Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2012

A neta

Conheci a neta de Lampião, conversei com ela cerca de uma hora no lançamento do seu livro De Virgolino a Lampião, escrito em parceria com o pesquisador do cangaço Antônio Amaury, no Mercado Público de Porto Alegre, no já distante ano de 2000. Cheguei com minha mulher no meio da tarde, em dia de semana, pois havia uma exposição paralela sobre Lampião, Maria Bonita, contendo relíquias do cangaço. A Vera saiu da área de autógrafos e se aproximou da gente, porque ouviu a Neca me chamando a atenção para a beleza brejeira de Maria Bonita. Disse um oi sorridente e falou que era neta da moça. No início ficamos meio sem jeito, mas em seguida a conversa prosperou como se fôssemos velhos vizinhos que se reencontram e começam a lembrar da parentada. - E dona Expedita tua mãe, ela lembra dos pais? - Tem uns retalhos de lembranças mas era pequena e ficava muito tempo longe deles, tempo demais pra se criar memória. Vera nos falou de coisas muito peculiares sobre as pessoas do cangaç

Irreverência

A irreverência é uma virtude perigosa, mas quando esclarecida é divina. Outro dia lendo uma das tantas referências interessantes feitas sobre a vida de Napoleão Bonaparte, deparei com uma passagem emblemática. O cadete Bonaparte cometeu uma indisciplina qualquer e seu monitor colocou o futuro conquistador militar da Europa no castigo, mal sabia ele o risco da sua coragem. A ordem era ajoelhar sobre grãos de milho junto ao canto da parede da sala de aula. Napoleão olhou o monitor dentro das pupilas e disse com voz baixa e segura: - O senhor me dê outro castigo que o farei de bom grado, mas jamais me diga para ajoelhar seja pelo que for, porque da casa de onde eu venho as pessoas somente se ajoelham diante de Deus. Tem uma passagem da Leila Diniz que é melhor ainda. Um coronel atuante nos órgãos repressivos do governo militar brasileiro, era tarado pela Leila. Certo dia mandou entregar tantas flores e bombons no camarim da atriz, que ocupou todos os espaços e atiçou o fa

Frio seco

Há uma alegria contida em cada massa de ar polar que a meteorologia anuncia. O frio seco é alma gêmea da luz difusa, juntos eles afastam a paisagem e ampliam o espaço interno da alma. O silêncio das noites frias só perde em magia para o assovio nostálgico do minuano que vem junto com as frentes mais severas. Tudo é belo e áspero, brut . O prazer de cozinhar no fogão a lenha, enquanto se bebe sem pressa no calor do lar, nosso cantinho mais particular neste vasto mundo. E o frio lá fora. A tevê a cabo, os filmes pra ver, os livros pra ler e um pouco de namoro, com aquele beijo mais demorado de sabor macio, pinot noir . Até os gatos ficam mais soberanos no frio, meu cão pastor ganha seu salvo-conduto para entrar no ambiente fechado e deita-se próximo como um lobo protetor. O frio nos faz uma nação diferente dentro do país. Sem levar em conta a história do extremo sul, uma saga de muitas idas e vindas, o clima se encarrega, por si mesmo, de nos fazer gaúchos. Nem é pr