Pular para o conteúdo principal

O jogo

O que mais gosto no mundo do futebol é sua similaridade com a vida cotidiana.
Assim como neste esporte, a vida é repleta de paixões e disputas que constroem ou destroem projetos pessoais, sonhos e reputações.

Mesmo quando a vida anda difícil sempre existe a possibilidade dela piorar e ser rebaixada para divisões mais pobres e infernais do que aquela onde estamos.
Assim também, por melhor que seja um momento de glórias ele tem um caráter efêmero, podendo ser virado do avesso após uma série de maus resultados.
Tanto quanto no futebol, precisamos criar uma história para nos dar consistência.
Um passado de conquistas pode nos alentar em fases de penúria e de fracassos, também nos impulsionando à reação para nos tornarmos dignos de melhores dias.

Na vida somos o presidente, o treinador, o time e o jogador, ao mesmo tempo.
Vivenciamos experiências semelhantes aos times de futebol, às vezes mostramos uma boa performance, mas falhamos na hora de fazer o gol. Diz a sabedoria das quatro linhas que quem não faz leva, e acabamos levando.

Noutras situações, mesmo com pouca qualidade e organização sofrível somos protegidos pelos bafejos da sorte e acabamos obtendo resultados positivos.

Mas é no íntimo privado que vivenciamos o perde e ganha do jogo.
Para o bem e para o mal, enfrentamos lesões e doenças, pênaltis perdidos, falhas no sistema defensivo que comprometem bons projetos e fases intermináveis de auto-estima baixa, solidão e ansiedade.

Para quem não ambiciona demais e gosta do jogo pelo jogo, sempre é mais fácil de lidar com as dissonâncias do destino, afinal ganhar e perder são as faces da moeda.
E se vencer é maravilhoso, vender caro a derrota também tem o seu sabor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Chamem David!

Afora ser um dos maiores talentos da pintura francesa de todos os tempos, Jacques Louis David foi sem dúvida o de maior presença nos eventos que mexeram com a vida dos franceses entre a Revolução Francesa e o Império de Napoleão Bonaparte. Um talento que sobreviveu ao seu tempo, mas sob um crivo mais severo: um artista chapa branca. Capaz de aderir a qualquer governo ou ideologia. David retratou as batalhas e símbolos dos anos de afirmação da Revolução Francesa, tão importante que quando alguma coisa espetacular estava por acontecer e merecia um registro pictórico, alguém do núcleo de Robespierre bradava: “chamem David!”. Retratou a morte de Jean Marat de forma esplêndida e, de um jeito que só ele sabia fazer, escapou da guilhotina quando seu protetor Robespierre foi condenado. Caiu nas graças de Napoleão e virou o pintor oficial do novo imperador. Seguiu sendo o pintor oficial da França até que Luís XVIII, irmão do decapitado Luís XVI, assumiu o comando da nação após o e

Só falta você

Ê-ê-ê-ê, só falta você, capricha no samba pra gente vencer! Este era o refrão do samba enredo que o último bloco de carnaval do qual fiz parte, nos meus tempos de juventude e solteirice na cidade de Canela, levou para a competição de blocos do Clube Serrano. O tema escolhido foi Luzes da Ribalta, uma homenagem a Charles Chaplin, eu fui incumbido dos desenhos das alegorias e estandartes, além de atuar como Carlitos em uma cena especialmente feita para a apresentação no clube. Por algum motivo acho que exagerei na dramaticidade, era uma cena inspirada no filme O Garoto, interpretado pelo Paulo Rizzo, pois quando encerramos a performance (que incluía um violinista tocando Smile enquanto a bateria permanecia em silêncio), irromperam os aplausos mas as pessoas choravam copiosamente. Acho que ganhamos o prêmio de criatividade e inovação, mas foi o fim da minha vida de momo. Antes participei de um bloco chamado Inimigos do Ritmo, que assumidamente não era lá estas coisas com ritmo e mar

República do Marais

Passei minha vida administrando muito pouco dinheiro, quando não à beira da mais pura dureza, portanto nunca projetei muitas viagens que não fossem terrestres. Conheço pessoas que amam viajar, quanto mais melhor, e para lugares bem diversos dentro do país ou ao redor do planeta. São descolados, aventureiros e até esportistas, gente que habita aeroportos e hotéis nos quatro cantos do mundo. Muitos viajam por razões profissionais, de forma mais ou menos frequente, enfim é um povo acostumado às viagens, aos diversos climas e fuso-horários. No meu caso, toda viagem é uma tortura que inicia à medida que sua data aproxima. Sou entocado, gosto de ficar em casa e sair de automóvel por perto para voltar logo.  Detesto voar. Sem falar nas esperas em aeroportos. Mas se o destino for Paris, gasto meu último tostão e suporto tudo com resignação. Nos últimos cinco anos, por 17 dias anuais, o bairro do Marais é meu lar em Paris. Isto é simplesmente mágico, o velho casario da Rue Charlot,