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Zica

Alguém aí sabe porque a gente chama uma fase desgraçada de zica?
Às vezes parece que as conexões externas se combinam de baixar um verdadeiro conjunto de ações terroristas contra nossa pobre condição humana.
Nem estou falando de eventos radicais do tipo ficar preso em uma mina escura e abafada, sob seiscentos e cinquenta metros de terra e pedra, por quase três meses.
Refiro-me à conjunção das pequenas e médias encrencas que alcançam nossas vidas sem considerar quanto organizados e previdentes possamos ser.

A tal zica.

Pois eu estou transpondo uma zica caprichosa no exato momento em que posto esta mistura de desabafo e reflexão sob à tormenta braba.
Um entrevero de eventos desafiadores me acomete feito um ataque de abelhas, uma experiência que postulo apenas como metáfora e sem nenhum desejo de provar, afinal nem preciso deste adicional ao meu purgatório particular.

Enfim, digo isto para me confortar e quem sabe confortar algumas almas amigas que eu sintonize por este canal, imersas em ambiente similar, desde já mobilizando seus espíritos para que sejamos fortes, serenos e sábios diante das nossas próprias zicas.

Lembro de uma piada que é contada há várias gerações sobre o lendário Pedro Malasarte, o qual vinha conduzindo sua pequena carroça de tomates para vender no mercado, quando é interpelado pelos cobradores de impostos.
Ouve dizer que o Rei, em terrível crise de humor, decretou que todo carregamento de produtos sem a carta de pagamento dos impostos reais seja enfiado no ânus do seu infrator.
Ao invés de ficar apavorado, Pedro Malasarte se atira ao chão dando gargalhadas. Irritados os fiscais do rei alçam Pedro pela túnica e perguntam como ele pode rir da situação em que se encontra.

Pedro se apruma e responde com irreverência:
- É que vocês me fizeram lembrar que meu compadre está vindo logo aí atrás com a maior carga de abacaxi desta temporada.

Então, como já ouvi dizer inúmeras vezes em situações diversas, sigamos cada um com os nossos próprios problemas. Por via das dúvidas mantendo o imposto do abacaxi em rigorosa pontualidade.

Comentários

Joel Hara disse…
Juarez, sua atual zica fez cócegas em minhas memórias. Lembrei que certa vez, ao aceitar uma proposta de trabalho de uma grande construtora, permaneci por um ano em Rio Branco, capital do Acre, nas mais adversas e inimagináveis situações. Depois que a obra se envolveu em um famoso escândalo político, decidi voltar à civilização. Ao meu lado no avião, meu velho escudeiro, um técnico de segurança do trabalho, comentou :
- você já percebeu que as vezes nossas escolhas (e nossos olhos míopes) nos fazem "entrar no ônibus errado" ? Eu pensei um pouco e apenas balancei afirmativamente com a cabeça.
Um grande abraço meu amigo. Desejo sucesso mesmo tendo que descascar algum abacaxi pelo caminho.
Anônimo disse…
Este post me deu uma satisfação extra por conta de retornos muito significativos. Primeiro o ótimo post do Joel que eu nem sabia ser um leitor deste humilde blog. E a também fantástica ligação que meu amigo e irmão de memórias, Edson, canelense da mais fina cepa, fez para me dizer que lê de vez em quando o que seu amigo anda contando, até pra ver se um dia conta um pouco dos velhos tempos.
Abraço a todos,
Juarez
Anônimo disse…
Mas não fiquem assustados com as zicas que acontecem. tudo passa e serve de lição.
Um filme maravilhoso que lembra muito as "Zicas" da vida é Falling Down (Um dia de fúria) de 93 do Joel Schumacher...sempre comentamos que retrata as fases de azar que a gente passa num dia, mês ou ano e só vai piorando. Mas, um dia passa.
Muito sal grosso e pensamento positivo.
Só não vale se deprimir com Tropa de Elite 2!

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