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Mostrando postagens de maio, 2008

Modismos

Cada parcela da civilização é um reflexo da sua cultura e das idéias que predominam em determinado período e local da história. Assim mudam os tempos, surgem novos hábitos e, com eles, os modismos. Não me refiro apenas ao jeito de se vestir, as manias de consumo, as preferências por isto ou aquilo como na decoração dos ambientes, mas sim a determinados estilos pessoais e algumas habilidades que ganham ênfase em épocas específicas. Dentre as modas de hoje, tem uma que me chama atenção pelo peculiar sucesso que faz entre os jovens casais emergentes. É tal onda do homem que “sabe cozinhar”. Não me refiro ao domínio herdado de ancestrais em reproduzir receitas antigas da família ou da sua região de origem. A moda que me refiro é a do homem metido a chef, o gourmet sofisticado que entende de vinhos e de temperos exóticos. Um personagem comum em nossa era. Este tipo de cozinheiro não prepara refeições, na verdade ele executa uma arte cheia de segredos na elaboração de pratos, que refere como

Visitas

Visitar os outros é uma arte. Uma frase ancestral diz que “todo hóspede é sagrado porque ele tem data para ir embora”. Sábio pensamento, saber a hora de dar adeus é tudo. Cada indivíduo é um universo de manias, de coisas que o agradam e de outras que o fazem perder o bom humor, ou pior ainda, que revelam sua monstruosidade. Minha mãe sempre foi um poço de paciência com as visitas e eram monumentais as visitas na casa da minha infância. Um exército de parentes próximos, vivendo por perto e dispostos a fazer visitas. Lembro do meu terror aos sábados, quando os pães caseiros fresquinhos esfriavam sob a toalha de pano xadrez e o cheirinho da casa recém-encerada atiçava ainda mais o meu desejo voraz de partir um pão fumegante e colocar uma generosa camada de nata fresca para comer, não uma, mas várias fatias. Mas aí chegavam as visitas. Do nada, em bandos sorridentes e esfomeados. Um desespero. Eu preferia me consumir de fome a expor aquela linda fornada de pães aos intrusos, porém minha mã

Pobreza Educativa

Pobreza Educativa é uma brincadeira particular que eu e o Pablo, meu filho, criamos para dar um sentido mais otimista à falta de dinheiro. Por exemplo, se ele pedir um par de tênis como presente de aniversário e eu comprar uma marca diferente da sua preferência, ao invés de frustração e sorriso amarelo a gente acaba dando boas risadas da situação. Moral da história, nem sempre é possível presentear com aquele Nike de última geração, mas com espírito criativo sempre é plausível de encontrar um Acics bem maneiro. Com a diferença de investimento ainda dá para bancar aquela saída e jogar uma sinuquinha. No final das contas, é possível economizar um bom dinheiro sem abrir mão das cevas e das fritas. Claro que isto funciona com o Pablo, uma criatura que já nasceu madura e consciente da vida como ela é. Ser meu filho é uma experiência e tanto. A partir da idéia de viver de acordo com aquilo que se pode sem fazer dramas, nos divertimos analisando quase tudo a partir do filtro da Pobreza Educat

O fim da lucidez

Na esteira do discurso politicamente correto emergiu um imenso oceano de conceitos que beiram o absurdo, de tal forma que o isolamento do indivíduo lúcido se assemelha ao terror da protagonista de Ensaio Sobre a Cegueira, romance de José Saramago. No livro, a personagem se vê cercada por uma galopante epidemia de cegueira e simula a própria perda da visão para ajudar seu marido, realmente acometido do mal, pois as pessoas cegas passaram a ser apartadas da “sociedade sadia” em campos de concentração improvisados. Logo não haveria de ter espaço para abrigar as hordas que acorriam a essas prisões. Por fim só restaria o caos e o desespero com uma cegueira branca se apoderando de todos. De volta ao mundo real, tento ser otimista com relação à inteligência humana e tenho a convicção de que só ela poderá nos resgatar do atoleiro dos discursos idiotizados e suas aplicações simplistas, que viraram uma praga da vida contemporânea. E do quê estou falando? Das abordagens hipócritas, tais como: cha