Lembro com alguma nostalgia da minha religiosidade de infância, quando estudava em um Colégio Marista e assistia às missas dominicais na Catedral de Pedra, lá pelo final da década de 1960, na pacata cidadezinha de Canela.
Com o passar dos anos fui me desobrigando da prática religiosa, porque já não era possível depositar tanta fé na Igreja Católica Apostólica Romana diante da evolução do meu conhecimento sobre a história política da Europa e das Américas, sem falar dos aspectos mais mundanos desta poderosa instituição que se outorgou a legítima porta-voz do Cristo.
O amadurecimento me tornou “um católico de recenseamento” segundo o adágio popular, aquele sujeito que não lembra mais da última vez que assistiu a uma missa, mas diante da visita do pesquisador do IBGE marca no quesito religião: católico.
O mais significativo no meu afastamento da igreja é que não perdi a crença em Deus.
Virou uma fé mais ao estilo Frei Leonardo Boff, que um dia vi sendo entrevistado pela Marília Gabriela e, ao responder como ficara sua crença na imortalidade da alma após a ruptura com o Vaticano, disse que não sentia mais necessidade daquela promessa dogmática de ressurreição, pois acreditava que a parcela de eternidade que cabe ao ser humano não está vinculada à sua individualidade.
Quis dizer que estamos vinculados à eternidade de Deus mas a morte é o nosso limite da pessoalidade. E ponto final.
Gostei desta saída teológica do Frei Leonardo, ao velho estilo do Leão da Montanha (os mais velhos sabem de quem estou falando).
Certa noite de chuva miúda há muitos anos, acampado com amigos lá no Uruguai, entramos pela madrugada debatendo as chances de brotar alguma vida além desta que a gente carrega com tantos sonhos e muitos sofrimentos. A tergiversação seguia regada a vinho de garrafão, pois éramos jovens e menos exigentes com a qualidade dos vinhos que bebíamos, sendo tinto e seco estava perfeito.
Lá pelas tantas, uma amiga que se recolhera à barraca vencida pelo sono, pelo teor alcoólico do nosso bálsamo e por certo desinteresse com o tema da transcendência, aproveita um raro momento de silêncio em nosso falatório e grita lá do fundo:
- Vão dormir seus bêbados! Esqueçam esta p... de vida além da morte, vai todo mundo virar adubo pra grama.
Afundamos no mais longo silêncio de que eu tenho recordação em toda minha vida.
E ela ainda emendou:
- E dêem graças a Deus por isto! Imaginem outra vida de encrencas sem tirar proveito do que aprendemos nesta. É fria!
Assim vou levando meu destino meio errático, agradecendo pelo milagre de cada novo dia.
Cada vez que alguma inspiração vem sugerir uma possível imortalidade individual para acalentar a minha angústia existencial, ainda ouço aquela voz forte vinda do além:
- Vão dormir seus bêbados!
Com o passar dos anos fui me desobrigando da prática religiosa, porque já não era possível depositar tanta fé na Igreja Católica Apostólica Romana diante da evolução do meu conhecimento sobre a história política da Europa e das Américas, sem falar dos aspectos mais mundanos desta poderosa instituição que se outorgou a legítima porta-voz do Cristo.
O amadurecimento me tornou “um católico de recenseamento” segundo o adágio popular, aquele sujeito que não lembra mais da última vez que assistiu a uma missa, mas diante da visita do pesquisador do IBGE marca no quesito religião: católico.
O mais significativo no meu afastamento da igreja é que não perdi a crença em Deus.
Virou uma fé mais ao estilo Frei Leonardo Boff, que um dia vi sendo entrevistado pela Marília Gabriela e, ao responder como ficara sua crença na imortalidade da alma após a ruptura com o Vaticano, disse que não sentia mais necessidade daquela promessa dogmática de ressurreição, pois acreditava que a parcela de eternidade que cabe ao ser humano não está vinculada à sua individualidade.
Quis dizer que estamos vinculados à eternidade de Deus mas a morte é o nosso limite da pessoalidade. E ponto final.
Gostei desta saída teológica do Frei Leonardo, ao velho estilo do Leão da Montanha (os mais velhos sabem de quem estou falando).
Certa noite de chuva miúda há muitos anos, acampado com amigos lá no Uruguai, entramos pela madrugada debatendo as chances de brotar alguma vida além desta que a gente carrega com tantos sonhos e muitos sofrimentos. A tergiversação seguia regada a vinho de garrafão, pois éramos jovens e menos exigentes com a qualidade dos vinhos que bebíamos, sendo tinto e seco estava perfeito.
Lá pelas tantas, uma amiga que se recolhera à barraca vencida pelo sono, pelo teor alcoólico do nosso bálsamo e por certo desinteresse com o tema da transcendência, aproveita um raro momento de silêncio em nosso falatório e grita lá do fundo:
- Vão dormir seus bêbados! Esqueçam esta p... de vida além da morte, vai todo mundo virar adubo pra grama.
Afundamos no mais longo silêncio de que eu tenho recordação em toda minha vida.
E ela ainda emendou:
- E dêem graças a Deus por isto! Imaginem outra vida de encrencas sem tirar proveito do que aprendemos nesta. É fria!
Assim vou levando meu destino meio errático, agradecendo pelo milagre de cada novo dia.
Cada vez que alguma inspiração vem sugerir uma possível imortalidade individual para acalentar a minha angústia existencial, ainda ouço aquela voz forte vinda do além:
- Vão dormir seus bêbados!
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Abraço