Estou nos labirintos finais do texto de O Anjo Pornográfico, a biografia de Nelson Rodrigues revista sob o olhar arguto do seu admirador Ruy Castro. Aliás, eu cheguei a óbvia conclusão de que a grande paixão do Ruy Castro é, na verdade, o Rio de Janeiro.
Ele contou a história de Garrincha [A Estrela Solitária] e são os mágicos e trágicos momentos cariocas da vida do anjo das pernas tortas, que estabelecem a pontuação máxima da sua narrativa. Em Cármen o fenômeno se repete, pois a fase carioca da futura Pequena Notável se passa em um intenso caudal de cenas divertidas, às vezes nostálgicas, mas sempre maliciosas da Cidade Maravilhosa, no esplendor de 1930. E para coroar esta obviedade toda tem Ela é Carioca, que ainda não li.
Enfim, Nelson Rodrigues lhe caiu como luva. O Rio de Janeiro e o jornalismo das décadas em que atuaram os maiores protagonistas do empreendimento jornalístico como seu pai Mário Rodrigues e, mais tarde, Roberto Marinho, Assis Chateaubriand e Samuel Wainer, tudo isto compondo o ambiente da vida de Nelson, é com certeza um prato irresistível à literatura deste mineiro radicado na Zona Sul do Rio. No texto de Ruy, Nelson parece um personagem dele próprio, talvez um dos coadjuvantes nas crônicas de A Vida Como Ela É, ou de modo ainda mais surreal, na peça Bonitinha Mas Ordinária. É inacreditável que a peça entrou em cartaz no alvorecer de 1960 com o título de Otto Lara Resende ou Bonitinha Mas Ordinária. Uma tremenda gozação (e homenagem) de Nelson com o seu amigo jornalista e escritor Otto Lara Resende.
Nelson tinha o disparate de rechear os seus folhetins diários com personagens da vida real, especialmente seus colegas da imprensa, alguns nem tão amigos. Mais incrível ainda é que ninguém o processou nem tentou bater nele por conta desta ousadia, nem todos apreciavam suas citações, mas a maioria simplesmente se divertia e ainda fazia questão de ver seu nome no enredo, no meio de crimes passionais, encontros lascivos às escondidas e personagens obsessivos em suas fantasias de amor e sexo.
Das vítimas preferidas, Otto Lara, era o mais castigado. Nelson atribuía ao Otto toda espécie de frases bombásticas, às vezes criadas por ele mesmo, outras que Otto pronunciara ou escrevera de fato, dentre elas, a famosa máxima de que “o mineiro só é solidário no câncer”.
Pois eu sempre fui com a cara do Nelson Rodrigues, especialmente pelas suas crônicas sobre futebol, dotadas de uma irreverência quase santa e meio travestida de filosofia, apimentando um ambiente até então muito prosaico. Nelson era um gaiato.
Também gosto da sua prosa em todas as expressões, de suas revelações do lado meio pervertido que permeia as relações humanas de todas as classes sociais.
É uma caricatura genial da sociedade brasileira e ainda tem atualidade.
Por conta disto ganhou um rótulo de tarado, sujeito lascivo e fixado nas mazelas do sexo incestuoso, das taras mais chulas e das paixões tortas. Um autor menor.
Nelson era inteligente, sensível e delicado com os amigos, sua obra representava uma forma de ganhar o seu dinheiro e também de provocar a reação da hipocrisia moral.
Escritor fantástico, o talento de Nelson ultrapassou a compreensão da sua época.
Ele contou a história de Garrincha [A Estrela Solitária] e são os mágicos e trágicos momentos cariocas da vida do anjo das pernas tortas, que estabelecem a pontuação máxima da sua narrativa. Em Cármen o fenômeno se repete, pois a fase carioca da futura Pequena Notável se passa em um intenso caudal de cenas divertidas, às vezes nostálgicas, mas sempre maliciosas da Cidade Maravilhosa, no esplendor de 1930. E para coroar esta obviedade toda tem Ela é Carioca, que ainda não li.
Enfim, Nelson Rodrigues lhe caiu como luva. O Rio de Janeiro e o jornalismo das décadas em que atuaram os maiores protagonistas do empreendimento jornalístico como seu pai Mário Rodrigues e, mais tarde, Roberto Marinho, Assis Chateaubriand e Samuel Wainer, tudo isto compondo o ambiente da vida de Nelson, é com certeza um prato irresistível à literatura deste mineiro radicado na Zona Sul do Rio. No texto de Ruy, Nelson parece um personagem dele próprio, talvez um dos coadjuvantes nas crônicas de A Vida Como Ela É, ou de modo ainda mais surreal, na peça Bonitinha Mas Ordinária. É inacreditável que a peça entrou em cartaz no alvorecer de 1960 com o título de Otto Lara Resende ou Bonitinha Mas Ordinária. Uma tremenda gozação (e homenagem) de Nelson com o seu amigo jornalista e escritor Otto Lara Resende.
Nelson tinha o disparate de rechear os seus folhetins diários com personagens da vida real, especialmente seus colegas da imprensa, alguns nem tão amigos. Mais incrível ainda é que ninguém o processou nem tentou bater nele por conta desta ousadia, nem todos apreciavam suas citações, mas a maioria simplesmente se divertia e ainda fazia questão de ver seu nome no enredo, no meio de crimes passionais, encontros lascivos às escondidas e personagens obsessivos em suas fantasias de amor e sexo.
Das vítimas preferidas, Otto Lara, era o mais castigado. Nelson atribuía ao Otto toda espécie de frases bombásticas, às vezes criadas por ele mesmo, outras que Otto pronunciara ou escrevera de fato, dentre elas, a famosa máxima de que “o mineiro só é solidário no câncer”.
Pois eu sempre fui com a cara do Nelson Rodrigues, especialmente pelas suas crônicas sobre futebol, dotadas de uma irreverência quase santa e meio travestida de filosofia, apimentando um ambiente até então muito prosaico. Nelson era um gaiato.
Também gosto da sua prosa em todas as expressões, de suas revelações do lado meio pervertido que permeia as relações humanas de todas as classes sociais.
É uma caricatura genial da sociedade brasileira e ainda tem atualidade.
Por conta disto ganhou um rótulo de tarado, sujeito lascivo e fixado nas mazelas do sexo incestuoso, das taras mais chulas e das paixões tortas. Um autor menor.
Nelson era inteligente, sensível e delicado com os amigos, sua obra representava uma forma de ganhar o seu dinheiro e também de provocar a reação da hipocrisia moral.
Escritor fantástico, o talento de Nelson ultrapassou a compreensão da sua época.
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