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Mostrando postagens de setembro, 2009

Saudade

“O fim do termo saudade como um charme brasileiro de alguém sozinho a cismar”, esta frase é um dos diamantes da poesia de Belchior, o grande compositor nordestino recentemente guindado à mídia por estar desaparecido e logo encontrado no Uruguai, onde concedeu entrevista para imprensa anunciando um novo trabalho a caminho. Independentemente deste sumiço ter sido uma estratégia de marketing ou decorrência do acúmulo de problemas pessoais do autor, a obra de Belchior é muito respeitável. Entre tantas qualidades, ela retrata ângulos preciosos de diferentes faces deste sentimento que denominamos saudade. Em outra canção ele diz que “por força deste destino um tango argentino me vai bem melhor que um blues”, ou ainda, naquela letra imortalizada pela voz de Elis Regina “na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói mais”. Sou um saudosista. Tenho saudade das fogueiras gigantescas que minha Escola Marista preparava para a Festa Junina, com a participação dos guris do colégio, que divi

Malhando

Está fazendo dois meses e duas semanas que frequento uma academia de ginástica. Não reparem, mas pessoas da minha idade falam assim “academia de ginástica”. Três vezes por semana. E o mais inacreditável: estou gostando. É bem verdade que não foi nada alentador nos primeiros dias. Quando cheguei me colocaram em uma esteira eletrônica, acertaram a velocidade recomendada e me deixaram mais desconfiado que cachorro de brigadiano em dia de Grenal. Até então, minha experiência com esteiras se restringia aos três testes ergométricos que realizei em épocas distintas por conta de exames de saúde e, assim mesmo, com as mãos bem agarradas às laterais do trem para não sair dos trilhos. Resultado: desci da geringonça, o mundo continuou a rodar abaixo dos meus pés e cruzei tropeçando por cima do aparelho ao lado. Um mico total. Tive esperanças de que ninguém tivesse visto. A Neca viu. E riu muito. Abstraí e segui em frente. Agora estou mais a vontade, quase um rato de academia. Mas ainda não me acos

O diabo

Lúcifer, o anjo das trevas. O exilado. Todo católico da minha geração cresceu sob a ameaça implacável de Satã em suas múltiplas manifestações, presente na cátedra da fé desde as primeiras catequeses. Sempre achei a estampa do diabo excessiva e caricata demais para expressar uma persona tão implacável e temida. Por certo merecia uma imagem mais complexa e melhor concebida de embalagem, com perdão da terminologia mercadológica. Porém outros cristãos e alguns poetas agnósticos já haviam abordado este paradigma muito antes de mim, este pessoal antigo é terrível, e dentre eles, o alemão Goethe, construiu lá pelo início do século dezenove, um demônio deveras respeitável. Fausto o protagonista que dá título à sua obra, é o homem que vende a alma para o diabo em troca de recuperar a juventude, obter riqueza e o amor de uma bela mulher. A ironia do autor é que Fausto é um homem de bem, já entrado na velhice, mas que se torna cobaia de uma aposta feita entre Deus e Lúcifer. Afinal, se Lúcifer fo