Envelhecer é um fato inexorável.
Exceto para os que morrem antes.
Outro dia, um amigo de infância projetava o tempo que nos resta para realizar novos projetos utilizando a expressão “a gente que está na meia idade”.
Aí resolvi questionar o conceito de meia idade. Ora, estou com 51 e só conheço uma única pessoa com mais de cem anos. Esta definição de meia idade é muito otimista.
Pois bem, se a expectativa média de vida para os gaúchos, conforme foi divulgado em uma pesquisa recente, está na ordem de 75 anos, eu já adentrei pela terceira e última parte desta louca aventura que é a vida de um ser humano.
Ainda há que se considerar que, salvo os acidentes de percurso, ninguém morre por estar cheio de saúde. Ou seja, via de regra, surge uma doença que ao final de seu curso desemboca na morte do indivíduo. Este processo costuma variar de caso para caso, mas vamos especular que na velhice seja razoável passar uns cinco anos sob um calvário de remédios, exames médicos e eventuais baixas em hospital.
Bem, neste caso as contas mudam para pior e, o tempo estimado que me resta para jogar sinuca, comer uma carne gorda de vez em quando, jogar um futebol leve no fim de semana e caminhar com meus cachorros, já nem chega a ser de vinte anos. Ai, ai.
Na verdade a gente tem tanta coisa por fazer na vida que seria necessário ao menos um século e meio de existência. Talvez um dia seja possível, mas eu não estarei aqui.
Então me dei conta de que os budistas tibetanos estão certos, o desapego é a única e inteligente atitude para se lidar com a nossa mortal condição, porque não tem jeito, um dia a vida se vai e tudo aquilo que julgamos possuir deixa de nos pertencer.
Deixaremos herdeiros ou não, deixaremos bens ou não, mas nada poderá comprar a nossa imortalidade, nem a Academia Brasileira de Letras.
Espero viver o tempo que resta com a maior leveza possível, estou recém aprendendo a ser velho. Pode até parecer cedo, mas não é.
Daqui dez anos eu serei um senhor de 61 anos, vai ser meio ridículo bancar o garotão. Provavelmente terei que me recolher um pouco para conviver bem com as pessoas mais jovens, evitando competir com os interesses da sua geração.
Tudo bem, contanto que eu esteja bem lúcido e capacitado para as coisas essenciais.
Aliás, quais são as coisas verdadeiramente essenciais para um velho?
A maturidade física, mental e emocional não segue um padrão invariável a todos, mas em algum momento, a idade se revelará. Um joelho doente sentenciando o fim do jogo de bola, a imagem implacável do ancião diante do espelho e a libido que cede lugar ao definitivo e encravado conjunto de dores pelo corpo. Não é fácil envelhecer.
O jeito é ter paciência, muita paciência, uma virtude que precisa ser treinada.
Por enquanto sigo vivendo esta minha meia idade, mas já estou lendo atentamente o livro Os Portões da Prática Budista, do tibetano Chagdud Tulku Rinpoche.
Praticar o desapego fará parte da minha agenda diária, mas é claro, do meu jeito.
Exceto para os que morrem antes.
Outro dia, um amigo de infância projetava o tempo que nos resta para realizar novos projetos utilizando a expressão “a gente que está na meia idade”.
Aí resolvi questionar o conceito de meia idade. Ora, estou com 51 e só conheço uma única pessoa com mais de cem anos. Esta definição de meia idade é muito otimista.
Pois bem, se a expectativa média de vida para os gaúchos, conforme foi divulgado em uma pesquisa recente, está na ordem de 75 anos, eu já adentrei pela terceira e última parte desta louca aventura que é a vida de um ser humano.
Ainda há que se considerar que, salvo os acidentes de percurso, ninguém morre por estar cheio de saúde. Ou seja, via de regra, surge uma doença que ao final de seu curso desemboca na morte do indivíduo. Este processo costuma variar de caso para caso, mas vamos especular que na velhice seja razoável passar uns cinco anos sob um calvário de remédios, exames médicos e eventuais baixas em hospital.
Bem, neste caso as contas mudam para pior e, o tempo estimado que me resta para jogar sinuca, comer uma carne gorda de vez em quando, jogar um futebol leve no fim de semana e caminhar com meus cachorros, já nem chega a ser de vinte anos. Ai, ai.
Na verdade a gente tem tanta coisa por fazer na vida que seria necessário ao menos um século e meio de existência. Talvez um dia seja possível, mas eu não estarei aqui.
Então me dei conta de que os budistas tibetanos estão certos, o desapego é a única e inteligente atitude para se lidar com a nossa mortal condição, porque não tem jeito, um dia a vida se vai e tudo aquilo que julgamos possuir deixa de nos pertencer.
Deixaremos herdeiros ou não, deixaremos bens ou não, mas nada poderá comprar a nossa imortalidade, nem a Academia Brasileira de Letras.
Espero viver o tempo que resta com a maior leveza possível, estou recém aprendendo a ser velho. Pode até parecer cedo, mas não é.
Daqui dez anos eu serei um senhor de 61 anos, vai ser meio ridículo bancar o garotão. Provavelmente terei que me recolher um pouco para conviver bem com as pessoas mais jovens, evitando competir com os interesses da sua geração.
Tudo bem, contanto que eu esteja bem lúcido e capacitado para as coisas essenciais.
Aliás, quais são as coisas verdadeiramente essenciais para um velho?
A maturidade física, mental e emocional não segue um padrão invariável a todos, mas em algum momento, a idade se revelará. Um joelho doente sentenciando o fim do jogo de bola, a imagem implacável do ancião diante do espelho e a libido que cede lugar ao definitivo e encravado conjunto de dores pelo corpo. Não é fácil envelhecer.
O jeito é ter paciência, muita paciência, uma virtude que precisa ser treinada.
Por enquanto sigo vivendo esta minha meia idade, mas já estou lendo atentamente o livro Os Portões da Prática Budista, do tibetano Chagdud Tulku Rinpoche.
Praticar o desapego fará parte da minha agenda diária, mas é claro, do meu jeito.
Comentários
O que está havendo que está escrevendo mais seguido? Foi o puxão de orelha?