Ele viveu exatos quatorze anos, seis meses e dezesseis dias.
Gorbi era um pastor-alemão de pelagem muito negra e os olhos amarelados de lobo. Seu pelo não era propriamente preto, se aproximava mais do grafite, sendo quase preto, com fios grossos e espetados na garupa e macios nas laterais do tronco.
Muito grande, belo e assustador, mas absolutamente tranqüilo.
Certa vez interrompi nossa corrida dominical pelo parque, sim o Gorbi também era meu companheiro de malhação, para assistir um grupo de patinadores que iniciava uma apresentação ao ar livre. Mantive-o preso à guia, imediatamente às minhas costas, quando de repente ouvi o grito desesperado de uma mulher. Seu bebê com pouco mais de um aninho havia se afastado da mãe e caíra sobre o Gorbi, agarrando-se ao focinho do cão. Naturalmente a mãe previu o pior. Mas o Gorbi apenas grunhiu baixinho e tascou uma lambida molhada na cara da criança.
Virou o herói do parque, reunindo mais público para ver o “lobo bom” do que o show de patinação.
A vida do mais fantástico cachorro que conheci foi cheia de eventos memoráveis.
Dono de um fã-clube que reunia crianças, adultos e velhos, ao mesmo tempo em que assustava com sua aparência de lobisomem de cinema, encantava pela paz com que aceitava os carinhos, às vezes desajeitados, do seu séqüito de admiradores.
Mas ninguém amou e admirou mais o Gorbi do que eu e a Neca, minha mulher.
Ele foi o centro de nossas atenções por quase quinze anos, esteve com a gente em dias de imensas alegrias e outros de dor e tristeza. Testemunhou nosso difícil começo na vida profissional, esteve junto nos anos de duras batalhas e na consolidação do nosso maior sonho, a construção da nossa casa.
Tenho viva a memória dele deitado ao lado da cama da Neca nos dias em que ela se recuperava de uns percalços de saúde, quieto com olhar recolhido e a cabeça colada no rosto da dona. Aliás, o Gorbi só tinha olhos para a Neca, eu era segunda opção.
Lembro também de quando o escolhi na vasta ninhada de pastores, o primeiro filhote a ser vendido pela bagatela de 75 dólares, preço especial pela ausência do pedigree.
Durante um mês, passeamos com ele nos braços para todos os lugares, exibindo-o como um troféu. Sua beleza era cativante, parecendo mais um filhote de urso do que um cachorrinho, na época era cinza claro e tinha os olhos azuis.
Apesar de minha origem interiorana, com parte da família morando no meio rural, onde a convivência com cachorro, gato, cavalo, vaca, porco e galinha, sempre foi natural, eu não me lembro de ter uma ligação mais estreita com os cães. Com o Gorbi percebi o quanto um animal pode enriquecer a vida da gente, pela forma como é capaz de amar tão intensamente seus donos, uma cumplicidade sem palavras, mas cheia de atenção.
Até na morte o Gorbi foi único, acordou na manhã fria de maio, saiu do canil para que a Neca fizesse a rápida faxina diária e retornou para comer a ração recém servida por sua dona. Exatamente na entrada do seu covil, o gigante desabou em absoluto silêncio. Havia partido.
Gorbi era um pastor-alemão de pelagem muito negra e os olhos amarelados de lobo. Seu pelo não era propriamente preto, se aproximava mais do grafite, sendo quase preto, com fios grossos e espetados na garupa e macios nas laterais do tronco.
Muito grande, belo e assustador, mas absolutamente tranqüilo.
Certa vez interrompi nossa corrida dominical pelo parque, sim o Gorbi também era meu companheiro de malhação, para assistir um grupo de patinadores que iniciava uma apresentação ao ar livre. Mantive-o preso à guia, imediatamente às minhas costas, quando de repente ouvi o grito desesperado de uma mulher. Seu bebê com pouco mais de um aninho havia se afastado da mãe e caíra sobre o Gorbi, agarrando-se ao focinho do cão. Naturalmente a mãe previu o pior. Mas o Gorbi apenas grunhiu baixinho e tascou uma lambida molhada na cara da criança.
Virou o herói do parque, reunindo mais público para ver o “lobo bom” do que o show de patinação.
A vida do mais fantástico cachorro que conheci foi cheia de eventos memoráveis.
Dono de um fã-clube que reunia crianças, adultos e velhos, ao mesmo tempo em que assustava com sua aparência de lobisomem de cinema, encantava pela paz com que aceitava os carinhos, às vezes desajeitados, do seu séqüito de admiradores.
Mas ninguém amou e admirou mais o Gorbi do que eu e a Neca, minha mulher.
Ele foi o centro de nossas atenções por quase quinze anos, esteve com a gente em dias de imensas alegrias e outros de dor e tristeza. Testemunhou nosso difícil começo na vida profissional, esteve junto nos anos de duras batalhas e na consolidação do nosso maior sonho, a construção da nossa casa.
Tenho viva a memória dele deitado ao lado da cama da Neca nos dias em que ela se recuperava de uns percalços de saúde, quieto com olhar recolhido e a cabeça colada no rosto da dona. Aliás, o Gorbi só tinha olhos para a Neca, eu era segunda opção.
Lembro também de quando o escolhi na vasta ninhada de pastores, o primeiro filhote a ser vendido pela bagatela de 75 dólares, preço especial pela ausência do pedigree.
Durante um mês, passeamos com ele nos braços para todos os lugares, exibindo-o como um troféu. Sua beleza era cativante, parecendo mais um filhote de urso do que um cachorrinho, na época era cinza claro e tinha os olhos azuis.
Apesar de minha origem interiorana, com parte da família morando no meio rural, onde a convivência com cachorro, gato, cavalo, vaca, porco e galinha, sempre foi natural, eu não me lembro de ter uma ligação mais estreita com os cães. Com o Gorbi percebi o quanto um animal pode enriquecer a vida da gente, pela forma como é capaz de amar tão intensamente seus donos, uma cumplicidade sem palavras, mas cheia de atenção.
Até na morte o Gorbi foi único, acordou na manhã fria de maio, saiu do canil para que a Neca fizesse a rápida faxina diária e retornou para comer a ração recém servida por sua dona. Exatamente na entrada do seu covil, o gigante desabou em absoluto silêncio. Havia partido.
Comentários
Diz o ditado: É melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro.
Melhor ainda é ter um amigo que gosta de cachorro.
Espero que leias este comentário (oh, gentinha difícil esta...)
João Machado.
Jornalista
Não sou anônimo, apenas não me lembro a senha do meu www.poetadon.blogspot.com