A irreverência é uma virtude perigosa, mas quando esclarecida é
divina.
Outro dia lendo uma das tantas referências interessantes feitas sobre
a vida de Napoleão Bonaparte, deparei com uma passagem emblemática.
O cadete Bonaparte cometeu uma indisciplina qualquer e seu
monitor colocou o futuro conquistador militar da Europa no castigo, mal sabia
ele o risco da sua coragem. A ordem era ajoelhar sobre grãos de milho junto ao
canto da parede da sala de aula.
Napoleão olhou o monitor dentro das pupilas e disse com voz
baixa e segura:
- O senhor me dê outro castigo que o farei de bom grado, mas
jamais me diga para ajoelhar seja pelo que for, porque da casa de onde eu venho
as pessoas somente se ajoelham diante de Deus.
Tem uma passagem da Leila Diniz que é melhor ainda.
Um coronel atuante nos órgãos repressivos do governo militar brasileiro, era tarado pela Leila. Certo dia mandou entregar tantas flores e bombons no camarim da atriz, que ocupou todos os espaços e atiçou o falatório do elenco e da produção do espetáculo, na época Leila se apresentava como cantora do chamado teatro rebolado.
Um coronel atuante nos órgãos repressivos do governo militar brasileiro, era tarado pela Leila. Certo dia mandou entregar tantas flores e bombons no camarim da atriz, que ocupou todos os espaços e atiçou o falatório do elenco e da produção do espetáculo, na época Leila se apresentava como cantora do chamado teatro rebolado.
Junto às flores um bilhete açucarado dizia da expectativa de ser
recebido no camarim após o show.
Obviamente Leila recebeu seu galanteador que, mais que depressa,
convidou a beldade para jantarem juntos. Leila propôs que ele acompanhasse o
elenco em um jantar de confraternização já marcado.
O milico ficou zureta, levou a coisa para o pior lado e reagiu:
- Que besteira é esta de sair com este bando de veados, tu pensa
que eu não sei que você dá pra todo mundo?
E a Leila, naquela irreverência que estampava na cara e no
sorriso:
- Olha Coronel, eu agradeço suas flores, seus bombons e a sua
admiração por mim, mas o senhor é pouco informado para um homem da sua
profissão, eu realmente dou pra todo mundo, mas jamais para qualquer um.
O monitor do Napoleão e o coronel da Leila provaram o gosto
ácido da irreverência esclarecida dos seus interlocutores.
Nem Bonaparte foi expulso da academia nem Leila foi torturada por isto.
Nem Bonaparte foi expulso da academia nem Leila foi torturada por isto.
Mas como diria a advertência do fabricante: use com moderação.
Comentários