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Fogão à lenha

De todas as poucas e singelas aquisições que pude fazer após a construção do chalé de madeira em que vivo com minha mulher, meus cães, gatos e minha sogra, nada me é tão precioso quanto o fogão à lenha.

Objeto simples que passa dois terços do ano desativado, servindo de aparador, o fogão à lenha ressurge glorioso aos primeiros bafejos do ar polar, lá em meados do outono, e assim permanece resplandecente ao longo do inverno.
Este ano a estação fria começou promissora, com uma honesta e duradoura massa de ar gelado, prometendo consolidar um inverno de inspiração russa.

Perfeito para combinar com pinhão na chapa, comida na panela de ferro, vinho tinto seco e livros para o deleite das horas, apenas cuidando de manter o fogo e espiando pela varanda envidraçada o rigor climático do lado externo, que torna ainda mais aconchegante o cantinho quente e protegido do lar.

De repente uma viração.

Some o frio seco e ríspido dando lugar a uma verdadeira monção chinesa, chuva em bicas sem parar e uma temperatura morna, nem fria nem quente.
Lá se foi todo o encanto da minha estação preferida e até meu fogão ficou sem o seu aguardado uso noturno. Ler ficou sem graça e o pinhão cozido nem se aproxima da vivacidade daquele que é feito na chapa em brasa.

Até as previsões do tempo se tornaram chatas com sua monótona anunciação de mais chuva e a odiosa permanência de uma imensa massa úmida vinda do Oceano Atlântico, espécie de inimiga número um das lépidas e faceiras correntes antárticas.

Que inveja do povo da patagônia e suas longas noites geladas, comendo parrijas e bebendo vinho malbec em suas casas isoladas e aquecidas.
Alguém me falou ter ouvido uma previsão de retorno do frio polar para o início do mês de agosto, mesmo duvidando percebo uma centelha de esperança cingindo minha alma e, otimista, vou hoje mesmo comprar e estocar lenha.

Que venha frio abençoado, com todo rigor e duração dignos de um bom inverno gaúcho.

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