Quem instigou as narrativas relatadas nesta crônica foi minha amiga Michele Philomena, uma jovem artista plástica com uma certa vocação para a investigação dos mistérios espirituais. Pois a Michele gosta de por à prova o ceticismo dos seus amigos e, às vezes, quer saber se porventura alguém já vivenciou uma experiência definível como sobrenatural. Algumas são contadas a seguir. Lembrei do dia em que me despedi do Edson, amigo que estava de partida para o Rio de Janeiro e faria o trajeto de motocicleta. Saí do escritório e fomos conversar à beira do Guaíba. A maior parte do tempo ele falou da sua rotina como mergulhador em águas profundas, na Bacia de Campos, um serviço radical de manutenção nas bases das plataformas de petróleo. Mencionou a escuridão, seus dias de confinamento nas câmaras de descompressão e algumas visões, estranhas experiências de quando se encontrava trabalhando dentro do escafandro, em mar profundo. Algo que ia além de peixes estranhos e luminosos. Passara a estudar
Escrever é uma forma de fotografar a própria alma e ao ler a si próprio, depois, é possível que o autor nos cause grande estranheza.