinheiro, mas grato pelo amor da mulher companheira, meu cão e meus gatos. E do meu filho, que mantém contato assíduo para que possamos ...