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Velhas fotos coloridas

 Hoje aproveitei a chuva e o tempo gris para remexer nos velhos arquivos fotográficos que a Neca, minha namorada desde as Diretas Já, guarda com todo zelo e carinho. Minha busca, os amigos e os encontros com eles. E lá estavam, uma profusão de conexões, quase todas em celebrações diversas. É incrível como fazíamos festas, a vida era uma festa. E olha que problemas existiam e nunca foram poucos, mas tínhamos a juventude e o seu apetite insaciável por viver e se reunir. As fotos ainda conservam, em sua maioria, um colorido vivo impresso no papel fotográfico. Ninguém portava telefone celular, quando muito uma  câmera fotográfica ou uma filmadora. E a gente dançava, se fantasiava, ia para a praia em bando, comíamos muito, jogávamos qualquer coisa para passar as tardes de chuva enquanto alguém preparava bolinhos, sonhos, bolos e, é claro, pipoca. Bebíamos, éramos beberrões de cerveja, de batidinhas e boa parte de nós, fumava. Alguns, eu entre eles, não somente cigarros. E a gente v...
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Canela minha cidade

Canela é um município de forte atuação turística, encravado no alto da Serra Gaúcha, tem belezas naturais famosas e também tem suas qualidades culturais, a exemplo de um jornal que sobrevive ao tempo, mudaram os proprietários, mas o  Jornal Nova Época, agora também na internet e nos celulares, mantém a sua versão impressa. O acervo do jornal contém milhares histórias dos canelenses, tudo em ordem cronológica por várias gerações. Memória viva. A cidade também preservou a Escola Marista, um precioso centro educacional situado logo atrás da belíssima Catedral de Pedra, além de escolas municipais bem cuidadas e com ótimo padrão de ensino. Até bons cursos superiores oferecem graduação no setor do turismo. Mas o crescimento, embora desejado, fez com que aquela cidade onde as pessoas se encontravam na rua, no dia a dia, desaparecesse. A maioria dos moradores antigos ainda mora por lá, mas exceto aqueles que mantiveram seus vínculos, o restante raramente revê amigos da escola, dos bailes n...

Esperando o Outono

Um poeta já disse que o outono é uma estação da alma, sem dúvida uma bela analogia. Mas eu gosto mesmo é do outono que esfria, que tem dias e noites de céu limpo, de uma luz especial que dá uma leveza diáfana a toda paisagem e que traz os cáquis e os pinhões. Até agora nada, parece mais um verão com ressaca e é assim mesmo, chegará no seu devido tempo e seguirá até a mudança mais radical, passando daí ao status de inverno. Gosto do inverno mas minha conexão raiz é com seu irmão mais velho, o outono. Então o espero com o ventilador ligado e o coração sereno, quando eu sentir que o ventinho está gelando as costas, saberei... - É chegado o Outono.

Cine Clube da Neca

Voltei a ter DVD. A Neca se puxou, tirou do arquivo o velho Sony e instalou na TV da sala. Tudo porque fiquei sem o aplicativo que me permitia espelhar o smartphone na telona. Um bug mundial mas o meu não voltou mais. Tevê moderna e smart somente no quarto, mas é na sala que gosto de ver filmes e também de usar internet quando trabalho no meu notebook, o sinal é mais forte. Bem, agora me sinto um pinto no lixo, pois vou rever os clássicos que nunca deixo de gostar, começo hoje com Amélie Poulain e sigo com outras preciosidades que a Neca, sempre ela, guardou com todo carinho. Mesmo recuperando meu Chromecast não vou mais desinstalar o DVD, cansei dos filmes previsíveis da Netflix e não tenho recursos para assinar vários streamings para catar meia dúzia de bons filmes. Me contento com as obras incríveis das últimas cinco décadas e assim fujo um pouco da atualidade que anda chata e carregada de maus presságios. Como dizia o Nei Lisboa nos bons tempos: "pra viajar no cosmos não preci...

Eu, Papa Francisco e Albert Camus.

Neca e eu passávamos uma semana em Buenos Aires quando Jorge Bergólio foi eleito Papa Francisco uns dias antes. Era o assunto na cidade inteira. No restaurante, na feira de rua, nos cafés e até nos cemitérios. E o taxista folgado que nos levava até a Feira de San Telmo: - Cómo usted se siente depués que Dieguito superó a Pelé, ahora habrá que rezarle a un Papa Argentino? - Menos mal que sou agnóstico e nunca gostei de futebol. Risadas gerais, afinal como debater com um portenho possuído por tanta emoção. Doze anos se passaram, nunca mais estive na encantadora Buenos Aires e o Papa Francisco luta para seguir sua missão, mas vê São Pedro abrindo aquela porta famosa e o convidando a entrar. Aprendi a gostar e admirar este jesuíta carismático, inteligente, bem humorado e líder reformador do pontificado. Neste meio tempo realmente me tornei agnóstico, ou seja acho difícil crer em Deus mas não nego a possibilidade de que exista. Passei para o time dos existencialistas quando descobri o almof...

Ainda Estou Aqui

Com minhas desculpas ao Marcelo Rubens Paiva e ao Walter Salles, me utilizo do título do livro/filme tão em pauta nestes dias que antecedem a entrega do Oscar, para marcar meu retorno à rotina de escrever no meu blog. Foi difícil voltar. A poeira cobriu tudo com grossas camadas e para deixar o ambiente limpo, arejado e propício para este retorno foi preciso uma determinação férrea e uma coerência refletida, qual seja a de retomar o antigo blog e seguir a partir dele, porque o hiato de tempo sumido foi grande, parecia definitivo mas não foi e, ao retomar as crônicas quero preservar o que eu já havia feito. Os tempos mudaram, eu mudei em muitos aspectos, mas ainda sou a mesma pessoa, esta é a coerência que desejo preservar. A grande novidade é que neste ínterim, eu envelheci, não como metáfora mas como fato da vida. Escrevi minhas últimas crônicas aos cinquenta e poucos anos, retorno agora já bem próximo dos setenta, antes em plena atividade profissional e morando em Porto Alegre, agora ...

Chamem David!

Afora ser um dos maiores talentos da pintura francesa de todos os tempos, Jacques Louis David foi sem dúvida o de maior presença nos eventos que mexeram com a vida dos franceses entre a Revolução Francesa e o Império de Napoleão Bonaparte. Um talento que sobreviveu ao seu tempo, mas sob um crivo mais severo: um artista chapa branca. Capaz de aderir a qualquer governo ou ideologia. David retratou as batalhas e símbolos dos anos de afirmação da Revolução Francesa, tão importante que quando alguma coisa espetacular estava por acontecer e merecia um registro pictórico, alguém do núcleo de Robespierre bradava: “chamem David!”. Retratou a morte de Jean Marat de forma esplêndida e, de um jeito que só ele sabia fazer, escapou da guilhotina quando seu protetor Robespierre foi condenado. Caiu nas graças de Napoleão e virou o pintor oficial do novo imperador. Seguiu sendo o pintor oficial da França até que Luís XVIII, irmão do decapitado Luís XVI, assumiu o comando da nação após o e...