Algumas pessoas são especialmente importantes em nossas vidas. Meu avô materno, o Velho Alfredo, influenciou definitivamente o meu modo de lidar com a tal da existência que, conforme ele costumava dizer, a gente ganha de presente sem pedir e um dia nos é retirada sem que tenhamos chance de apelar. Aliás, Velho Alfredo é um ícone na memória da maioria dos seus mais de cinquenta netos, dos quais sou o primeiro da turma e, por isto, tive a oportunidade de conviver por mais tempo com este saudoso tropeiro da serra gaúcha. Meu avô viveu seus últimos anos em um rancho de madeira onde as frestas deixavam varar o gélido vento minuano, tanto que seu catre ficava estrategicamente protegido por um enorme e antigo roupeiro. Na pequena cozinha o assoalho dava lugar a um piso de terra batida, onde um indefectível fogãozinho à lenha garantia um calor mínimo para que suportasse o inverno. Velho Alfredo morreu no fim do século passado com seus noventa anos, quase preenchendo por completo este segmento
Escrever é uma forma de fotografar a própria alma e ao ler a si próprio, depois, é possível que o autor nos cause grande estranheza.