A coisa está feia. Não bastassem as sequelas da crise econômica mundial que nos fez entrar o ano com o coração na mão e a cabeça cheia de incertezas, sobreveio-nos o inverno mais frio das últimas décadas. Depois a chuva, o calorão, mais chuva e o frio retornando. O clima hostil não chegou sozinho, se fez acompanhar por uma gripe nova, mortífera e sorrateira, que varou nossas fronteiras como um tango lúgubre e nos despertou para a macabra realidade, onde a vida e a morte dançam de rosto colado. Vamos sobreviver, tenho esperanças, e lembrar daquele ano de 2009 como um tempo negro que nossas almas atravessaram em arrastada procissão. Outro dia, quando os ventos loucos já sopravam pela pampa gaúcha, reuni alguns dos meus amigos para confraternizar à beira do fogo, regada a bom vinho e saboreada em tiras de picanha, pinhão na chapa e caldo de feijão. Lá pelas tantas, repassando os convidados para oferecer o pinot noir que descobri por acaso e se tornou o meu bálsamo na tormenta, percebo que
Escrever é uma forma de fotografar a própria alma e ao ler a si próprio, depois, é possível que o autor nos cause grande estranheza.