Talvez a diferença mais óbvia entre o estado depressivo e a vigília natural que garante nossa sobrevivência, seja uma coisa chamada “capacidade de reação”. Quem está vivo reage às pressões da vida, sejam elas quais forem. O deprimido de certa forma não está bem vivo, sua mórbida indiferença o arrasta ao sabor da corrente. Na depressão existe o torpor de se deixar morrer. Aí começa uma conversa capaz de reunir psicanalistas e filósofos por semanas a fio. Mas não estou particularmente interessado neste debate, apenas utilizo a metáfora para expressar a minha abençoada reatividade diante das ameaças que rondam meu modesto modo de vida. Abençoada porque me acorda quando os ventos sopram fortes e preciso fechar as janelas e retirar as cadeiras do alpendre, ou quando me avisa para ter calma e fé na hora de tomar decisões e me posicionar diante de situações e pessoas. Minha forma de reagir não costuma ser ostensiva, ao contrário, vem lentamente se aquecendo em banho-maria até ficar no ponto
Escrever é uma forma de fotografar a própria alma e ao ler a si próprio, depois, é possível que o autor nos cause grande estranheza.